Há 55 anos, a CIA assassinou Patrice Lumumba, líder revolucionário congolês

imagemResumen Latinoamericano / 18 de janeiro de 2016 – Há 55 anos, agentes dos serviços secretos belgas e da CIA introduziram o corpo de Patrice Lumumba em um barril de ácido e o fizeram desaparecer. O Congo poderia ter rumado para uma democracia popular mas, pelo contrário, ingressou em uma das piores ditaduras africanas do século XX.

Foi o primeiro chefe de governo da República Democrática do Congo. Buscou a descolonização de seu país das mãos da Bélgica, destruir totalmente o poder colonialista europeu presente na África, erradicar o ultraje e o espólio que durante séculos sofreu o continente.

Em 1958, se orientou decididamente para a luta pela descolonização do Congo por conta das escassas possibilidades de ação social que permitiam as autoridades coloniais belgas e, assim, fundou o Movimento Nacional Congolês, partidário de criar um Estado independente e laico, cujas estruturas políticas unitárias ajudaram a superar as diferenças tribais, criando um sentimento nacional.

Após a independência em relação à Bélgica, em 1960, o Congo celebrou eleições e Patrice Lumumba, líder da luta independentista, chegou à presidência com um programa nacionalista e de esquerda.

Lumumba não pode impedir que a retirada do exército belga desse lugar ao conflito político com golpes militares, ataques à população branca e distúrbios generalizados.

A rebelião foi especialmente grave na região mineradora de Katanga, que se declarou independente, sob a liderança de Tschombé. Lumumba denunciou que esta secessão foi promovida pelo governo belga em defesa dos interesses da companhia mineradora que explorava as jazidas da região.

Lumumba pediu ajuda à ONU, que enviou um pequeno contingente de «capacetes azuis» incapazes de restabelecer a ordem e, por isso, pediu o apoio da União Soviética, com o qual ameaçou diretamente os interesses ocidentais.

O presidente dos EUA, Eisenhower, deu, então, a ordem para eliminá-lo. E enviou o agente da CIA, Frank Carlucci, que depois seria secretário de Defesa de Ronald Reagan.

Um golpe de Estado derrubou Lumumba, em setembro de 1960. Foi brutalmente torturado e fuzilado por mercenários belgas, que dissolveram seu corpo em ácido e espalharam seus restos mortais para que não fosse reconhecido.

Há pouco tempo, em novembro de 2001, o parlamento da Bélgica reconheceu a responsabilidade de seu Estado na morte de Patrice Lumumba.

Foi assassinado dessa maneira por conta da grande batalha política e ideológica que travou para apresentar a unidade como instrumento e via para a conquista da libertação por parte dos povos africanos dos jugos coloniais, que se mantinham no momento em que liderou sua luta e que ainda se mantém, incluindo entre eles o neocolonialismo nascente e o imperialismo norte-americano que já começava a ser introduzido nos países africanos para somar-se aos saqueadores das riquezas desse continente.

O pensamento de Patrice Lumumba constituiu um perigo para as potências ocidentais exploradoras dos povos africanos. Meio século depois, as autoridades estadunidenses reconheceram sua implicação na derrubada e assassinato do líder congolês.

Telesur

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2016/01/18/hace-55-anos-la-cia-asesino-a-patrice-lumumba-lider-revolucionario-congoles/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)


 

Discurso da cerimônia de proclamação da independência do Congo

30 de junho de 1960

Patrice Lumumba

Homens e mulheres do Congo,

Vitoriosos lutadores da independência,

Os saúdo em nome do governo congolês.

Peço a todos vocês, meus amigos, que lutaram incansavelmente em nossas fileiras, que marquem este 30 de junho de 1960, como uma data ilustre que ficará para sempre gravada em seus corações. Uma data cujo significado orgulhosamente explicarão a seus filhos, para que eles possam contar a seus netos e bisnetos a gloriosa história de nossa luta pela liberdade.

Ainda que esta independência do Congo esteja sendo proclamada hoje em acordo com a Bélgica, um país amistoso com o qual estamos em igualdade de termos, nenhum congolês esquecerá que a independência foi conquistada com luta, uma luta perseverante e inspirada, que ocorreu no dia a dia. Uma luta em que não nos intimidamos pela privação ou pelo sofrimento e não poupamos força ou sangue.

Esteve cheia de lágrimas, fogo e sangue. Estamos profundamente orgulhosos de nossa luta, porque era justa, nobre e indispensável para colocar fim à humilhante escravidão que nos foi imposta.

Essa foi nossa sorte durante os oitenta anos de domínio colonial e nossas feridas estão muito recentes e são demasiado dolorosas para serem esquecidas.

Experimentamos trabalho forçado em troca de um pagamento que não nos permitia satisfazes nossa fome, nos vestir, ter uma casa decente ou criar nossos filhos como seres amados.

De manhã, de tarde e de noite éramos submetidos a provocações, insultos e golpes porque éramos “negros”. Quem poderá esquecer que o negro era tratado como “tu”, não porque fosse um amigo, mas porque o respeitoso “você” estava reservado para o homem branco?

Vimos nossas terras confiscadas em nome de leis aparentemente justas, que reconheciam apenas o direito da força.

Não esquecemos que a lei nunca foi a mesma para o branco e para o negro, que era indulgente para uns, e cruel e desumana para os outros.

Experimentamos sofrimentos atrozes, fomos perseguidos por convicções políticas e crenças religiosas, e exilados de nossa terra natal: nossa sorte foi pior que a própria morte.

Não esquecemos que nas cidades as mansões eram para os brancos e os barracos em ruínas para os negros; que um negro não era admitido nos cinemas, restaurantes e lojas reservadas para os “europeus”; que um negro viajava no compartimento, sob os pés dos brancos em suas cabines de luxo.

Quem poderá esquecer os tiroteios que mataram tantos de nossos irmãos, ou as celas nas quais eram jogados sem piedade aqueles que não estavam dispostos a se submeter por mais tempo ao regime de injustiça, opressão e exploração usado pelos colonialistas como ferramenta de sua dominação?

Tudo isso, meus irmãos, nos trouxe um sofrimento indizível.

Porém, nós que fomos escolhidos pelos votos de seus representantes, representantes do povo, para guiar a nossa terra natal, nós que sofremos de corpo e alma, nós dizemos que de agora em diante tudo isso acabou.

A República do Congo foi proclamada e o futuro de nosso amado país está agora nas mãos de seu próprio povo.

Irmãos, comecemos juntos uma nova luta, uma luta sublime que levará nosso país rumo a paz, prosperidade e grandeza.

Juntos estabeleceremos justiça social e asseguraremos para cada homem uma remuneração justa por seu trabalho.

Mostraremos ao mundo o que o homem negro pode fazer quando trabalha em liberdade, e faremos do Congo o orgulho da África.

Vigiaremos que as terras de nosso país nativo realmente beneficiem seus filhos.

Revisaremos todas as velhas leis e as converteremos em novas, que sejam justas e nobres.

Deteremos a perseguição ao livre pensamento. Vigiaremos que todos os cidadãos desfrutem em toda sua plenitude das liberdades básicas previstas pela Declaração dos Direitos Humanos.

Erradicaremos toda discriminação, qualquer que seja sua origem, e asseguraremos para todos um caminho pela vida adequado a sua dignidade humana e que corresponda a seu trabalho e sua lealdade com o país.

Instituiremos no país uma paz baseada não nas armas e nas baionetas, mas na concórdia e na boa vontade.

E em tudo isto, meus queridos compatriotas, podemos confiar. Não só em nossas próprias forças enormes e riqueza imensa, mas também na assistência dos numerosos estados estrangeiros, cuja cooperação aceitaremos quando não estiver encaminhada a nos impor uma política estrangeira, mas que seja dada em um espírito de amizade.

Inclusive a Bélgica, que finalmente entendeu a lição da História e não necessita opor-se mais a nossa independência, está preparada para nos dar sua ajuda e amizade. Para esse fim, um acordo acaba de ser assinado entre nossos países iguais e independentes. Estou certo que esta cooperação beneficiará ambos os países. De nossa parte, tentaremos, enquanto permanecemos vigilantes, observar os compromissos que fizemos livremente.

Assim, tanto na esfera interna como externa, o novo Congo sendo criado por meu governo será rico, livre e próspero. Porém, para alcançar nosso objetivo sem demora, peço a todos vocês, legisladores e cidadãos do Congo, que nos deem toda ajuda possível.

Peço a todos que enterrem suas rixas tribais: elas nos enfraquecem e podem fazer com que sejamos desprezados no exterior.

Peço a todos que não retrocedam ante qualquer sacrifício pelo bem de assegurar o sucesso de nossa grande empresa.

Finalmente, peço incondicionalmente que respeitem a vida e a propriedade dos cidadãos e estrangeiros que se assentaram em nosso país. Se a conduta destes estrangeiros deixa muito a desejar, nossa Justiça os expulsará rapidamente do território da república. Se, pelo contrário, sua conduta é boa, devem ser deixados em paz, pois eles também estão trabalhando pela prosperidade de nosso país.

A independência do Congo é um passo decisivo para a libertação do continente africano inteiro.

Nosso governo, um governo de unidade nacional e popular, servirá a seu país.

Faço um chamado a todos os cidadãos congoleses, homens, mulheres e crianças, para que adotem com resolução a tarefa de criar uma economia nacional e assegurar nossa independência econômica.

Glória eterna aos lutadores da libertação nacional!

Viva a independência e a unidade africana!

Viva o Congo independente e soberano!

Fonte do texto: Patrice Lumumba, The Truth about a Monstrous Crime of the Colonialists, Moscú, Foreign Languages Publishing House, 1961, pp. 44-47.

Edição Digital: Patrice Lumumba internet archive em marxists.org.

Tradução para o espanhol: Por Pancho López, para marxists.org, janeiro de 2012.

Fonte: https://www.marxists.org/espanol/lumumba/1960/junio/30.htm

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)


 

Biografia de Patrice Lumumba (1925-1961)

Patrice Émery Lumumba nasceu no território de Katako-Kombem no Sankuru, no Congo Belga (atual República Democrática do Congo).

Trabalhou como empregado de escritório em uma sociedade mineradora da província de Kivu do Sul até 1945, depois como jornalista em Léopoldville (hoje Kinshasa) e Stanleyville (Kisangani), período durante o qual escreveu vários jornais. Em setembro de 1954, recebeu sua carta «de matriculado», honra raramente concedida pela administração belga a alguns negros (apenas 200 dos 13 milhões de habitantes da época) e e 1955, criou uma associação chamada APIC (Associação do Pessoal Indígenas da Colônia).

Em 1958, criou o Movimento Nacional Congolês (MNC), em Léopoldville (atual Kinshasa), em 5 de outubro de 1958, e com tal nome, participou da Conferência Pan- Africana de Accra. Conseguiu organizar uma reunião para dar conta de dita conferência, durante a qual revindicou a independência diante de mais de 10.000 pessoas. Depois de dois anos de luta política pela independência, a Bélgica concedeu de modo surpreendente a independência ao Congo, data efetiva de 30 de junho de 1960.

O MNC e seus aliados ganharam as eleições organizadas em maio e, em 23 de junho de 1960, Patrice Lumumba se tornou o 1° Primeiro Ministro do Congo independente. A alegria da data é, no entanto, assombrada pelo fato de que a independência do Congo está ligada à condição de que os congoleses herdam a dívida externa da Bélgica, com a qual o jovem país nasceu imerso em uma crise econômica e tendo que devolver um empréstimo que jamais recebeu.

Por outro lado, boa parte da administração e dos quadros do exército se manteve belga. Assim, Lumumba decretou a africanização do exército e a tropa se rebelou contra seus oficiais e o estado maior. A desordem resultante abriu caminho para graves atos de violência O imperialismo belga e norte-americano, interessados em manter o acesso à riqueza mineral do país, promoveram a cisão das províncias de Katanga e Kasai do Sul. Lumumba respondeu com a obtenção do apoio da URSS. A ONU enviou tropas com a intenção de apaziguar a crise.

Em setembro, o presidente congolês, J. Kasavubu, buscou destituir ilegalmente Lumumba do posto de Primeiro Ministro. Lumumba recibeu o apoio do parlamento, que ordenou a demissão de Kasavubu, porém o exercito lançou um golpe militar em 14 de setembro e foi Lumumba quem foi posto em prisão domiciliar sob a custódia das tropas da ONU.

Em pouco tempo, Lumumba conseguiu fugir e a CIA norte-americana ordenou seu assassinato. Perseguidos pelos militares locais e belgas, além da CIA, Lumumba e seus ministros foram detidos na localidade de Mweka em 1° de dezembro de 1960. Em 17 de janeiro de 1961, foi transferido, algemado, amordaçado e sangrando por conta dos golpes sofrido para a província de Katanga, então indiretamente sob o controle belga. Essa noite, Lumumba e seus companheiros foram fuzilados na presença de autoridades militares congolesas e de seus assessores belgas e norte-americanos. Seus restos mortais supostamente despedaçados e dissolvidos em ácido sulfúrico.

Patrice Émery Lumumba foi o único chefe de estado livremente escolhido na RDC até o ano de 2006.

Fonte: https://www.marxists.org/espanol/lumumba/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)