Patriarcado não é (só) machismo

imagemSexta-feira, 20 de maio de 2016

Lucía Simón PC3

Casuística inata nos homens a de mudar as coisas mudando seus nomes e encontrar saídas para romper com a tradição, sem sair dela, em todas as partes onde um interesse direto dá o impulso suficiente para isso”.

Marx.

O machismo é normalmente representado pela imagem de uma mulher com hematomas no rosto, com expressão de raiva, dor e indignação. É a imagem mais frequente nos meios de comunicação, nas páginas dos movimentos sociais e de mulheres que exigem a acusação destas injustificáveis formas de violência, que cada vez são mais frequentes e evidentes. A violência contra a mulher e o feminicídio são, sem dúvida, abomináveis expressões de machismo.

Diferente destas formas de machismo, o patriarcado se expressa de maneira sutil e com raízes profundas nas estruturas de dominação do sistema-mundo capitalista, assim como ocorreu no escravismo e no feudalismo. Foi estudado por Marx e Engels como antecedente na construção dos movimentos feministas ao longo e ao largo de todo o mundo, encontrando algumas chaves para sua compreensão e, sobretudo, para o processo de emancipação.

Marx e Engels concluíram que a ordem patriarcal foi imposta historicamente em todas as formas de dominação, especialmente através da concepção de família que tanto estudaram e debateram em seus textos publicados, principalmente em A questão judaica (1843), A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado (1884), A Ideologia Alemã (1846) e O Manifesto Comunista (1848). Neles, desenvolvem um conjunto de argumentos que explica a origem das desigualdades sociais de gênero, ancoradas na divisão do trabalho entre homens e mulheres, assim como as formas de hierarquização derivadas dessa concepção familiar. A defesa desta estrutura familiar imposta no público é a ferramenta mais feroz que alimenta todas as desigualdades, a opressão econômica e, portanto, o sistema de dominação cultural e simbólico.

O poder patriarcal, em consequência, se expressa nas condições materiais da sociedade contemporânea, onde as mulheres continuam suportando o peso de toda essa dominação e são empurradas às margens da pobreza no mundo. A maior quantidade de pessoas que vive em condição de pobreza são mulheres e, ao mesmo tempo, são as que sustentam a estrutura familiar vigente. Nos países periféricos (ou de terceiro mundo) são a população mais vulnerável e influenciável, como bem discute o camarada Gabriel Ángel em seu artigo Nuestra huella en la realidad social humana [Nossa marca na realidade social humana].

Por isso, torna-se importante recordar o expresso por Nancy Fraser quando diz que não é suficiente buscar o reconhecimento das mulheres, se faz necessário construir os mecanismos para a emancipação de todas essas formas de dominação próprias do capital. É também importante a redistribuição da riqueza, bandeira de luta vigente desde os primeiros feminismos (em sua grande maioria marxistas).

Redistribuição da riqueza e reconhecimento para a emancipação, é a igualdade e a equidade que definem a luta de gênero.

As raízes das desigualdades e da exclusão não são superadas se não forem modificadas as condições que geram a dominação. Por isso, estamos há 51 anos lutando pela construção das transformações econômicas, culturais, políticas e sociais para a sociedade colombiana. E continuamos disputando o terreno cultural e simbólico, dizendo que o paramilitarismo e o militarismo são a mais clara expressão do patriarcado.

Devemos seguir gerando as ações que permitam às mulheres romper com a alienação, reconhecer os discursos enganosos, como os do procurador Ordóñez, e toda a classe de artimanhas obscurantistas que realmente visam ampliar o capital, como expressa o discurso uribista, que vê o país como a estrutura familiar sustentada na ideia de manter a ordem patriarcal e capitalista de exclusão e dominação. Porque o Patriarcado não é (só) o machismo.

http://www.mujerfariana.org/vision/578-patriarcado-no-es-s%C3%B3lo-machismo-2.html