Um golpe nas ilusões democráticas

imagemNo dia 12 de maio ocorreu mais um pobre espetáculo de nossa pobre democracia. Desta vez o palco foi o Senado. Não repetiu exatamente o show de horrores que foi o “17 de abril”, insuperável como espetáculo que apresentou aos brasileiros e ao mundo o nível desclassificado dos parlamentares. Não esqueceremos jamais um outro 17 de abril quando, em Eldorado dos Carajás, 19 sem terra foram assassinados em 1996 (há vinte anos, portanto). Mas a data ganha outra efeméride: o 17 de abril de 2016 entrará para a história como mais um triste capítulo de nossa pobre democracia.

Uma vez Lenin disse algo que a realidade tem lhe dado toda a razão: “O parlamento é uma fábrica de cretinos”. Vimos no Brasil, sem disfarces, até onde pode ir o cretinismo parlamentar. Na votação do impeachment vimos que a maior fábrica dessa espécie de cretinice é a Câmara dos Deputados presidida, até então, pelo maior dos cretinos e comandada na sua base pela chamada bancada BBB (Boi, Bala e Bíblia – ruralistas, indústria de armas e evangélicos) que na verdade deveria ser BBBBB (Boi, Bala, Bíblia, Bola e Banca – os dois últimos representam a “cartolagem” do futebol e o Sistema financeiro).

Há um debate se aquilo se configurou num golpe. Uns acham que é um golpe branco, outros que é um golpe institucional, um misto do modelo hondurenho (que depôs Zelaya em 2009 com aval da Suprema Corte) e paraguaio (que depôs Lugo em 2012 com aval do legislativo). No Brasil a deposição da presidente adicionou mais ingredientes: contou com aval da Suprema Corte, do Legislativo, de parte ativa do Judiciário, da PF e com apoio militante da nata do empresariado nativo e, especialmente, dos oligopólios da Mídia que agiram não como um “Quarto Poder”, mas como se fossem o Primeiro Poder pautando todos os outros.

Não achamos que isso se constituiu num golpe clássico, uma vez que está a ocorrer dentro do funcionamento das instituições democráticas burguesas, ou seja, ocorre com o aval da Justiça e do Legislativo. O impeachment vem se constituindo recentemente, especialmente na América Latina, numa forma “democrática” de depor governos que, embora já tenham servido aos interesses do grande capital, já não servem ou os contrariam em alguma medida.

Um deputado desclassificado (Heráclito Fortes, ex-DEM, hoje PSB!) deu- nos uma contribuição insólita. Quando perguntado se houve golpe ele saiu-se com uma pérola da cretinice parlamentar : disse que “se houve golpe, foi um golpe democrático”. Sem querer, deu-nos talvez uma expressão paradoxal que na sua contradição revela o contraditório. O impeachment foi um “golpe democrático” operado no âmbito da democracia burguesa em funcionamento. Foi, desta forma, um golpe nas ilusões democráticas – geradas pelos limites próprios da ordem burguesa (e de sua democracia) cuja condição cria suas próprias ilusões.

Leia na íntegra: um_golpe_nas_ilusoes_democraticas.pdf

http://www.alainet.org/es/node/177783

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