Filha de Rubens Paiva defende punição a torturadores e diz que Jobim é ‘uma vergonha’

BRASÍLIA – Vera Paiva, uma das filhas do ex-deputado Rubens Paiva, defende que o país resgate sua história e puna os torturadores da ditadura militar de 1964. Uma exposição sobre a vida do pai foi inaugurada na última quarta-feira na Câmara dos Deputados. Para Vera, a Comissão da Verdade tem que ir a fundo e resgatar a verdade desse período histórico brasileiro.

– Não é só um problema de vingança pessoal. Não era um caso de guerra contra um terrorista. Meu pai voltava da praia e foi preso em casa. Ele acreditava em um conjunto de valores como justiça, cidadania e por isso foi perseguido e morto. Hoje não só ele não está enterrado por sua família, como aquilo contra o que ele lutava – a falta de cidadania, de Justiça, a discriminação – também não foi enterrado. É o Estado terrorista que não protege o cidadão. O Brasil é o único país que não puniu seus torturadores. O passado não foi enterrado – afirmou Vera Paiva, que aguarda há 40 anos uma resposta do Estado sobre o paradeiro do corpo do pai.

Professora da Universidade de São Paulo e coordenadora do Núcleo de Aids da universidade, Vera critica o fato de o Brasil ter mandado o ministro da Defesa, Nelson Jobim, defender, na Corte Interamericana de Direitos Humanos, a postura de não rever a Lei da Anistia e evitar, assim, a punição aos torturadores. O Brasil foi condenado nesta Corte.

– Até hoje não ‘caçam’ nazistas? A maioria dos militares tem vergonha (do que foi feito), mas os que fizeram têm que ser identificados e punidos. O Jobim é uma vergonha! Também, mandarem o ministro da Defesa para a Corte Interamericana defender isso?

Se critica Jobim, a filha de Rubens Paiva está esperançosa com a atuação da nova ministra de Direitos Humanos do governo Dilma Rousseff, Maria do Rosário:

– A resistência venceu e assumiu o governo. Gostei muito da ministra Maria do Rosário. Ela tem força e energia para levar adianta a Comissão da Verdade, para chegarmos à verdade. Vamos evitar que a memória seja apagada e que nos ensine a não fazer de novo.

Em 13 painéis expostos na Câmara, a exposição “Não tens epitáfio, pois és bandeira”, traz relatos e recortes da vida do desaparecido político Rubens Paiva. Com fotos e documentos do acervo da família, os painéis retratam a atuação política, mas também momentos de Rubens Paiva com a família. Paulista, ele elegeu-se deputado em 1962 e em 1964 teve o mandato cassado pela ditadura militar. Exilou-se, mas depois voltou ao Brasil e retomou a vida como engenheiro, no Rio. Acabou sendo preso novamente em 1971, torturado até a morte e até hoje seu corpo não foi encontrado.

Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/02/21/filha-de-rubens-paiva-defende-punicao-torturadores-diz-que-jobim-uma-vergonha-923852586.asp

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