Eleição​​ no Rio de Janeiro: última chamada

imagemVocês já estão fartos de saber minha opinião sobre o segundo turno da eleição carioca. Votarei na coligação PSOL-PCB, por estar convencido de que o projeto político que ela encarna é promissor. Não me fixo em nomes, mas na intenção estratégica de atrair o povo para discutir as grandes questões da cidade. Sem megalomania, sem ilusões sobre as pedras no caminho, sem apelos carismáticos. Como uma construção.

Sendo chato, resolvi tecer os derradeiros comentários antes da votação de domingo. Os últimos dias da campanha têm sido alarmantes. O bispo Crivella, orientado por marqueteiros, fugiu de todos os debates e se refugiou num pântano sórdido, de onde dispara mentiras e calúnias e navega rumo a um projeto que fica apenas insinuado. Afinal de contas, quais são os planos da Igreja Universal e dos fundamentalistas neopentecostais para o Brasil ? O que representará a eventual vitória do Exorcista de Fala Mansa para estes planos ? O que ele pensa de verdade não aparece nos filmetes de propaganda, e é nisso que os eleitores deviam refletir.

A demagogia, o supremacismo religioso e os preconceitos são elemento central na biografia do bispo. A eles se acrescenta agora um discurso anticomunista primário, combinado com a louvação da extrema-direita. Crivella homenageou Jair Bolsonaro em cerimônia no Congresso, chamando-o de “vulto de bravura e honestidade na nossa Casa” e lembrando a origem comum nas Forças Armadas. Quando Crivella menciona Edir Macedo, que o teria “convencido” a entrar na política, lembro a inauguração do suntuoso Templo de Salomão, em São Paulo. Com barba rabínica, solidéu e talit, Macedo mimetizou um religioso judeu na frente de autoridades de vários naipes. Com que objetivo ? Interpretar um sacerdote no Beit Hamikdash ? Por que nenhuma entidade religiosa judaica criticou aquela farsa ? Torci para que a coisa tivesse o mesmo final do primeiro Indiana Jones (Os caçadores da arca perdida). Um fantoche francês dos nazistas se preparava para abrir a arca, onde se dizia estava armazenado o espírito divino. Veste um talit e coloca um solidéu, pronuncia palavras em hebraico, e da arca sai um ectoplasma devastador, que dissolve todos os que participavam daquela cerimônia profana. Menos, claro, Jones e a namorada. Infelizmente, a vida não imitou a arte. O Templo de Salomão lá está, sem pagar um tostão de IPTU e, nas palavras de Macedo, pescando o peixe com a moeda dentro da boca. Vulgo baixa exploração das carências populares.

Quem vai às urnas no domingo não pode ignorar essa névoa agourenta. Ou entregará, de bandeja, a cidade a um aventureiro de matriz religiosa, a um catequista do ódio e do preconceito.

Jacques Gruman