A destruição do velho faz surgir o novo

imagemPor: Marcelo Bamonte, militante da UJC e PCB

Observando os acontecimentos acerca da queima da estátua de Borba Gato, é conveniente resgatar Lênin e a questão do desenvolvimento da consciência política das massas. O ato, apesar de simbólico, carrega a frustração e a revolta da classe que já demonstra a recusa em reconhecer a história, do jeito que é retratada, como legítima. O sentimento de ódio, que é pujante, impulsionado pelas movimentações de massa recorrentes em diversas capitais do Brasil, nos traz que o foco deve, portanto, retomar a linha revolucionária de enxergar, ao fim de cada luta pontual, o mesmo ponto de chegada: a ruptura revolucionária e o socialismo.

É dever daqueles que se intitulam revolucionários, vanguarda, e principalmente marxistas-leninistas, o reconhecimento e a avaliação do estado de espírito das massas. Como nos relembra Lefebvre, ao estudar o pensamento político de Lênin, “uma política revolucionária deve levar em conta os menores sinais de protesto”. Temos aqui, portanto, de não frear o ódio e toda a revolta de tal setor das massas, mas de analisar concretamente o objetivo político de tal ação e direcionar nossos esforços para que a agitação e propaganda transforme tal revolta na força política necessária – essa, que rume à ruptura total com o sistema, que de fato visa a reconstrução de nossa história priorizando quem a de fato protagonizou, mas sempre foi subjugada: a classe trabalhadora.

É evidente que, em meio a tal demonstração, apareça a argumentação de que não se deve impulsionar e direcionar o ódio das massas, mas preservar tais monumentos (no caso de Borba Gato), os direcionando para um local onde uma reeducação possa acontecer, de modo que apenas se entenda os motivos do estalo do chicote, mas que não se apague por completo a influência do torturador. Além de ser uma maneira de preservar tal base qual nosso país foi construído, isso deslegitima a ação das massas, condena sua consciência a certo espontaneísmo, fazendo entender que o certo não seria romper com a antiga ordem, mas compreendê-la e simplesmente incorporá-la. É pedir para o escravo não matar seu senhor, mas ressignificar a lâmina que o corta. Desconsidera, inclusive, a questão central da tomada do poder, freando ainda mais o desenvolvimento revolucionário da classe, fazendo-o acreditar que seria possível tomar o poder sem tal conflito, sem tal destruição da antiga ordem, por meio de uma reeducação comportada.

Quando se põe um problema político, há várias atitudes possíveis, mas somente a análise objetiva nos permite definir qual melhor diagnóstico para tal questão. As excelentes razões e soluções, apesar de suas intenções, não podem ser observadas de forma descolada da prática concreta. A aparência e ilusão se misturam bem com a realidade, fazendo com que certas análises metódicas, até de tom professoral, nem sempre conseguem impor as conclusões às quais chegou. É preciso que as massas tomem em mãos a experiência. Fica, então, o questionamento: propõe-se a ruptura ou o freio ilusoriamente pacífico? Se a história da sociedade é a história da luta de classes, deve-se entender como barbárie a revolta dos oprimidos? Nessa questão, fico com Marx:

“Durante o conflito e imediatamente após o combate, os operários, antes de tudo e tanto quanto possível, têm de agir contra a pacificação burguesa e obrigar os democratas a executar as suas atuais frases terroristas. Têm de trabalhar então para que a imediata efervescência revolucionária não seja de novo logo reprimida após a vitória. Pelo contrário, têm de mantê-la viva por tanto tempo quanto possível. Longe de opor-se aos chamados excessos, aos exemplos de vingança popular sobre indivíduos odiados ou edifícios públicos aos quais só se ligam recordações odiosas, não só há que tolerar estes exemplos, mas tomar em mão a sua própria direção”.

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