Na Venezuela se faz necessária uma vitória Constituinte

imagemPor Carlos Aznárez

Diretor do Resumen Latinoamericano

26 de julho de 2017

É evidente que o governo venezuelano não se equivocou quando decidiu lançar a convocatória para votar pela realização de uma Assembleia Constituinte. Não só porque em seu conteúdo está implícita uma maior participação dos setores populares que seguem empurrando o trem bolivariano, mas porque o inimigo local e internacional se deu conta que essa instância significa a passagem necessária para aprofundar a Revolução. Daí que tentem impedi-la: desde Donald Trump até seus aliados incondicionais da União Europeia não duvidam em exigir que o presidente Nicolás Maduro desconvoque esse apelo estratégico. Sem dizer dos amanuenses dos governos de direita latino-americanos, representados entre outros pelo quarteto Macri-Temer-Cartes-Santos, que não pouparam munição pesada para difamar tudo o que a Venezuela veio construindo nestes últimos 18 anos.

Porém, o que mais incomoda a todos eles nesta Constituinte que indefectivelmente ocorrerá? Antes de mais nada, o fato de que aposta na paz e esgrime a bandeira para reconfigurar uma perspectiva de diálogo nacional, o que a diferencia de outros processos contaminados pela democracia burguesa, não falando apenas com a “oposição”. É claro que não existe uma palavra com aqueles que demonstraram um comportamento fascista, assassinando indiscriminadamente homens e mulheres do povo, e cujo destino deve ser o cárcere comum, porém, sem deixar de conversar com aqueles que se propuseram a respeitar as regras do jogo da democracia participativa.

A iniciativa que será votada massivamente em 30 de julho aspira a converter em sujeitos principais da nova etapa revolucionárias as pessoas do povo, os moradores das comunas, os habitantes dos bairros, os e as estudantes, campesinos e campesinas, afrodescendentes.

Com todos eles e elas, que são quem vem de corpo e alma diariamente defender as enormes conquistas obtidas desde 1999, se faz necessário encarar medidas radicais que apontem para qualificar ainda mais os avanços obtidos ate agora e diagramar o necessário caminho para o socialismo. Esta Constituinte de nenhuma maneira suplantará a atual e que foi impulsionada por Hugo Chávez, mas reafirmará sua vigência, incorporando aspectos substanciais para atacar o terrorismo, o fascismo e o racismo que nos últimos meses se introduziram como um vírus, tentando minar os laços de fraternidade e solidariedade social entre pobladores e vizinhos. O fará através de um projeto de lei que outorgue amplos poderes à Comissão pela Verdade, a Justiça e a Paz, para que não haja impunidade frente aos crimes cometidos através das guarimbas desestabilizadoras.

A Constituinte vai, também, atacar as raízes da guerra econômica, buscando de maneira taxativa terminar com a especulação, o desabastecimento, a regulação de preços e os ataques contra a moeda nacional fomentada desde a Colômbia, contando com a cumplicidade dos colaboracionistas locais da contrarrevolução. Além disso, se reforçará a ideia de que seja o poder popular das Comunas e os Conselhos Comunais socialistas que tome a frente para que a burocracia não continue impedindo o crescimento revolucionário. É nessas instâncias populares onde militam aqueles que geram com seu trabalho e seu sacrifício a possibilidade de que a Venezuela siga avançando.

A Constituinte também favorecerá uma faixa importante da classe média que adquiriu consciência de povo e de pátria durante o transcorrer do processo bolivariano. Será nesse marco de unidade popular no qual tocará defender e ativar ainda mais as Missões sociais, o acesso gratuito à saúde e à educação, a vitória de uma nação livre de analfabetismo ou a construção de um milhão e meio de habitações. Tudo isso, conquistado enquanto se enfrentava a mais descomunal das investidas do imperialismo norte-americano e seus aliados, do terrorismo midiático e da burguesia empresarial local, que insiste em destruir à força da violência todo o obtido até o presente.

Não há dúvidas de que esta semana se trava uma nova batalha na história da luta de classes. De um lado, aqueles que quiseram ver a Venezuela convertida em uma colônia dependente dos Estados Unidos, país que através do Comando Sul e da tristemente célebre Central de Inteligência Americana, planejou novas fórmulas de intervenção terceirizada (como fizeram, sem sucesso, na Síria) para derrubar o governo legítimo de Nicolás Maduro. Para isso, conta, com seus cachorros da OEA e, sobretudo, com esse expoente da traição à Pátria Grande que é o Secretário Luis Almagro. Este grupo, denominado eufemisticamente “oposição”, não se conformaria, no caso de triunfar, com ocupar o governo e as instituições, mas que implantariam um rancor e revanchismo tal que produziria um verdadeiro etnocídio. Detestam de morte os pobres, aos “negros”, “zambos” ou “mulatos”, como chamam depreciativamente a essa massa da população que com a Revolução se dignificou. É tal o desprezo aos diferentes que não duvidariam em continuar a tarefa de ressuscitar – como fizeram nos últimos dias – métodos medievais para assassinar mediante o fogo os que a eles se oponham. Muitos dos seguidores de Leopoldo López e Capriles são herdeiros dessa seita denominada “Tradição, Família e Propriedade”, e se creem “cruzados” contra o “mal” que atribuem aos “hereges” bolivarianos. Em seus rituais de horror, portam cruzes e até são benzidos por sacerdotes ou por ex-presidentes, como Aznar, Felipe González, Pastrana ou o boliviano Tuto Quiroga. São a Inquisição revivida no século XXI, tão cruel e feroz como aquela que assolou a Europa vários séculos atrás. No entanto, os “democratas” europeus protegidos pelo El País, pelo ABC ou pelo resto da imprensa canalha, não parecem comovê-los.

É em função desta realidade que se torna necessário evitar que esta turba mercenária (de lúmpens mercenários e paramilitares, muitos deles vindos da Colômbia) alcance seu objetivo. Para isso, o povo conta com uma ferramenta fundamental que até o presente não foi penetrada: a unidade cívico-militar, sobre a qual tanto insistira o Comandante Chávez. Porém, além disso, se necessária, também estão as milícias populares, as brigadas de Autodefesa, o Chavismo Bravo e a coragem de homens e mulheres dispostas a não ceder nem um passo à reação.

“Não existe retorno para nós”, proclamou dois domingos atrás em Caracas, uma mulher idosa, enquanto fazia uma longa fila para cumprir com o ensaio de votação. “Aqueles que levam Chávez no coração vão defender Maduro porque é um dos nossos”. Com essas palavras, definiu um sentimento feito carne na maioria dos e das bolivarianas. Custou muito esforço levantar este edifício revolucionário. Tanto com a dor e o ódio que agora a direita tenta injetar na população. É certo que existe muito para corrigir em todo o caminhado, porém para aqueles que apenas duas décadas atrás viviam submersos na miséria e na repressão da Quarta República, a Revolução Bolivariana lhes devolveu a autoestima e todos os direitos que tinham sido retirados. Avançou-se ali e foi possível entusiasmar, no mesmo sentido, outros países do continente latino-americano e o rebote chegou até a Europa. Precisamente essa parte da população, que continua sendo majoritária, é a que no próximo domingo gritará ao mundo que “A Constituinte vai que vai. De todas as maneiras vai!”.

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2017/07/26/en-venezuela-se-hace-necesaria-una-victoria-constituyente-por-carlos-aznarez/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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