A inveja de Hermes, ou Edvaldo e os 49 anos do PCdoB

Se o deus Hermes viesse a Aracaju procurando a qualidade de vida e chegasse depois do dia 26 de março, sentiria uma grande inveja, mas não pela qualidade de vida. O mensageiro do Olimpo, Deus da mentira, da riqueza e patrono de ladrões, diplomatas e comerciantes, nunca imaginou que pudesse encontrar tantos de seus atributos em poucos metros quadrados ao se deparar com a mensagem transmitida pelos outdoors de Edvaldo Nogueira espalhados por toda a cidade.

A riqueza com que publica as dezenas de outdoors impressiona até mesmo os partidos que possuem um fundo partidário gordo, mas o pior é que o aniversariante apesar de ser o prefeito da capital, continua sendo de um partido pequeno e aparentemente de poucos recursos, porém como patrono dos comerciantes, o prefeito pode ter ganhado esses outdoors, e não seria a primeira vez.

O atual prefeito, vindo de um contínuo processo de desgaste, usa como desculpa o aniversário do seu partido para fazer autopromoção, uma espécie de culto à personalidade, onde a sua foto e a cidade de Aracaju são a mensagem principal e o aniversário do partido mero figurante, parecendo mais uma campanha publicitária da prefeitura, além disso, fugindo completamente à tradição dos comunistas, de usar a propaganda como instrumento reinvidicatório, educativo e conscientizador da população. Como por exemplo: solicitar a abertura dos arquivos da ditadura, para que pudéssemos descobrir onde estão enterrados os corpos dos tão valorosos companheiros assassinados na Guerrilha do Araguaia.

Ainda que de forma secundária comemora os “89 anos” do PCdoB, propagandeando mais inverdades para a população, de forma inteiramente desnecessária, tendo em vista que o PCdoB tem uma história não só no Brasil como também no Movimento Comunista Internacional. Foi o primeiro partido maoísta da América Latina. Assim como diversos outros partidos maoístas, passa a ser hoxhaísta, rompe com a China e vincula-se à Albânia – O Farol do Socialismo, como eles chamavam – e a seu líder máximo, Enver Hoxha. O PCdoB lutou contra a ditadura militar exemplarmente, organizou a heróica guerrilha do Araguaia e após sua derrota somou-se à grande frente democrática e de massas para derrotar a ditadura. Teve militantes torturados e mortos, por isso não precisa inventar uma história e renegar a sua própria.

O PCdoB nasce de uma dissidência do PCB em 1962, a partir da “Carta dos Cem” uma dissidência política feita por um grupo minoritário do Comitê Central, liderado pelos históricos comunistas João Amazonas e Mauricio Grabois. Esses líderes comunistas criticavam o reformismo do PCB e adotaram uma linha crítica na nova agremiação. Sendo assim, deveriam estar comemorando seus 49 anos e não 89. Podemos não concordar com a linha política atual – um reformismo extemporâneo em aliança com a burguesia – mas temos de respeitar os camaradas do PCdoB por sua trajetória. Mas agindo na farsa histórica, tentando ser o que não são, perdem credibilidade, deixam de ser sérios! O Movimento Comunista brasileiro tem 89 anos, materializado no aniversário do PCB, partido que surge das lutas operárias no início do século XX e que organiza-se em 25 de março de 1922. O PCdoB é um dos herdeiros desse movimento e, inclusive, do próprio PCB.

*Leonardo Dias – Secretário Político do PCB/SE (Artigo publicado na pag. 02 do Jornal Cinform de 11/04/2011)