Fraudes nas cotas raciais na UFMG

imagemNota da UJC-UFMG

A desigualdade racial no Brasil tem servido historicamente ao modo de produção capitalista, mantendo negras e negros da classe trabalhadora em péssimas condições de vida, compondo uma grande massa de trabalhadores precarizados e desempregados. Os números demonstram isso: no fim de 2016, o desemprego no Brasil entre a população branca era de 9,5%, em contraste com os 14,4% referentes à população negra; além dos índices de diferença salarial – o salário de uma pessoa negra equivale a 59% do salário de uma pessoa branca – e de população encarcerada: quase 70% são negros!

O advento da Lei n° 12.711/12 (Lei de Cotas) no ensino superior brasileiro, marcado pela sistemática exclusão da população negra e pobre, é uma medida paliativa diante do racismo que, ainda hoje, compromete drasticamente a população negra na ordem socioeconômica. As cotas têm proporcionado avanços na inserção da juventude negra nas universidades, mas ainda se mostram insuficientes na superação estrutural do problema.

Na última semana, os casos de fraudes nas cotas raciais da Faculdade de Medicina da UFMG foram amplamente divulgados nos grandes veículos de comunicação. Tais fraudes já vêm sendo denunciadas há algum tempo pelos estudantes da universidade, e colocam o problema da auto-declaração no centro do debate da política de cotas, evidenciando o desafio de construir mecanismos que garantam o ingresso efetivamente ao público socialmente lesado e excluído do espaço universitário. Diante disso, nós da União da Juventude Comunista – UFMG compreendemos que uma saída frente ao problema só será possível a partir de um debate pelo conjunto dos estudantes, sem, contudo, individualizar um problema social, profundamente estrutural e que consequentemente, exige um debate profundo e crítico em torno da insuficiência das cotas em garantir a permanência desses estudantes na universidade.

Nesse sentido, entendemos que esse debate caminha lado a lado com a proposição de um novo modelo de universidade: uma Universidade Popular. Isso porque a universidade não é uma ilha, sendo incapaz de se desvincular do caráter desigual, elitista, dependente e racista da formação social brasileira como um todo, o que se agrava na conjuntura de cortes e ataques à Educação como a que estamos vivendo. A solução para os problemas passa, assim, necessariamente pela criação de um novo projeto de educação, que caminhe em sentido oposto aos interesses da classe dominante, por meio de uma universidade que entenda como prioritários o acesso livre e universal de estudantes, a garantia de uma assistência estudantil que permita a permanência dos estudantes e a produção do conhecimento pela e para a classe trabalhadora, para além da dependência econômica e as desigualdades sociais e raciais, postas como ordem no sistema capitalista.

Por esse motivo a UJC constrói o Movimento por uma Universidade Popular (MUP), defendendo a ampliação do sistema de cotas em espaços como a pós-graduação, apontando para o fim dos vestibulares enquanto horizonte. Nos interessa a proposição de um projeto estratégico, o qual, além de defender o caráter público, gratuito e de qualidade na educação, paute também a produção de ciência e tecnologia de acordo com as demandas do povo brasileiro, um real diálogo com a comunidade e com os movimentos populares, o aprofundamento da democracia no interior das instituições, dentre outros. Assim, é necessário que a luta em defesa das cotas se dê a partir de uma luta maior, antirracista e anticapitalista. Só por meio da massificação e organização dos processos de resistência é que fortaleceremos o projeto de Educação Popular, de forma que este polarize com o atual modelo vigente, que não nos contempla enquanto mulheres, negros, quilombolas, indígenas e LGBTs, filhas e filhos da classe trabalhadora.

Fontes:
https://economia.uol.com.br/empregos-e-carreiras/noticias/redacao/2016/01/28/diferenca-cai-em-2015-mas-negro-ganha-cerca-de-59-do-salario-do-branco.htm
http://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2017/02/epoca-negocios-ibge-desemprego-e-de-144-entre-negros-141-entre-pardos-95-entre-brancos.html
https://www.nexojornal.com.br/grafico/2017/01/18/Qual-o-perfil-da-população-carcerária-brasileira
https://www.facebook.com/pg/ufmgbr

https://www.facebook.com/ujcbr/posts/1405860119531169

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