Medalha Dinarco Reis para David Capistrano

25/7/2011

Em cerimônia realizada no edifício sede da ABI, na noite da última sexta-feira, 22 de julho, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a Fundação Dinarco Reis entregaram a Medalha Dinarco Reis a Maria Augusta de Oliveira, viúva de David Capistrano, assassinado durante a Ditadura Militar, em 1974. O evento atraiu dezenas de pessoas, entre antigos membros do partido e representantes da OAB-RJ, do Grupo Tortura Nunca Mais-RJ e da ABI.

A mesa de honra que conduziu a homenagem foi composta pelo Presidente nacional do PCB, Ivan Pinheiro; o Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Rio de Janeiro, Wadih Damous (depois substituído pelo advogado Modesto da Silveira); Dinarco Reis, Presidente da Fundação Dinarco Reis; Joana D’arc Ferraz, primeira secretária do Grupo Tortura Nunca Mais no Rio; Geraldo Pereira dos Santos, membro da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e dos Direitos Humanos da ABI; e o professor e historiador Rubem Aquino.

Ao receber a medalha, Maria Augusta destacou sua história de luta em defesa do País:

— Hoje eu sou uma senhora de idade que vivo em função de todo um passado de luta política, e acompanhando tudo aquilo que se passa no Brasil, com a finalidade de melhorar cada vez mais a situação do povo brasileiro. Agradeço essa homenagem, a todos os companheiros, e desejo que todos tenham fé na sua luta em prol da democracia e da liberdade no Brasil, declarou.

Em seguida, a viúva de David Capistrano falou sobre a importância da homenagem ao seu marido:

— É justo que se faça esse tipo de homenagem a essas pessoas que dedicaram toda a vida à luta por um país mais justo, onde a população queria uma situação melhor, principalmente a classe trabalhadora, afirmou Maria Augusta.

Impedido de comparecer à cerimônia, o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, enviou mensagem de apoio à Maria Augusta e Capistrano, cujo texto é o seguinte: “A homenagem que a fundação Dinarco Reis lhe presta (a David) constitui um honroso reconhecimento de sua notável trajetória que inicia pelo curso da ditadura do Estado Novo que se estende até março de 1954. Jornalista, deputado estadual em Pernambuco na primeira eleição democrática que se seguiu à derrubada da ditadura Vargas, Capistrano manteve-se até os últimos dias como lutador infatigável, desprendido do Movimento Socialista, causa a que se dedicou com a sua também admirável companheira Maria Augusta Capistrano da Costa, uma das heroínas na luta pela Anistia, em abril de 1945, e ainda uma das defensoras dos ideais que a transformaram ainda muito jovem num exemplo de mulher combativa, solidária e coerente”, destacou Maurício.

Dinarco Reis frisou o espírito de luta de David Capistrano, não só no Brasil, mas também na Europa:

— Para nós, é um momento especial em função da trajetória de lutas deste herói não somente da História do nosso País, mas no combate ao nazifascismo na Europa, um verdadeiro internacionalista, afirmou o Presidente da Fundação Dinarco Reis.

Memória

Em seu discurso, Wadih Damous reforçou o pedido para que o Governo brasileiro abra os arquivos da ditadura, em defesa da justiça, da memória e pela verdade:

— A OAB, enquanto esses arquivos não forem abertos, enquanto a verdade não vier à tona, continuará em pé, de cabeça erguida ao lado do povo brasileiro, ao lado dos verdadeiros brasileiros na luta pela verdade, pela memória e pela justiça. O Brasil não terá uma sociedade mais justa e igualitária enquanto essa página da História do País não for virada com dignidade, declarou Damous.

O atual Secretário Geral do PCB, Ivan Pinheiro, criticou a forma como o Governo trata a questão da abertura dos arquivos da ditadura, citando outros países da América do Sul onde isso já acontece, inclusive com a prisão de torturadores.

Geraldo Pereira dos Santos lembrou o legado deixado por Capistrano que “ao nascer enriqueceu o patrimônio humano, e quando dele se despediu de maneira covarde, assassinado pelos órgãos de repressão, deixou o patrimônio revolucionário à humanidade”, destacou o representante da ABI.

Joana D’arc Ferraz, do Grupo Tortura Nunca Mais, reafirmou a necessidade de resgatar a memória dos torturados e desaparecidos durante a ditadura militar:

— O que a gente tem neste País é uma maquiagem, como se lavasse com água sanitária a nossa História. O que estamos tentando fazer hoje aqui é relembrar um pouco desta história que foi jogada para debaixo do tapete durante tantos e tantos anos, afirmou Joana.

Fonte: http://www.abi.org.br/primeirapagina.asp?id=4394