No bicentenário de nascimento de Marx: sobre o Manifesto Comunista

No bicentenário de nascimento de Marx: sobre o Manifesto ComunistaSalvador López Arnal (editor), Rebelión

Resumen Latinoamericano

O Manifesto Comunista continua surpreendendo qualquer pessoa que o leia pela primeira vez com olhos limpos ou que o releia pela segunda, terceira ou décima vez (certo que observa detalhes e argumentos nos quais não tinha reparado). Surpreende, dizia, pela beleza de algumas de suas imagens – começando por suas palavras iniciais e seguindo pelas geladas águas do cálculo egoísta –, por muitas de suas ideias-força e hipóteses gerais (atrevidas, sem dúvida), por sua capacidade crítica, pelos argumentos exibidos em vários momentos, pela complexidade (inclusive obscuridade) para nós – para mim em concreto –, de algumas de suas afirmações, pelas excelências do autor como escritor e, enfim, pela ajustada e mais que surpreendente veracidade de algumas de suas previsões e descrições, mais agora que no momento em que foi publicado (faz agora 170 anos). Em definitivo, um clássico do pensamento do qual podemos continuar refletindo e aprendendo.

Me proponho a aproximar-se deste clássico, deste “material” da tradição e do pensamento revolucionário de todos os tempos, apresentando e comentando alguns textos de dois de seus grandes leitores-intérpretes: Manuel Sacristán (1925-1985) e Francisco Fernández Buey (1943-2912), e assinalando, em uma entrega posterior, as teses, reflexões e fragmentos que a mim, pessoalmente, continuam perturbando, interessando e inquietando.

Comecemos com o primeiro leitor-professor, Manuel Sacristán (1925-1985), que não por acaso dedicou o que certamente foi o primeiro de seus escritos marxistas a este grande texto político de intervenção. Intitulou seu escrito como “Para ler o Manifesto Comunista”. Contou com a colaboração em seu trabalho de sua esposa-companheira, Giulia Adinoli, e de uma discípula, Pilar Fibla.

Em um de seus textos mais comentados e reconhecidos (que a eu mais gosto, um de seus melhores artigos, na minha opinião), “Qual Marx será lido no século XXI?” [1], fala da excelência literária do MC:

Não é nada fácil prever qual Marx será lido no século XXI. Hermann Grimm foi mais simplório ao se perguntar qual Goethe leríamos com mais gosto no século XX. Adivinhou que não seria o de Werther, menos ainda o da Teoria das cores, que nem sequer considerou, mas o de Fausto, e acertou. A questão não pode ser apresentada assim para Marx, ainda que os dois casos tenham semelhanças. Também na obra de Marx existe ciência e existem outras coisas, como na de Goethe, porém as outras coisas são diferentes e, também, estão organizadas de outro modo: não é a mesma para os dois a relação entre poesia e verdade. As páginas de Marx que podem sobreviver como clássicas oferecem textos de várias classes: científicos sistemáticos, históricos, de análise sociológica e política, de programa. Por outro lado, nenhum desses textos – talvez com a exceção do Manifesto Comunista e de alguns capítulos de O Capital – é tão bom literariamente como para perdurar só por sua perfeição.

Em “Karl Marx”, um texto de 1974, que escreveu à pedido de Jesús Mosterín para a Enciclopédia Universitas, da editorial Salvat (Mosterín estudou lógica no Instituto de Münster, em Westfalia, como fizera Sacristán), abordou com mais detalhe:

Na Bélgica, Marx – e com ele, Engels – intensifica sua atividade política. Entra em relação com uma associação operária, a “Liga dos Justos” que, em grande parte por influência sua, passa a se chamar “Liga dos Comunistas”, e organiza uns comitês de correspondência – a cujo trabalho epistolar dedica muitas horas – destinados a ir harmonizando o pensamento de todos os comunistas europeus, “livrando-os dos limites da nacionalidade”. Este primeiro contato de internacionalismo proletário organizado é ocasião do texto de Marx e Engels (principalmente do primeiro), com o qual se conclui o período belga: o Manifesto do Partido Comunista, comum e abreviadamente chamado Manifesto Comunista.

Em novembro de 1847, prossegue o autor de El orden y el tiempo [A orden e o tempo], Marx e Engels (29 e 27 anos, respectivamente) receberam o encargo da Liga dos Comunistas de redigir uma exposição breve dos objetivos da associação e, assunto importante em sua concepção, dos conhecimentos em que se fundamentavam esses objetivos.

A versão definitiva do texto que satisfez este encargo é mais obra de Marx que de Engels. É o Manifesto Comunista, que apareceu em fevereiro de 1848.

Fevereiro de 1848: dois ou três dias antes da aparição do Manifesto, estoura na França uma revolução que pode ser considerada como a última em que a classe operária desse país promoveu inconscientemente, com sua luta e seus mortos, os interesses da classe burguesa, ou a primeira na qual se deu conta disso; em junho do mesmo ano, os operários de Paris se lançariam novamente à insurreição, porém desta vez contra a classe empresarial, a qual em fevereiro levaram definitivamente ao poder.

O Manifesto Comunista previa uma revolução, assim como a onda revolucionária que – a partir de Paris – sacudiu grande parte da Europa ocidental e central, inclusive a Alemanha.

Em muitos pontos, assinala Sacristán, os autores do Manifesto fizeram previsões que não se cumpriram (outras sim, se cumpriram e como!). Porém, o verdadeiramente assombroso em todo caso é “que se cumpriu em linhas gerais, como esta precisão de uma crise revolucionária”

O Manifesto Comunista era um folheto de apenas vinte e seis páginas, nas quais se condensavam várias coisas: uma inteira explicação da história (cinquenta e quatro parágrafos), a relação entre os comunistas e o resto da classe operária (setenta e seis parágrafos) e a política dos comunistas na conjuntura de 1848 (onze parágrafos); os autores encontram ainda espaço naquelas vinte e seis históricas páginas para uma crítica das várias correntes socialistas e comunistas (cinquenta e seis parágrafos). Apesar de que no Manifesto faltam alguns conceitos científicos de importância no marxismo, a intensa condensação do texto indica que seus autores dominavam já com muita segurança o esquema geral de sua concepção.

Na primeira parte (“Bourgeois e proletários”), Marx e Engels explicam a história documentada de todas as sociedades como história das lutas de classes: “livre e escravo, patrício e plebeu, nobre e servo, membro de corporação e oficial-artesão, em suma, opressores e oprimidos, se encontraram em contraposição constantes uns contra os outros, travaram uma luta ininterrupta, às vezes oculta, às vezes aberta, que terminou sempre com uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou com a ruína comum das classes em luta”.

Na história da Europa esta última possibilidade, a da catástrofe comum das principais classes em luta, ocorreu pela última vez agora, com a queda do Império Romano do Ocidente.

Logo, a luta de classes, a história europeia, se desenvolveu sem rupturas civilizatórias tão profundas, até constituir o sistema capitalista, dominado pela classe a qual costuma-se chamar “burguesia” em lembrança de sua origem urbana (nos “burgos”).

O Manifesto apresenta os dois aspectos, característicos em sua união, da sociedade capitalista: por um lado, o enorme crescimento das forças produtivas [Sacristán as chamará, pouco depois, em uma virada ecologista de interesse, forças produtivo-destrutivas] e da riqueza, em comparação com as sociedade anteriores; por outro, a destruição dos laços pessoais qualitativos e individualizados, entre as pessoas: “Nos cem anos escassos de seu domínio, a burguesia criou forças produtivas mais abundantes e mais colossais que todas as demais gerações passadas juntas”. Porém, também: “Onde chegou a dominar, a burguesia destruiu todas as relações feudais, patriarcais, idílicas. Desgarrou impiedosamente os complexos vínculos feudais que uniam os homens a seus superiores naturais e não deixou entre os homens mais laço que o interesse nu e cru, o “pagamento à vista” sem sentimento algum. Afogou na água gelada do cálculo egoísta o santo calafrio da mística piedosa, do entusiasmo cavalheiresco, da melancolia dos cidadãos medievais. Dissolveu a dignidade pessoal no valor da troca …”

De todos os modos, aponta o autor de Las ideas gnoseológicas de Heidegger [As ideias epistemológicas de Heidegger], estas consequências culturais ou morais do capitalismo não são toda a causa, nem a causa principal, da possibilidade de uma revolução que supere essa sociedade.

Na realidade, nem sequer se pode dizer que tais efeitos sejam só nocivos. Os laços idílicos pré-capitalistas eram em grande parte uma cobertura hipócrita de uma realidade vital muito mais sinistra, que o capitalismo pôs ao descoberto: “Com uma palavra: a burguesia colocou, no lugar da exploração envolvida em ilusões religiosas e políticas, a exploração aberta, desavergonhada, direta, seca”. O que possibilita a superação da sociedade capitalista é a contradição entre a tendência ao aumento das forças produtivas e as “relações de produção” (as relações em que entram os homens divididos em classe), que são o marco no qual se movem aquelas forças. Esta contradição se manifesta de muitas maneiras, recorda o texto apesar de sua brevidade. Por exemplo: o capitalismo aumentou muito a produtividade do trabalho e, no entanto, aumenta também a dureza laboral da vida das crianças e das mulheres, por não falar já do operário industrial adulto. Ou também: o capitalismo tornou plenamente social o trabalho, a produção, até o ponto de que já nem sequer é concebível um trabalho artesão isolado, que não dependa profundamente do resto das atividades produtivas; e na “fábrica” o lugar por excelência do trabalho capitalista, os trabalhadores são como membros de um organismo coletivo, que é o verdadeiro produtor; no entanto, as relações de produção capitalistas não são nada socializadas, mas individualistas e privatistas.

Ou também, prosseguia Sacristán, com palavras do Manifesto:

há décadas a história da indústria e do comércio não é mais que a história da cólera das modernas forças produtivas contra as relações de produção modernas, contra as relações de propriedade que são as condições de vida da burguesia e de seu domínio. Basta recordar as crises comerciais que, com seu periódico retorno, colocam cada vez mais em xeque a existência de toda a sociedade burguesa. Nas crises comerciais, se destrói regularmente uma grande parte não só dos produtos fabricados, mas inclusive das forças produtivas já criadas. Nas crises, estoura uma epidemia social que pareceria absurda em todas as épocas anteriores: a epidemia da superprodução. A sociedade se vê submetida repentinamente a um estado de barbárie momentânea; parece como se a miséria ou uma guerra mundial de extermínio a tivessem privado de todos os víveres; a indústria e o comércio parecem destruídos, e por que? Porque a sociedade possui demasiada civilização, demasiados víveres, demasiada indústria, demasiado comércio. As forças produtivas de que dispõe já não promovem a civilização burguesa e as relações de propriedade burguesas; ao contrário: cresceram demasiado para essas relações, as quais inibem; e enquanto superam esse obstáculo, revolvem toda a sociedade burguesa, ameaçam a existência da sociedade burguesa. As relações burguesas se tornam demasiado estreitas para abarcar a riqueza que elas produziram. Como domina a burguesia a crise? Por um lado, impondo a aniquilação de uma massa de forças produtivas; por outro, conquistando novos mercados e explorando mais profundamente os antigos. Como as supera, pois? Preparando crises mais completas e violentas, e diminuindo os meios de preveni-las.

Porém, a contradição presente no desenvolvimento capitalista advertiu, não dá mais que a possibilidade de abolir e superar o sistema, não dava nenhuma necessidade nem gerava nenhuma lei inexorável da história. Não existe determinismo, não existe nenhum mecanismo que garanta nada:

a mera falta de coerência lógica estrutural não basta para que seja superada uma coisa que é de algum modo viva, composta de vidas, como é a sociedade. As contradições internas são apenas “armas” empurrando as quais se pode derrubar uma desordem social, habitualmente chamada “a Ordem”. “Porém, a burguesia não só forjou as armas que lhe dará a morte; também produziu os homens que empunharão essas armas: os trabalhadores modernos, os proletários”. Estes tomarão a consciência da possibilidade que lhes é oferecida caso combatam unidos contra o mal que os oprime. O Manifesto Comunista termina com a divisa já célebre: Proletários de todos os países, uni-vos!”

Até aqui, o MC em seu artigo “Karl Marx”, de 1974.

Quatro anos depois, em 24 de abril de 1978, em comemoração ao 130° aniversário da publicação do Manifesto, Sacristán interveio em uma mesa redonda (que não chegou a ser gravada), que com este título se celebrou na Aula Magna da Universidade de Barcelona. O seguinte esquema é o roteiro de sua intervenção.

O primeiro ponto:

1. 1. Esta questão da atualidade do MC – de sua leitura a partir do ponto de vista de hoje na Europa Ocidental – tem uma justificativa considerável, não é só pretexto para comemorar um escrito influente.

1.1.1. Sem menosprezar, claro, a própria comemoração.

1.2. Não penso, ao dizer isso, no interesse que, sem dúvida, a propósito de todo texto que influenciou e influencia, o formar a típica lista “do vivo e do morto”.

1.2.1. Porém, esse enfoque do assunto fica excluído pelos 20 minutos.

1.2.2. E, talvez, não seja tampouco o mais interessante.

1.3. O que me parece mais interessante é um aspecto muito geral do MC, um traço característico que resultou particularmente moderno em meados do século XIX.

A segunda parte do esquema:

2.1. O M é um “Manifesto” destinado a deixar, de forma breve e clara, ante o público as ideias de um grupo reduzido.

2.2. Porém, grupo ativo, popular e proletário em grande parte, não só ideólogos, como o eram até então os grupos produtores de reflexão emancipatória (não de prática, claro).

2.3. Isso repercute na importância do M para o partido moderno.

2.3.1. O normal, então, era ou bem os partidos eleitorais de notáveis, ou bem a escola ou seita sem ação social.

2.3.1.1. Os casos cartistas e reformistas agrários americanos em trabalhador.

2.3.2. O M, ainda que não muito categórico, explicita e origina a ideia de um partido operário como instrumento direto da luta de classes.

2.3.3. A questão do nome. Troca para MC na edição alemã de 1872.

2.3.3.1. Provavelmente pelas vicissitudes da AIT.

O terceiro ponto:

3.1. A definição da ideia de partido operário de classe implicava a passagem da especulação ao pensamento da prática operária, da ideia abstrata à ética, da ideologia à política.

3.1.1. Nas construções sociológicas: programa.

3.1.2. No fundamento: não essencialismo, mas análise sociológica.

3.2. Assim se explica a seção III do M e, em particular, a parte de crítica do socialismo filosófico.

3.2.1. Exemplo do III 22.

3.3. Pois bem: no mais essencial, a atualidade ou a caducidade completa do M se decide em torno disso.

A quarta parte:

4.1. E, após a moda marxista, a antimarxista é parte de uma ampla reação antiprática, especulativa.

4.1.1. Deixo de lado o anarquismo.

4.2. Desativação, na realidade pró-reformista.

4.3.Dessocialização (“poder”), que é o mesmo.

4.4. Precedentes ou materiais da nova hegemonia:

4.4.1. A crítica conservadora acadêmica tradicional. Hayek hoje.

4.4.2. A crítica especulativa pseudo-revolucionária: Adorno.

4.4.2.1. Seus alunos.

4.4.2.1.1. Saint-Just.

O quinto ponto, o último:

5.1. Não são ignoráveis motivos interessantes para todos.

5.1.1. A prática do “socialismo real”. Seriamente.

5.1.2. Lacunas e erros do pensamento praxeológico.

5.1.2.1. A questão do poder (Russell).

5.1.2.2. A das forças produtivas.

5.2. Nem tampouco as causas sociais: é a complexa reação da ambígua camada dos intelectuais.

5.3. O que está em jogo.

5.3.1. Abandono negativista da tentativa revolucionária programática, racional.

5.3.2. Ou voltar a começar com a motivação do M: redescobrir a possibilidade programática.

5.4. A atualidade do M consiste em que está no começo de um novo projeto hoje em crise, e sua tendência encarna uma das duas reações possíveis à crise: a do projeto.

Sobre 5.1.2., sobre o pensamento praxeológico, uma observação, uma tentativa de esclarecimento. Em “¿A qué género literario pertenece El Capital de Marx?”, mientras tanto 66, pp. 35-36 (agora também em Lecturas de filosofía moderna y contemporánea, Madrid, Trotta, 2004, edição de Albet Domingo), comentava Sacristán, diferenciando pragmatismo e “o gênero literário de O capital”:

O “gênero literário” do Marx maduro não é a teoria no sentido forte ou formal que hoje possui essa palavra. Porém, tampouco é – como queria Croce – o gênero literário de Ricardo. E isso porque Ricardo não se propôs o que essencialmente se propôs Marx: fundamentar e formular racionalmente um projeto de transformação da sociedade. Esta especial ocupação – que acaso pode ser chamada “praxeologia, de fundamentação científica de uma prática – é o “gênero literário” sob o qual caem todas as obras da maturidade de Marx, e até uma grande parte de seu epistolário. Por isso, é inútil ler as obras de Marx como teoria pura no sentido formal da sistemática universitária, e é inútil lê-las como se fossem puros programas de ação política. Nem tampouco são as duas coisas “ao mesmo tempo”, somadas, por assim dizer: são um discurso contínuo, não cortado, que vai constantemente do programa à fundamentação científica, e vice-versa.

É óbvio – e desconhecê-lo seria confundir a “praxeologia” marxiana com um pragmatismo – que a ocupação intelectual obriga Marx a dominar e esclarecer cientificamente a maior quantidade de material possível e, portanto, que sempre será uma operação admissível e com sentido a crítica meramente científica dos elementos meramente teóricos da obra de Marx…

A única coisa realmente estéril, agregava, foi uma constante em seu pensamento, era tornar a obra de Marx algo que tivesse por força que ser embutido na sistemática intelectual acadêmica (o mesmo disse dois anos depois de Gramsci): “forçar seu discurso no da pura teoria como fez a interpretação socialdemocrata e fazem hoje os althusserianos, ou força-lo na pura filosofia, na mera postulação de ideias, como fazem hoje numerosos intelectuais católicos tão bem intencionados como unilaterais em sua leitura de Marx”.

Duas anotações complementares.

Da pasta “OME folhas” da documentação depositada na Biblioteca da Faculdade de Economia e Empresa da UB, uns materiais de trabalho de Sacristán sobre o MC que não estão fechados. Esquema temático detalhado, com breves comentários. Os números remetem aos fragmentos do texto. Os asteriscos assinalam, provavelmente, o interesse especial de alguns passos.

Prólogo.

I. Bourgeois und Proletarier [Burgueses e proletários].

– A história, lutas de clases. Afirmação geral. 1-3. [Possibilidade quebra: 2]. – A luta de classes da época contemporânea: simplificação do quadro das classes. 4-5.

– A burguesia: – Origem. 6. – Desenvolvimento. 7. América, etc. – A manufatura 8: Mudança na divisão do trabalho. – As máquinas, a grande indústria e a burguesia moderna. 9. – O mercado mundial e sua relação dialética com a grande indústria. 10, 11. – Progressos político (burgueses) paralelos da evolução. 12 ** – Função revolucionária da burguesia: 13: – Destruição do mundo feudal. 14. E das cortinas ideológicas da exploração. – Assalariamento de profissões intelectuais. 15. – Desmascaramento da família. 16. – Aumento da produção e da produtividade. 17. – Introdução da mudança permanente. 18**. – Desmascaramento consequente do santificado. – Mercado mundial e cosmopolitismo. 19, 20**. – Universalização civilizatória. 21. Ironiquíssima. – Submissão do campo à cidade. 22. – Processos de concentração. 23. – Criação de forças de produção. 24. – Resumo sociológico da mudança. 25,26*. – A atual sittuação da sociedade burguesa. – Sintomas de nova mudança social. 27***. – A crise. 27. – A crise. 27, 28.

– O proletariado: – Origem e natureza. 29, 30. Eles mesmos “mercadoria”. – O trabalho proletário. 31**. Industrial-maquinista. – A grande organização do trabalho fabril. 32** – Trabalho de mulheres e crianças. 33** – O trabalhador como consumidor. 34. – Proletarização. 35. – Evolução.* 36: – Primeiras lutas proletárias sob direção burguesa. 37, 38. – Concentração proletária e coalisões. 39* – Vitórias provisórias dos operários. 40. Centralização organização. – O proletário e sua revolução: – Classe e partido. Consciência. 41. – Divisões da burguesia. 42**. Formação política e geral do proletariado. – Proletarização e “educação” exógena da classe. 43* – Passagem de ideólogos ao proletariado. 44. – O proletariado, única classe revolucionária, por seu fundamento industrial. 45-54. – Camadas médias. 46. Se possível passagem aos revolucionários. – Lumpenproletariat. 47. – Destruição da svelhas condições de vida no proletariado. 48. – Os proletariados não têm nada que assegurar. 49*. – E sua maioria. A revolução é globalmente social. 50 – Forma nacional da luta. 51. – Domínio proletário pela derrubada violenta da burguesia. 52. – Pauperização: incapacidade da burguesia para continuar dominando. 53* – A ruína da burguesia é político-social: é a união dos operários. 54.

II. Proletatier und Kommunisten [Proletários e comunistas].

– Caracterização do movimento comunista. 1-14: – Os comunistas não são nenhum partido operário particular. 1-3. – Não colocam princípios particulares. 4** – Internacionalismo e globalidade de seu ponto de vista. 5. – Maior decisão, propulsão e compreensão do movimento proletário e seus resultados gerais. 6. – Mesmo objetivo imediato que todos os demais partidos proletários: poder proletário. 7. – Base não ideológica. 8. – Mas sim, generalização da existente luta de classes. 9. – A abolição da propriedade privada. 10-14. – Mudança histórica das relações de propriedade. 10. – Na Revolução Francesa, p. e. 11. – Abolição da propriedade privada burguesa. 12. – Porém, esta é a última forma de exploração. 13*. – Por isso, a teoria comunista é resumível na frase “abolição da propriedade privada”. 14. – Esclarecimento com a crítica ideológica burguesa. 15-69.

[Sobre a propriedade] 15-35: – A crítica da abolição da propriedade pessoal. 15. – Não existe a antiga propriedade pessoal. 16. – Existe a moderna propriedade privada burguesa. 17. – +que não cria propriedade para o operário, mas capital para o capitalista. 18. – O capital é um produto e uma função social. 19. – O capital é uma força social. 20. – Por isso, sua coletivização não é destruição de propriedade pessoal, mas mudança de seu caráter social: deixa de ser classista. 21. – O trabalho assalariado. 22. – Seu preço médio é o mínimo de salário. Não se trata de abolir essa apropriação pessoal, mas de abolir seu caráter miserável. 23. – Trabalho vivo e trabalho acumulado na sociedade burguesa e na comunista. 24. – O passado e o presente em ambas sociedades. Capital e indivíduo ativo. 25. – Abolição dessa situação. 26. – Liberdade burguesa. 27. – A abolição da burguesia a deixa sem sentido. 28. – A propriedade privada em sociedade burguesa é de 1/10 da sociedade. 29. – Trata-se de abolir essa propriedade. 30 – Identificação burguesa de pessoa com propriedade burguesa. 31* – Sua abolição (dessa pessoa). 32. – O comunismo não impede a apropriação pessoal de produtos sociais, mas sua utilização para submissão de outros. 33. – Objeção burguesa da paralisação econômica pela abolição da propriedade privada. 34. – Refutação: os operários não deveriam trabalhar hoje. 35.

[Sobre a educação e a cultura] 36-39: – A burguesia identifica educação de classe com educação. 36. – Sua educação é para a maioria conversão em máquina. 37. – As representações ideais burguesas. 38. – Sua ideologização naturalista eternizadora. 39.

[Sobre a família] 40-52: – Abolição da família. 40. – A família da sociedade burguesa. 41. – Seu desaparecimento com o do capital. 42. – Abolição da exploração das crianças por seus pais. 43. – Instauração da educação social. 44. – Já o é a burguesa: trata-se só de abolir seu caráter de classista dominante. 45. – Os laços familiares já estão destruídos para o proletariado. 46. – Crítica de introdução da promiscuidade. 47. – Baseado em que para o burguês, sua mulher é um instrumento de produção. 48. – Porém, trata-se de abolir essa posição da mulher. 49. – Além disso, a promiscuidade feminina existiu quase sempre. 50. – Usurpação e adultério. 51. – Abolição da prostituição. 52.

[Sobre a pátria, a nacionalidade] 53-58. – Recriminação da abolição da pátria, a nacionalidade. 53. – Os trabalhadores não têm pátria. Ainda que sejam de momento nacionais em outro sentido, por conquista do estado. 54*. – Diminuição das diferenças nacionais já por e com a burguesia. 55. – Aceleração do processo pelo domínio proletário. 56. – Abolição da exploração de nações, paralela da de indivíduos. 57. – Extinção das hostilidades entre nações. 58*

[Sobre outros temas polêmicos] 59-69: – Acusações ideológicas. 59. – Princípio do materialismo histórico, dado como evidência. 60. – Ideias dominantes e classe dominante. 61. – O que quer dizer “ideias revolucionárias”. 62. – Exemplificações históricas. 63**. – Objeção de que as ideias mudam. 64. – Enquanto o comunismo suprime seu próprio lugar. 65. – Resposta: até agora sempre houve antagonismos entre classes. 66. – Através de todas as revoluções. 67*. – Porém, a revolução comunista termina também com as classes, com o comum a toda fase passada, o classismo, e assim com o lugar dessas ideias. 68. – Conclui-se o esclarecimento polêmico. 69.

– Estratégia geral da revolução. 70-76: – Primeiro passo: democracia como domínio proletário. 70. – Centralização estatal e aumento das forças produtivas. 71. – Intervenções despóticas primeiro anti-econômicas, porém inevitáveis para transformação do modo de produção. 72. – Diversidades nacionais dessas medidas. 73. – As 10 medidas para os países mais avançados. 74**. – A passagem para o comunismo. 75-76. – Abolição das classes e da política. 75*. – A associação. 76.

III. Socialistische und Kommunistische Literatur [Literatura socialista e comunista]

1. O socialismo reacionário 1-34: a) O socialismo feudal. 1-10. el *8, el *10. -Legitimistas e jovem Inglaterra. b) O socialismo pequeno-burguês. 11-*17 – Sem moral. c) O socialismo alemão ou “verdadeiro”. 18-34. ***19, *30, *34.

2. O socialismo conservador ou burguês. 35-42. – Proudhon *38, *42.

3. O socialismo e o comunismo crítico-utópicos. – Exclusão da expressão acidental do proletariado na revolução burguesa (Babeuf). 43. – Caráter utópico. 44-52. – Por falta de condições, conteúdo reacionário. 44. – +Ascetismo e igualitarismo vulgar. Os sistemas utópicos nascem na primeira fase da luta entre proletariado e burguesia. 45. – Veem o antagonismo, não a iniciativa proletária. 46. – Não veem as condições materiais da libertação do proletariado, e tentam inventa-las. 47. – Propaganda e projetos. 48. – O proletariado é para eles só a classe que mais sofre. 49. – Acreditam estarem acima da luta de classes. 50. – Por isso, repudiam a ação política, revolucionária. 51. – A concepção corresponde à primeira, obscura aspiração transformadora proletária. 52***. – Caráter crítico, 53-56. Valioso material crítico das teses não positivas, não utópicas. *53. – Sua importância é inversamente proporcional ao desenvolvimento histórico. 54* Degradação reacionária ou conservadora. – Por isso, oposição ao movimento político operário. 55. – Ejemplos. 56.

IV. Stellung der Kommunisten zu den verschiedenen oppositionellen Parteien [Posição dos comunistas frente aos diversos partidos opositores].

– Nova caracterização da estratégia.1-2, concretizando partidos, objetivos intermediários, alianças. 2. – Menção de alguns países 3-6. – Nova caracterização da estratégia à propósito da Alemanha. 5-*6 – Previsão sobre a Alemanha. 7 – Resumo 8-11.

Por certo, como antes assinalava, a única página sobrevivente de um manuscrito do Manifesto Comunista contém na parte superior duas linhas complementares, que foram escritas por Jenny Marx, a hábil decifradora da impossível letra de Marx. Convém recordar estas linhas de sua filha Eleanor, a grande Tussy, uma verdadeira heroína:

Foi uma época terrível [outubro de 1881]. Nossa querida mãe estava no grande quarto da frente. Durmo no pequeno quarto de trás. E os dois, tão acostumados um ao outro, tão próximos entre si, não podiam sequer estar junto no mesmo quarto. Nossa boa e velha Lenchen […] e eu tivemos que cuidar de ambos… Nunca esquecerei a manhã em que se sentiu suficientemente forte para ir ao quarto da mamãe. Quando estiveram juntos de novo, eram pessoas jovens: ela uma garota jovem e ele um jovem amante, ambos no umbral da vida, não um velho devastado pela enfermidade e uma velha agonizante, que se separavam um do outro para sempre. [3]

Na semana que vem, apresentarei um texto de Sacristán de 1956, reeditado pelo Comitê Executivo do PSUC, em fevereiro de 1972, provavelmente seu primeiro material marxista.

Notas:

1) Manuel Sacristán, “¿Qué Marx se leerá-a en el siglo XXI?”. In: Pacifismo, ecologismo y política alternativa, Barcelona, Editorial Icaria, 1987, pp. 123-124 (edição de Juan-Ramón Capella)

2) “Karl Marx”. In: Sobre Marx y marxismo, Barcelona, Icaria, 1983, pp. 296-301.

3) David McLellan, Karl Marx. Su vida y sus ideas, Barcelona, Ed. Crítica, 1983, p. 515

Imagem: Única página manuscrita que se conserva. As duas primeiras linhas foram escritas por Jenny Marx.

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2018/02/22/karl-marx-1818-1883-en-el-bicentenario-de-su-nacimiento-viii-sobre-el-manifiesto-comunista-primera-parte/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)