‘Precisamos arrebentar as correntes que nos prendem’

01'Precisamos arrebentar as correntes que nos prendem'Em entrevista Silvia Reis Marques, da Direção Nacional do MST, fala sobre a Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra que em 2018 levará milhares de mulheres às ruas de 8 a 10 de março
2 de março de 2018 12h00

Por Maura Silva

Da Página do MST

“Quem não se movimenta, não sente as correntes que a prendem”, esse é o lema da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra que vai reunir milhares de camponesas em todo o país de 8 a 10 de março. As mulheres promoveram grandes mobilizações e ações que tem como objetivo rechaçar o governo golpista de Michel Temer, bem como todas as medidas de sua pasta.

A reforma da Previdência e a luta pela democracia seguem sendo as principais pautas de mobilização. Outros pontos como o fechamento das escolas do campo e a falta de incentivo agrícola para a produção nos assentamentos e a precariedade da saúde também serão abordados.

Em entrevista, Silvia Reis Marques, da Direção Nacional do MST, fala sobre a Jornada e convoca as mulheres do campo e da cidade para juntas ocupar seu lugar de luta: “Nessa grande Jornada Nacional de Lutas das Mulheres, chamamos todas para empunharem suas armas bandeiras para reivindicarem e protegerem não só os direitos já conquistados, mas também para batalhar por todo o conjunto da classe. Por isso nós, mulheres Sem Terra que defendemos a terra e a Reforma Agrária também sairemos em defesa da democracia, da soberania e dos nossos bens naturais”.

Histórico

A Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra acontece desde a fundação do MST, sempre na data do 8 de março. Nesse período direitos históricos como o salário maternidade, a previdência rural, o acesso à educação pelas mulheres, assim como o acesso à terra, pautarão a luta. A partir de 2006, a Jornada assumiu um caráter do enfrentamento ao capital no campo, o agronegócio e a mineração, através de uma ação realizada pelas mulheres contra a empresa Aracruz no Rio Grande do Sul. Desde então, as ações seguem mobilizando milhares de mulheres pelo país.

Fale um pouco sobre o lema escolhido para a Jornada deste ano.

O grande lema desse ano é: Quem não se movimenta, não sente as cadeias que o prendem, isso foi pensando porque mais do que nunca precisamos arrebentar as correntes que nos prendem e que nos privam. As cadeias que querem privatizar as nossas vidas, nossas áreas e a nossa terra.

Qual o reflexo do atual período político em que vivemos no cotidiano da mulher do campo?

Nesse período do governo golpista gerido por Michel Temer, as mulheres do conjunto da classe trabalhadora têm sofrido muito com a retirada de direitos e os retrocessos, em especial a mulher do campo, que luta pela terra e pela Reforma Agrária. Além de não conquistar a terra, também não conseguimos acessar programas e incentivos que nos permitam avançar na produção de alimentos saudáveis e sem veneno. Isso sem falar em medidas como a liberação de agrotóxicos, de privatização dos assentamentos e estrangeirização das terras isso afeta diretamente as mulheres campesinas e reflete no conjunto das mulheres trabalhadoras de um modo geral.

Dentro dessas medidas o fechamento das nossas escolas do campo e a falta de políticas públicas voltadas para a saúde e a educação também afetam mais as mulheres. As nossas crianças que poderiam estudar dentro das áreas dos assentamentos passam a frequentar uma escola na cidade, o transporte escolar é escasso, o cuidado com a saúde fica cada vez mais precarizado. Ou seja, todas essas medidas afetam o conjunto da sociedade como um todo, mas se formos analisar o cotidiano, a mulher é mais atingida.

Qual o recado que a mulher Sem Terra quer deixar para as mulheres de todo o Brasil?

Nessa grande Jornada Nacional de Lutas das Mulheres, chamamos todas para empunharem suas armas bandeiras para reivindicarem e protegerem não só os direitos já conquistados, mas também para batalhar por todo o conjunto da classe. Por isso nós, mulheres Sem Terra que defendemos a terra e a Reforma Agrária também sairemos em defesa da democracia, da soberania e dos nossos bens naturais. Essa tarefa é todas e todos nós, a defesa da soberania hoje é crucial para o êxito das futuras gerações.

Qual o tipo de mobilizações das mulheres Sem Terra podemos esperar para o próximo período de eleições?

Para o próximo período estamos programando muitas mobilizações, vamos apertar o cerco na luta pela terra em todo país. Além das ocupações, vamos batalhar por políticas públicas de produção e por programas de tecnologia que contribuam com o avanço da agroecologia em nossas áreas. Isso ao passo de todas as lutas travadas no campo e na cidade. Acreditamos que esse seja o caminho para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Nós, mulheres Sem Terra, convocamos todas as mulheres do Brasil, do campo e da cidade para sair às ruas e ocupar o nosso lugar de luta e mobilização.

http://www.mst.org.br/2018/03/02/precisamos-arrebentar-as-correntes-que-nos-prendem.html