Unidade para resistir, ousadia para avançar!

imagemNo dia 29/03, quinta feira passada, realizou-se a abertura do VIII Congresso da União da Juventude Comunista, no salão nobre do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, no Rio de Janeiro. O evento contou com a participação animada da militância da UJC e de convidados que fizeram parte da mesa, como a delegação do PSOL, representada pelo Vereador Tarcísio Motta, o Deputado Federal Glauber Braga e o pré candidato a Presidente da República Guilherme Boulos, líder do MTST e da Frente Povo Sem Medo; dirigentes do PCB, como o Secretário Geral Edmilson Costa e Heitor César, representantes dos Coletivos Ana Montenegro, Minervino de Oliveira, LGBT Comunista e da Unidade Classista; delegações internacionais das juventudes comunistas do KKE, PC da Venezuela, da Argentina, dentre muitas outras representações de organizações políticas e sociais amigas.

Transcrevemos abaixo a fala do camarada Luís Fernandes, secretário político nacional da UJC é membro do Comitê Central do PCB, que apresentou as principais preocupações do Partido e da UJC no momento extremamente delicado da conjuntura política nacional, apontando, ao mesmo tempo, as perspectivas dos comunistas para o enfrentamento aos retrocessos e ao fascismo e para que avancemos nas lutas em defesa das liberdades democráticas e dos direitos da juventude e da classe trabalhadora no Brasil e no mundo.

“Estimados camaradas,
Delegadas e delegados do VIII Congresso da UJC,
Delegados Internacionais,
Forças políticas aliadas,
Camaradas do comitê central do PCB,

Recebam a mais fraterna e revolucionária saudação. Bem vindos ao VIII Congresso Nacional da UJC! Bem vindos ao congresso que, certamente, marcará o início de um novo patamar na organização dos comunistas brasileiros e seu elo com o movimento juvenil e popular.

Depois de mobilizarmos 5 mil jovens militantes de todo país, realizadas as etapas de núcleo, municipais e estaduais, nós podemos afirma que, além de muita luta e resistência, em nossa organização também há muito debate, reflexão e democracia interna.

Camaradas, na avaliação da coordenação nacional da UJC, amparada pelo comitê central do PCB, depois de um trabalho de décadas, completamos um primeiro objetivo na organização da juventude comunista. Trata-se de uma juventude nacional, presente em 24 Estados de nosso país em todas as regiões. Trata-se de uma juventude combativa presente nas principais lutas da juventude brasileira; trata-se de uma juventude internacionalista, solidária a todos os povos em luta, anti-imperialista e membra ativa da Federação Mundial das Juventudes Democráticas; por fim, trata-se de uma força nacional relevante no movimento estudantil universitário e secundarista.

Avançamos muito no movimento universitário no último triênio, nacionalizamos nosso trabalho de secundaristas e começamos trabalhos em escolas técnicas. Tivemos frutíferas experiências no movimento cultural, em favelas e na construção dos Territórios Sem Medo, nos marcos da nossa participação na Frente Povo Sem Medo.

Esse trabalho foi construído por diversas gerações. Somos filhos de 1917, 1922, 1935, da resistência à ditadura militar e ao liquidacionismo de nosso partido. Somos a geração de comunistas que luta e formula uma estratégica revolucionária em um período de retrocessos, mas que, principalmente, tenta reconstruir o elo dos comunistas com o movimento popular e a classe operária.

Camaradas,

A crise sistêmica do capitalismo e o acirramento das disputas interimperialistas no mundo fazem emergir a base material para o fortalecimento de saídas reacionárias, de extrema direita ou fascistas neste cenário. Após um ciclo de expansão e intensificação da internacionalização do capitalismo brasileiro, vivemos um período de estagnação, aprofundamento da dependência aos centros imperialistas e disputas no interior da burguesia.

A crise sistêmica do capitalismo, por se estender por longos períodos de quedas, estagnação e baixo crescimento, traz consequências nefastas para a juventude e os trabalhadores: desemprego, fome, aumento das taxas de exploração, violência urbana, aumento da repressão do Estado burguês e progressiva limitação às liberdades democráticas.

Camaradas,

No Brasil, fomos a juventude de esquerda que mais cresceu quantitativa e qualitativamente no último período, fruto do amadurecimento estratégico do nosso partido, coerência política e preparo dos nossos quadros. Devemos ter dimensão que os dez últimos anos de crescimento de nossa organização se deu numa conjuntura de relativa liberdade de organização, com a expansão, mesmo que precarizada, do ensino superior. Neste período, ocupamos um espaço importante à esquerda de crítica ao reformismo e a política de conciliação representada pelos governos do PT.

No entanto, conforme indicamos em nossas teses, há uma mudança qualitativa nas lutas de classes após o golpe de 2016 e o aprofundamento da inserção subalterna do capitalismo brasileiro na economia mundial. Também identificamos a ampliação de uma base material e ideológica para a ação de organizações de extrema direita no país. A extrema direita sintetiza os traços mais arcaicos do capitalismo de passado colonial brasileiro: o racismo, o radicalismo neoliberal, o entreguismo, o golpismo, a intolerância e o fundamentalismo religioso. Nesse sentido, devemos ser, juntamente com um bloco de forças populares, vanguarda no processo de construção de unidade da juventude contra os ataques da burguesia e do imperialismo.

Camaradas!

Ao chegarmos a esse diagnóstico tão comum entre as organizações populares no Brasil, incorremos no risco de cairmos em dois perigosos desvios em nossa linha política. O primeiro é um desvio muito combatido na história recente do nosso partido: o oportunismo reformista. O oportunismo reformista nesta conjuntura se concentra basicamente nas ilusões institucionalistas de que, num momento de crise de legitimidade do Estado burguês brasileiro e de ataques diretos aos trabalhadores, o principal calendário a seguir seria o da acomodação das resistências populares ao terreno institucional. O reformismo também pode inviabilizar a mais ampla unidade do movimento popular e da juventude nos processos de resistência. Nós, revolucionários, devemos assumir a dianteira do processo de unidade combativa da juventude e classe trabalhadora.

O segundo cuidado que teremos que ter na aplicação de nossa linha política é o com o esquerdismo, típico da consciência pequeno burguesa. A principal característica do esquerdismo nesta conjuntura é a não compreensão da atual correlação de forças. O esquerdismo minimiza o crescimento da extrema direita em nosso país,  isola-se politicamente e socialmente em nome de um purismo e impõe uma agenda de paralisia interna nas organizações. O inimigo a ser combatido é o seu companheiro de entidade, movimento ou partido.

Camaradas!

Lutar pelo socialismo/comunismo em nosso país implica na tarefa urgente de contribuirmos para a efetiva unidade de todas as forças sociais e políticas que se coloquem na contramão da ordem dominante. Mas não nos enganemos: dentro desta ampla unidade de resistência, deveremos forjar um polo popular, anticapitalista e anti-imperialista, a fim de garantir a independência e a efetiva unidade de ação na resistência.

Camaradas!

Lutar pelo socialismo/comunismo na atualidade é não rebaixarmos nossa estratégia revolucionária. Devemos potencializar a inserção de nossa organização no seio dos movimentos populares e de juventude para sermos uma das forças dirigentes do processo de resistência e contraofensiva socialista. Ser uma força dirigente nada tem a ver com arrogância, auto proclamação e distanciamento do cotidiano do povo trabalhador. Ser uma força dirigente é expressarmos uma parte da rica tradição de luta do povo brasileiro; é termos, mesmo sendo jovens, a paciência revolucionária, sabendo trabalhar em frente e unidade, sem escondermos nossas posições e reais propósitos.

Camaradas!

Lutar pelo socialismo/comunismo é reafirmar criativamente a atualidade da organização leninista juvenil. No último período, não há uma cidade com a UJC organizada que não tenha um núcleo de ação. Temos que consolidar nosso sistema de organizações, aprimorar nossos mecanismos de assistência e comunicação, a disciplina militante, desenvolvendo maior capacidade de centralização de nossas ações nacionais, sem prejuízo das particularidades locais e regionais.

Camaradas!

Vivemos um período de interseção de ciclos, no Brasil e na América Latina, com o enfraquecimento das heterogêneas experiências progressistas e, no caso brasileiro, do governo de conciliação petista, que tanto desarmou nossa classe para a luta contra os seus inimigos.  É normal, pela própria complexidade de nossa realidade, termos posições pontuais distintas. O debate faz parte e é extremamente positivo. O congresso serve para isso, tenham paciência, camaradagem e vejam esse processo como um rico momento de síntese para a construção de nossa política.

Camaradas!

Sabemos, para preocupação de nossos inimigos e adversários, que a ascensão da extrema direita e do fascismo reforça a atualidade de uma organização comunista. Aprendamos com a experiência do último século. As frentes amplas só foram adiante e obtiveram sucesso, quando tinham no seu interior organizações revolucionárias e comunistas dispostas a levar até as últimas consequências a luta antifascista. Nesse sentido, reforça-se nossa responsabilidade de manter e ampliar nossa unidade e laços com a juventude trabalhadora.

Camaradas!

Orgulhemo-nos de nossa história: entre erros e acertos, nós combatemos em 1935, nós ajudamos a levar o Brasil a lutar contra o nazifascismo na segunda guerra mundial, nós desenvolvemos a leitura e a tática mais acertada no combate à ditadura empresarial-militar de 1964. Não somos covardes nem aventureiros, mas sabemos enfrentar o inimigo.

Camaradas!

Mais do que uma mera resistência, temos que ajudar a formar um bloco de forças sociais e políticas que tenha uma perspectiva de futuro. Cada jovem deste país deve saber que, com a UJC, ele terá um instrumento para resistir, mas, mais do que isso, ele poderá participar da construção de uma contraofensiva anticapitalista e anti-imperialista tão necessária para a manutenção da humanidade.

Por fim, camaradas, queremos saudar a decisão do comitê central do PCB em apoiar a candidatura de Guilherme Boulos e Sonia Guajajara, juntamente com o PSOL. Uma candidatura que não se resumirá à importante luta eleitoral, mas será expressão de uma ampla aliança social, capaz de contribuir para a tão necessária reconstrução do movimento popular e operário no Brasil, como alternativa ao projeto de conciliação de classes.”

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