Belicistas natos

imagemJorge Cadima

Odiario.info

A Cimeira da OTAN revelou de novo, publicamente, as intensas contradições e disputas entre as velhas potências imperialistas. Não é um fato secundário, nem um mero problema de pessoas ou birras: o terremoto em curso tem bases objetivas profundas.

Reflete a profundíssima crise do capitalismo. Reflete o esgotamento dos mecanismos de reprodução do capital e o consequente acirrar das disputas pelos lucros ainda disponíveis. Reflete a inexorável deslocação do centro de gravidade econômico do espaço euro-atlântico para leste. Reflete o decenal declínio econômico e financeiro dos EUA, também face à UE, e simultaneamente o seu poderio militar.

A diatribe de Trump contra a Alemanha e o gasoduto que a ligará à Rússia evidenciou que, longe do palavreado sobre «valores» ou «defesa», estão em jogo o poder e as negociatas, com destaque para a energia e armamento. Sempre foi assim. A novidade é que as repreensões que, em público, eram dadas (por todos) aos «países recalcitrantes» atingem agora aliados, em diretas televisivas no café da manhã.

Ao contrário da Cimeira dos G7, desta vez houve declaração final. A ilusória recomposição baseou-se na escalada militarista. Os ataques da facção globalista do capital contra Trump são ferozes. O Trilateralista Wolf chama-lhe um «ignorante perigoso» (Financial Times, 10.7.18) que está «em guerra contra a ordem mundial liberal» (FT, 3.7.18).

Mas, no momento de decidir, todos acompanham Trump, aumentando as despesas militares (públicas) em 266 bilhões de dólares, que gerarão colossais lucros (privados).

Incluindo a UE dos «valores europeus». Incluindo Tsipras e Costa. Face às repreensões, todos aprovam uma Declaração Final que é um monumento à mentira. A OTAN comemorou os seus 50 anos com a guerra à Iugoslávia, violando o Direito Internacional e a ONU (hoje presidida pelo então primeiro-ministro português, que deu o seu aval a essa guerra). Destruiu países inteiros, como a Líbia. Sustenta a ação dos fascistas na Ucrânia e Israel. A Colômbia narco-terrorista tornou-se seu membro associado. Ao longo do ano, o patrão da OTAN violou acordos internacionais sobre o Irã e Jerusalém. Dispara em todas as direções.

As empresas que compram petróleo ao Irã deixarão de ter acesso ao mercado dos EUA (New York Times, 26.6.18). Mas a Declaração da OTAN tem o desplante de começar proclamando que são «as ações agressivas da Rússia, incluindo a ameaça e o uso da força para alcançar objetivos políticos» que «desafiam a Aliança e minam a segurança Euro-Atlântica e a ordem internacional baseada em regras». O delírio torna-se absurdo quando proclama que «a nossa unidade e solidariedade são hoje mais fortes do que nunca». O cambaleio do presidente da Comissão Europeia antes (!) do jantar de gala não destoou, afinal, na farsa grotesca desta Cimeira.

Mas o assunto é sério. Não se trata apenas de que as despesas belicistas serão roubadas aos povos. A OTAN sempre foi um instrumento de dominação do imperialismo dos EUA, e o militarismo alimenta a reação (externa e interna) e as dinâmicas de guerra. As querelas entre máfias capitalistas em disputa por territórios e riquezas já produziram guerras mundiais. Quem pensa que combate a máfia pagando-lhe tributos está enganado. É urgente exigir: fim da OTAN!

*Este artigo foi publicado no Avante! nº 2329, 19.07.2018

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