Call center rico e operador(a) pobre

imagem“O sorriso na voz” e a exploração na pele: trabalho degradante nos call centers

Comissão Nacional de Jovens Trabalhadores – UNIÃO DA JUVENTUDE COMUNISTA

O mundo vem trazendo novos elementos para a constituição e organização do trabalho e da vida social. Por meio das Revoluções Industriais e Tecnológicas acabam surgindo novas formas de trabalho, acompanhadas da nova dinâmica da acumulação capitalista e consequentemente de exploração da força de trabalho no século XXI. Formas de trabalho que conseguem associar o inovador da tecnologia, com relações de trabalho de décadas atrás, uma junção entre o velho e o novo. Esta combinação também permeia o desmonte na legislação trabalhista, com a chamada “modernização”, que na realidade expressa uma agudização da precarização do trabalho, piores condições e relações de trabalho.

Uma das áreas que mais têm crescido no Brasil, seguindo o receituário da precarização, é o trabalho em rede de operadores de telemarketing, que hoje já atinge a quantidade de mais de um milhão de trabalhadores nessa área, espalhados por todas as regiões do país [1].  O setor é oligopolizado, as duas maiores empresas (Atento e Liq) contrataram, em 2017, 42% (161.077 operadores) do total de operadores de telemarketing ocupados nos 20 maiores call centers do Brasil [2].

A força de trabalho destas empresas é composta em sua maioria por jovens, mulheres, negros/as, LGBTs que muitas vezes estão em seu primeiro emprego, iniciando sua vida no mercado de trabalho e acabam se deparando com uma situação de degradação da vida humana em seus vários aspectos. Os salários estão entre os mais baixos do mundo para o setor. Teleoperadores estadunidenses, por exemplo, possuem uma média salarial dez vezes maior que a de um teleoperador brasileiro [3].

As consequências da atual crise colocam a necessidade da juventude procurar emprego cada vez mais cedo e em condições cada vez mais precárias. As elevadas taxas de desocupação são ainda mais alarmantes para setores da juventude trabalhadora brasileira. Dados do IBGE apontam para uma taxa de desocupação, entre jovens de 18 a 24 anos, de 28,1% no primeiro trimestre de 2018 [4] [5]. Esta condição de insegurança acaba por arrastar uma multidão desses jovens para ocupações precárias, como o trabalho de operador de telemarketing.

As pressões para bater metas (metas essas que são quase impossíveis de serem atingidas), o desrespeito ao trabalhador através de gritos, xingamentos, ameaças, advertências e suspensões compõem o dia a dia de um “call center”. Além disso, os equipamentos danificados ou impróprios, a alta rotatividade de trabalhadores e as curtas pausas de descanso, colaboram no desgaste precoce destes trabalhadores. Esse desgaste pode expressar-se no adoecimento, não são raros os casos de Lesões por Esforço Repetitivo (LER), Perdas Auditivas Relacionadas ao Ruído (PAIR), infecções urinárias (devido a limitação no uso do banheiro), gastrites, quadros depressivos agudos e outros tipos de transtornos mentais [1].

Por esta configuração de pressão constante, de estar sempre cobrando o trabalhador, incentivando a competitividade entre os próprios operadores, o clima de constantes ameaças, de troca constante de trabalhadores e a própria influência e o poder dessas empresas (muitas delas multinacionais), acabam por dificultar a organização dos trabalhadores para exigir seus direitos.

Para intensificar ainda mais essa dificuldade, a entidade representativa que deveria servir para a defesa intransigente desses trabalhadores, acaba servindo para ser um “sindicato das empresas”, um sindicato patronal que muitas vezes serve para desorientar trabalhadores que já se esgotaram com tamanha exploração e tentam procurar processos legais contra a empresa, que o sindicato acaba não assessorando da maneira que precisa. Também não é incomum que os sindicatos assumam pautas pragmáticas e conciliatórias garantido empregos às custas de mais flexibilização e precarização das condições de trabalho. Outra associação prejudicial a organização dos trabalhadores são os sindicatos que atuam como verdadeiros “clubes de descontos”oferecendo vantagens na aquisição de planos de saúde, descontos em universidades privadas e atividades festivas.

A União da Juventude Comunista (UJC) compreendendo todos esses elementos que colocam em constante degradação a vida de parte da juventude trabalhadora brasileira, já organizou campanhas nacionais em parceira com a Unidade Classista abordando a importância da sindicalização da juventude e a retomada dos sindicatos para uma perspectiva classista [6] [7].

No momento de acirramento da luta de classes, organizar essa juventude trabalhadora é fundamental. Buscar novas formas de se organizar internamente no local de trabalho, por meio da compreensão das irregularidades encontradas, meios de se organizar por setores de atendimento, buscando assim a descentralização dessa massa de trabalhadores de forma genérica em cada empresa e buscando a centralização na organização em cada setor de atendimento, compreendendo suas particularidades e, ao mesmo tempo, aquilo que unifica todos os trabalhadores do telemarketing.

Por isso a UJC reforça a necessidade de organização de setores da juventude trabalhadora. As péssimas condições de trabalho, as humilhações sofridas rotineiramente, os baixos salários, o adoecimento, entre outros, só serão combatidos no processo de organização e luta dos trabalhadores. No entanto, não devemos nos enganar com soluções simplistas e conciliatórias, a exploração do ser humano pelo ser humano só acabará com o fim do capitalismo!

Juventude trabalhadora vai à luta organizada!

Pelo Poder Popular!

Referências:

[1] https://g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/noticia/voce-nao-presta-para-nada-a-rotina-de-estresse-xingamentos-e-pressao-dos-atendentes-de-telemarketing.ghtml?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=g1

*A expressão “Sorriso na Voz” é utilizada pela supervisão como uma exigência de “simpatia/atenção” no atendimento aos clientes, mascarando as pressões e as péssimas condições de trabalho.

[2]  http://ranking.callcenter.inf.br/monteseuranking/?r=opet

[3]  BRAGA, Ruy. A angústia dos subalternos. In: BRAGA, Ruy. A política do Precariado: do populismo à hegemonia lulista. São Paulo: Boitempo Editorial, 2012. Cap. 4. p. 181-221

[4] https://www.valor.com.br/brasil/5531767/ibge-desemprego-tem-alta-proporcional-maior-entre-jovens-no-trimestre

[5] https://pcb.org.br/portal2/20095/o-esgarcamento-violento-da-forca-de-trabalho/

[6] http://ujc.org.br/campanha-juventude-vai-a-luta-sindicalizada/

[7]  http://ujc.org.br/call-center-rico-operadora-pobre/

http://ujc.org.br/o-sorriso-na-voz-e-a-exploracao-na-pele-trabalho-degradante-nos-call-centers/

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