“Pañuelazo” Internacional pelo Direito ao Aborto Legal, Seguro e Gratuito

imagemArgentina, 08 de agosto: a maré verde tomou as ruas

Por Carlos Aznárez, Resumen Latinoamericano,  8 de agosto de 2018.

Um milhão e meio ou mais… quem pode contar com certeza a multidão que ocupou todo o grande centro da Cidade de Buenos Aires. Há que agregar centenas de milhares mobilizados em cada cidade importante ou povoado desde Jujuy a Tierra del Fuego. Os entendidos em marchas e concentrações asseguram que faz muito tempo, mas muito mesmo, que não se via algo assim. A maré verde de jovens, adolescentes e também uma grande quantidade de famílias, pais e mães com filhas e filhos pequenos. Todas, todos unidos em um só grito: Aborto legal, seguro e gratuito, que na linguagem das ruas se traduz em palavras de ordem dirigidas à instituição que mais lobby fez para frear a lei: “saquem seus rosários de nossos ovários”. Soa forte, não? Imaginem-se quantos anos de “paciência”, humilhações e raiva acumulada são obrigadas a suportar as avós, mães e toda a teia familiar em torno de cada uma dessas mulheres e dissidências sexuais que marcharam neste histórico 8 de Agosto na Argentina e no mundo.

massa humana verde superou com folga a outra marcha insigne, quando se obteve a vitória parcial na Câmara dos Deputados, e com certeza se passou por cima de quem anseia, com seus rostos voltados aos céus e rezas, viver nas cavernas ou nos corredores das igrejas.

Não importava o que tenha votado esse grupo de senadores ( o Senado argentino, por 38 votos, rejeitou o projeto em favor da legalização do aborto), alguns dos quais dinossauros fascistóides, papa hóstias ajoelhados perante seus governadores, tão retrógrados quanto eles. O que importa é que esta lei necessária se conquista nas ruas e não entre quatro paredes. Qual destes tipos vai se animar a pedir  outra vez o voto a quem traiu na hora de legislar? E mais ainda se tratando destas raparigas e rapazes que vêm lutando com força desde há muito e o seguiram fazendo até que logrem parir (desculpem o termo) esta lei. Para que não morram mais mulheres humildes, para que o patriarcado caia definitivamente, e em sua derrubada sepulte os retrógrados que neste 8A histórico votaram contra o projeto.

Também há que saber: esta batalha se ganha dia a dia em cada casa onde uma adolescente fala com franqueza a sua mãe a respeito do tema, e quando ambas e não poucas vezes o homem da família marcham juntos nas mobilizações do “nem uma a menos”. A luta vai tecendo desobediências, rebeldias e enfrentamentos à hipocrisia reinante, quando a autoconfiança das jovens rompe com as iniciativas do engomado e retrógrado discurso do patriarcado, este discurso machista que habita os lugares mais insuspeitos.

A partida não terminou neste 8 de Agosto, mas a maré verde já pode festejar. Nenhum político por estas terras consegue reunir mais de milhão e meio de vozes e corpos brincando, cantando e gritando nas ruas.  Seus gestos despreocupados, sua criatividade ao confeccionar as bandeiras e o colorido (em todos os matizes de verde e lilás) dão ânimos para seguir pelejando por outras imprescindíveis reivindicações. Claro que para obter um triunfo definitivo há que conservar a memória desta jornada memorável, da força de um povo-mulher que suportou frio e copiosa chuva, mas não se moveu do encontro para o qual havia sido convocado. Também é preciso recordar o que significa  esta pseudodemocracia com que se engana impunemente a populações inteiras. Não, não é somente uma lei a que se necessita aprovar para que esta sociedade se converta em algo mais suportável que a presente, são milhares que, em nome de uma delegação mentirosa a Parlamentos carregados de inúteis e corruptos, terminaram no papel molhado. Porém, tudo se andará, apesar de tudo: saudações, companheiras e companheiros, ou melhor: companheirxs, como dizem estas jovens maravilhosas herdeiras de outras tantas que com sacrifício e valentia forjaram o caminho.

Argentina #8A: apesar do voto do Senado, ganhamos

imagemPor Mariana Carbajal / Resumen Latinoamericano / 9 de agosto de 2018.

Ganhamos. Contra as mentes velhacas se impôs uma juventude fervorosa que encontrou no pano (“pañuelo) verde um símbolo de igualdade. Ganhamos contra os fundamentalismos, porque caiu em evidência e em questão a sustentação do culto católico por parte do Estado e a pretensão da hierarquia eclesiástica de influir sobre as políticas públicas sanitárias e educativas. Já se vendem nas ruas os pañuelos laranjas, bandeira da separação da Igreja do Estado. Ganhamos, porque os argumentos baseados em crenças religiosas mostraram as mentiras dos antidireitos. Ganhamos, porque o aborto deixou de ser um tabu e saiu do armário para se descriminalizar socialmente. Ganhamos, porque as mães e avós contaram a suas filhas e netas sobre seus abortos, porque as adolescentes levaram o debate a seus lares e às escolas. Ganhamos, porque o mundo nos mirou e descobriu que na Argentina nós mulheres não temos o direito de decidir sobre nossos corpos e ficamos vergonhosamente expostos como um país onde não gozamos de cidadania plena. Nunca nos concederam nada. Para estudar nas universidades, para poder ter direito ao voto, para poder decidir sobre a vida de nossos filhos, para ter acesso gratuito a anticonceptivos, sempre tivemos que nos manifestar nas ruas. As lutas feministas destroem as correntes. Os votos que faltaram para descriminalizar e legalizar o aborto não são mais que uma pedra no caminho. Não foi ontem. Será amanhã.

Pañuelazos em todo o mundo

imagemEm várias cidades do mundo se realizaram pañuelazos e atividades em apoio à luta pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito na Argentina, reivindicando o mesmo direito nos países onde ainda é proibido.

Reproduzimos as convocatórias:

MARCHA NO RIO DE JANEIRO, BRASIL

imagemPELA VIDA DAS MULHERES, VAMOS OCUPAR O RJ COM UMA MARÉ VERDE NO DIA 08 DE AGOSTO!

PELO ABORTO LEGAL E SEGURO!

Marcha pela Legalização do Aborto na América Latina – Ato Nacional no Brasil

Nos dias 3 e 6 de agosto aconteceram audiências no STF para ouvir especialistas em relação à Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442, representada pelo PSOL e pela Anis.

Esta ADPF questiona a legalidade dos artigos 124 e 126, que criminalizam o aborto, diante dos direitos garantidos na Constituição Federal. O nosso entendimento é que a criminalização representa o descumprimento de preceitos fundamentais como a dignidade da pessoa humana, a cidadania, a não discriminação, a liberdade, o direito à saúde, e os direitos sexual e reprodutivo.

Nenhuma mulher merece ser presa ou morta ao decidir interromper uma gravidez. A legalização do aborto é pela vida das mulheres!

Na América Latina, apenas o Uruguai, a Guiana Francesa, Cuba e a cidade do México têm legislação que garante o aborto legal. Com a nova postura da Argentina, a favor da decisão autônoma da mulher, isso poderá ter impacto entre os vizinhos e pressionar pelo debate nos países da região, como o Brasil.

Vamos às ruas! Pelas mulheres argentinas, pelas mulheres Latino Americanas, por nós brasileiras e pelas que virão depois de nós.

Educação sexual para escolher,

Contraceptivos para prevenir,

Aborto Legal para não morrer!

No RJ:

Concentração: 16 horas na Alerj

Marcha: 18 horas até Cinelândia

SÃO PAULO, BRASILimagem

LA PAZ, BOLÍVIAimagem

CIDADE DE MÉXICO, MÉXICO

Encontro: quarta-feira, 8 de agosto, 16 h, no Ángel de la Independencia.imagem

SÃO JOSÉ DA COSTA RICA, COSTA RICAimagem

SÃO JOÃO DO PORTO RICO, PORTO RICOimagem

BOGOTÁ, COLÔMBIAimagem

LIMA, PERUimagem

SANTIAGO DO CHILE, CHILEimagem

MONTEVIDÉU, URUGUAIimagem

QUITO, EQUADORimagem