Xenofobia e racismo fomentados pela mídia, pelo Estado e os partidos da ordem

imagemElton da Silva*

Se estivesse em preto e branco, os vídeos abaixo poderia facilmente ser confundido com um vídeo da Alemanha nazista. Ao fundo, moradores de Pacaraima guiados pela xenofobia e pelo racismo expulsam venezuelanos de Pacaraima, cidade de Roraima que faz fronteira com a Venezuela. Cantam o hino nacional enquanto são contidos por um cordão de isolamento feito pelo exército e pela polícia federal. Do outro lado, milhares de irmãos venezuelanos, trabalhadores, gente do povo, fugindo em direção à linha da fronteira.

Neste dia, como muitas pessoas já viram pelos noticiários, teve início um conflito na cidade por conta de um um assalto a um comerciante supostamente cometido por alguns venezuelanos. Este foi o estopim para uma ação organizada e generalizada contra os venezuelanos. Foram queimados os acampamentos improvisados pelos venezuelanos feitos de papelão, plástico e pedaços de madeira. Foram queimados seus pertences e documentos. Homens, mulheres e crianças expostos, vítimas desses ataques fascistas, com total anuência do Estado, que nada fez para impedir ou conter estas ações. A Polícia e o exército nada fizeram.

Estou até agora tentando digerir a situação. Nunca vi algo parecido. Hoje faz 3 meses que cheguei à Roraima e nunca vi algo assim, ainda que, nesse tempo, eu tenha percebido o clima de xenofobia e racismo presente e em pleno ascenso.

Fui a Pacaraima no mês passado e vi de perto a situação da cidade e dos imigrantes. Muita, mas muita gente mesmo dormindo nas ruas, em acampamentos improvisados com papelão, pedaços de madeira e plástico. Milhares de venezuelanos vivendo sob péssimas condições. Situação dramática mesmo. A cidade é bem pequena e não tem estrutura para atender essa demanda.

Importante dizer que o que aconteceu em Pacaraima não é um fato isolado. Em março, em Mucajaí, cidade do sul do estado, aconteceu algo parecido, ainda que em proporções menores. Na ocasião, venezuelanos foram expulsos de abrigos improvisados e tiveram seus pertences e documentos jogados na rua e queimados.

Aqui em Boa Vista, na semana passada, tentaram fazer o mesmo. Grupos de extrema direita tentaram se organizar para expulsar venezuelanos que ocuparam prédios públicos e casas abandonadas. Nos grupos de WhatsApp surgiram áudios de incitação aos ataques.

Também aqui, há cerca de duas semanas, um ativista de uma ONG que trabalha com imigrantes recebeu diversas ameaças de morte de grupos organizados, grupos de direita. Um companheiro do PSTU também foi ameaçado de morte.

O grande culpado por esta situação em Roraima é Michel Temer e a quadrilha que ocupou o Planalto. Percebe-se também que esta ausência do governo federal é parte da disputa política local entre o PP (da governadora Suely Campos) e MDB (mais especificamente, o Jucá). A impressão que fica é que o MDB quer sufocar o estado de Roraima para causar uma sensação de esvaziamento do governo do estado na população e assim conseguir eleger o Jucá pro Senado, e o Anchieta, para o governo.

Anchieta é o candidato do PSDB ao governo do estado e está em primeiro nas pesquisas, é o candidato apoiado pelo MDB, SD, PPS, PTC. Em segundo lugar, está Antonio Denarium (PSL), um latifundiário do estado que, se eleito, aplicará à risca a política do Bolsonaro aqui no estado.

O clima de xenofobia e de racismo é crescente e assustador em Roraima, está se enraizando na população e é fomentado, em grande parte, pela mídia, pelo Estado e pelos partidos da ordem. É comum ver a governadora, a prefeita de Boa Vista ou o prefeito de Pacaraima estimularem atos de violência contra os imigrantes venezuelanos, seja de forma direta, seja a partir de posições públicas na mídia.

Recentemente, Suely Campos editou um decreto que, de tão, absurdo, foi considerado inconstitucional pelo STF, já que ela pretendia assumir funções que cabem diretamente ao governo federal, em especial no que tange ao controle da fronteira e ao atendimento aos imigrantes.

Michel Temer, a prefeita de Boa Vista, Teresa Surita (MDB), o prefeito de Pacaraima, Juliano Torquato (PRB), e a governadora Suely Campos (PP) são responsáveis diretos pelos atos de racismo praticados pela população. São responsáveis diretos pelo que aconteceu em Pacaraima, pelo que aconteceu em Mucajaí, pelo que vem acontecendo em Boa Vista e pelo que pode ainda ocorrer. Qualquer vida que for ceifada nesses conflitos estará na conta desses partidos e dessas pessoas.

Toda solidariedade aos imigrantes venezuelanos e toda nossa repulsa aos que incitam o ódio, a xenofobia e o racismo contra nossos irmãos.

*Militante do PCB-RJ