Juros e tarifas altas garantem lucro de R$ 42 bilhões a bancos

imagemA reestruturação das despesas com pessoal é outro fator que explica o aumento do lucro, afirma economista do Dieese

Rute Pina

Brasil de Fato

Itaú Unibanco, maior banco do país, teve alta de 6,5% no total de ativos no último ano / Douglas Pfeiffer Cardoso / Flickr

Os cinco maiores bancos do país ampliaram seus lucros mesmo em um cenário de recessão econômica. Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Santander e Caixa Econômica Federal, juntos, alcançaram o lucro líquido de R$ 41,9 bilhões no primeiro semestre de 2018.

O número representa um avanço de 17,8% em um ano. O total de ativos destas instituições bancárias alcançou R$ 6,2 trilhões, o que equivale a um crescimento de 3,8% em relação a junho de 2017.

A 14ª edição do estudo Desempenho dos Bancos foi produzida pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e divulgado nesta quarta-feira (3).

Outros setores

Os resultados das instituições financeiras foram superiores aos apresentados por empresas de outros setores no país. A economista do Dieese Catia Uehara explica que os juros elevados, as tarifas altas e o fechamento de postos de trabalho garantiram os resultados positivos dos bancos.

“No primeiro semestre de 2018, mesmo em uma conjuntura ainda bastante adversa, com uma recessão ainda prolongada, com sinal de crescimento econômico efetivo, os bancos continuam tendo resultado bastante expressivos”, pontua Uehara.

“Não houve uma resposta importante no sentido de reduzir taxa de juros bancárias, mesmo com a queda da Selic, as taxas continuam extremamente elevadas, principalmente para pessoa física.”

A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira usada para controlar a inflação. O Comitê de Política Monetária manteve a taxa inalterada em 6,5% ao ano, menor nível desde o início da série histórica do Banco Central, em 1986. Mas, apesar de estar em queda desde outubro de 2016, os juros aos clientes bancários não caíram na mesma proporção.

A economista Leda Paulani, professora de economia da USP, refuta a ideia de que a taxa de juros praticada pelos bancos é muito alta no Brasil porque os credores não têm garantias. Para ela, os juros cobrados no país são “absolutamente distorcidos”.

“Isso, na verdade, reflete o enorme poder que essa fração bancário-financeira dos interesses burgueses tem no Brasil há muito tempo. Isso não se reduz aos bancos: o sistema financeiro é muito mais do que só os bancos, mas eles são o elemento que mais se destaca”, afirma.

Números

O Itaú Unibanco, maior banco do país, teve uma alta de 6,5% no total de ativos no último ano, alcançando R$ 1,54 trilhão. No mesmo período, os ativos do Banco do Brasil ficaram praticamente estáveis, totalizando R$ 1,45 trilhão. No Bradesco, os ativos cresceram 4,2%, chegando a R$ 1,24 trilhão. Já o Santander, por sua vez, apresentou o maior crescimento: 13,2% e atingiu R$ 739,1 bilhões.

A Caixa foi a única instituição bancária com queda nos ativos, em relação a junho de 2017, com redução de 0,4%. O banco público chegou a R$ 1,27 trilhão em ativos.

Redução de postos de trabalho

De acordo com a Catia Uehara, outro fator que também explica o aumento do lucro dos bancos é a reestruturação das despesas de pessoal.

Caixa e Bradesco, por exemplo, já sentiram os reflexos de Programas de Desligamento Voluntário (PDV), implementado em julho 2017, após a aprovação da Reforma Trabalhista. Ao todo, nos cinco bancos, houve o fechamento de mais de 7 mil postos de trabalho.

“Isso é mais do que demissão. É redução de postos de trabalho decorrente de alguns planos de demissão voluntária que foram realizados de 2017 para cá. E também redução do número de agências”, aponta a economista.

Novas tecnologias

“Além disso, o estudo também faz uma abordagem acerca das introduções das novas tecnologias dentro dos bancos, principalmente o mobile bank, o que faz com que os bancos consigam fazer essa reestruturação com base em redução de agências e redução de postos de trabalho.”

Edição: Katarine Flor

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