O serviço sujo do torturador Ustra

imagemGrupo Tortura Nunca Mais/RJ

Esse molequinho de regata branca, meio que se escondendo atrás da irmã, é Edson Teles. Em 1972, poucos dias depois do Natal, seus pais foram presos e levados para o DOPS. No dia seguinte, a polícia voltou em sua casa, e tirou ele e a irmã das mãos de sua tia, que estava cuidando das crianças, e levou até a sede do órgão de repressão política Operação Bandeirantes, no bairro do Paraíso, em São Paulo. Edson Teles tinha quatro anos de idade. Sua irmã ia fazer seis.

As crianças passaram dias na sede da OBAN, sendo levados para dormir à noite na casa de uma agente da repressão com quem nunca antes tinham tido contato. Não lhes foi permitido se comunicar com a tia, nem com os pais. Exceto uma vez, quando Edson e a irmã foram levados até uma sala onde seus pais estavam sendo torturados. Seu pai, recém-saído de um coma causado pelos espancamentos, mal estava consciente. Sua mãe estava amarrada em uma cadeira, nua, recoberta pelo próprio sangue e fezes após sofrer horas de tortura. As crianças não a reconheceram a princípio: seu rosto estava desfigurado por hematomas. Após entender que aquela era sua mãe, Edson perguntou “por que você tá azul e o papai tá verde?”

Edson e sua irmã foram despachados então para a casa de parentes simpáticos à ditadura, em Minas Gerais. Lá sofreram maus tratos e abuso psicológico. O trauma dos dias na OBAN e de ter visto os pais torturados perdurou por muito mais tempo. Anos depois, as crianças ainda se escondiam quando ouviam a campainha de casa tocar.

O caso deles não foi o único. Nem foi o pior. Carlos Alexandre de Azevedo tinha um ano e oito meses quando foi levado ao DOPS. Ele foi torturado na frente da mãe para forçá-la a entregar informações que não tinha. Teve sequelas pelo resto da vida. Em 2013, cometeu suicídio.

O responsável pela tortura dos pais de Edson, de Carlos, e de muitos outros, além da tortura psicológica feita em Edson e na irmão, foi o Coronel Carlos Brilhante Ustra, falecido em 2015. Em seu próprio livro, “Rompendo o Silêncio”, o Coronel reconheceu os fatos que narrei, embora tenha suprimido os nomes de suas vítimas. Em mais de uma oportunidade, após a morte do coronel, o então deputado Jair Bolsonaro homenageou o torturador confesso. Em uma ocasião, o chamou de “herói”. Dedicou a ele seu voto durante o impeachment da Dilma, televisionado em cadeia nacional. Ainda esse ano, seu filho caminhou pelo Congresso e postou foto no Instagram exibindo uma camiseta onde estava escrito: “Ustra Vive”.

Dia 28 de outubro, você terá muitas escolhas a fazer. Algumas, difíceis e desagradáveis. Uma delas é não ajudar a eleger um homem que celebra e admira um confesso torturador de crianças, mandante de assassinatos e estupros. É entre você e sua consciência.