As eleições nos EUA e a reorganização da classe trabalhadora

imagemPor Gabriel Landi Fazzio*

Realizadas no último dia 6 de novembro nos EUA, as eleições intermediárias (chamadas “midterms” por serem realizadas na metade do mandato presidencial) elegeram representantes para ocupar os 435 assentos da Câmara; 35 dos 100 assentos do Senado e mais alguns Governos estaduais.

Para a oposição ao governo de Donald Trump, as eleições foram motivo de celebração. Os Democratas obtiveram maioria na Câmara, sinalizando para conflitos ainda mais intensos entre os poderes (legislativo e executivo) no próximo período e uma oposição parlamentar revigorada às medidas propostas por Donald Trump.

Em meio aos ataques de Trump à população transexual, o movimento LGBT comemora a eleição do primeiro governador declaradamente gay, Jared Polis, pelos Democratas do Colorado. Ao mesmo tempo, o movimento de mulheres celebra a eleição de mais de 100 mulheres, um recorde histórico (ainda que, com efeito, se trate de menos ¼ da Câmara, mostrando o quão longo caminho a luta das mulheres tem a percorrer, mesmo nesse país que se orgulha de sua “civilização”).

Mas não é apenas a oposição liberal e pequeno-burguesa que tem motivos para celebrar os resultados eleitorais. Para a classe trabalhadora e para as tendências socialistas, o resultado deste pleito representa um gigantesco passo na reorganização da ofensiva proletária. A tendência dos Socialistas Democráticos, no interior do Partido Democrata, vem apresentando um crescimento significativo. Em poucos anos, a corrente ligada ao Senador Bernie Sanders (reeleito como candidato independente) viu suas fileiras aumentarem de cerca de 5 mil para em torno de 50 mil militantes. O saldo político desse crescimento fica evidenciado com a eleição de três candidatas da tendência para cargos legislativos: as Socialista-Democráticas Alexandria Ocasio-Cortez; Julia Salazar (ambas de Nova Iorque) e Rashida Tlaib (de Michigan).

A eleição de três candidaturas populares, autodeclaradas socialistas, em um país como os EUA (onde o reformismo de esquerda nunca se firmou como uma alternativa efetiva da ala esquerda da burguesia imperialista) é um indicativo importante da radicalização ideológica e do avanço de consciência pelos quais a classe trabalhadora estadunidense tem passado nos últimos anos, e que já pudemos abordar com mais detalhamento em outra ocasião. Ainda que essas três candidaturas não proponham políticas revolucionárias, não podemos ter dúvidas: essas três companheiras farão infinitamente mais pela oposição parlamentar e, em especial, de massas a Donald Trump do que todas as demais centenas de democratas de direita!

Além disso, 743 candidaturas de militantes sindicais foram eleitas, seja para cargos parlamentares em âmbito local, seja para o parlamento nacional. Ao lado do tímido avanço ideológico representado pelas três socialistas-democráticas eleitas, esse é provavelmente o mais seguro índice (eleitoral, é claro) do processo de reorganização que vive a ofensiva proletária no país. Também são bastante significativos os resultados dos plebiscitos que ocorreram juntamente com as eleições. Em Missouri e no Arkansas, os eleitores aprovaram o aumento do salário mínimo estadual por ampla maioria. Na Flórida, a maioria votou pela restauração dos direitos democráticos de mais de 1,4 milhões de pessoas que haviam perdido seus direitos políticos por conta de “crimes de opinião”.

Na região administrativa [“county”] de Humboldt, na Califórnia, 51,56% dos eleitores aprovaram a chamada Medida K, defendida pelos comunistas do Partido pelo Socialismo e pela Libertação (PSL). A medida representou uma vitória significativa para os trabalhadores imigrantes, em especial aqueles em situação irregular, sem documentos. A proposta restringiu o poder das polícias locais de colaborar com as forças federais anti-imigração, limitando seu poder para deter e deportar tais trabalhadores. A proposta chegou a ser apresentada pelos seus defensores como uma medida para “criar uma região-santuário” a fim de proteger os trabalhadores sem visto de permanência e documentação. Trata-se, sem dúvida, de uma grande vitória dos proletários imigrantes em situação precária e ilegal e uma expressiva demonstração de solidariedade de classes – uma vez que, evidentemente, os eleitores que aprovaram tal proposta são justamente os trabalhadores com direitos políticos, ou seja, não são imigrantes em situação ilegal.

Parece que finalmente a classe trabalhadora estadunidense está despertando de sua longa letargia política e, ainda dando seus primeiros passos, busca os caminhos de sua emancipação. Esperamos que o movimento revolucionário socialista encontre, mais cedo do que tarde, o seu caminho em direção à mais firme união com o movimento das massas proletárias!

*Gabriel Landi Fazzio é metroviário, advogado e militante do PCB-SP