Governo Bolsonaro planeja com EUA ataques a Cuba e Venezuela

imagemSergio Alejandro Gómez*

ODIARIO.INFO

A eleição do candidato neofascista no Brasil irá repercutir num acréscimo da agressividade imperialista contra os regimes progressistas na América Latina e contra a Cuba revolucionária. Os EUA esperam de Bolsonaro que seja um digno sucessor dos bárbaros ditadores que mantiveram o domínio sobre o seu «quintal».

O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, encomendou a seu filho a tarefa de subordinar a política exterior da nação sul-americana aos interesses dos Estados Unidos, em especial nos temas relacionados com Cuba e Venezuela.

Eduardo Bolsonaro, senador pelo estado rico de São Paulo, viajou a Washington como enviado do seu pai junto ao Departamento de Estado, ao Departamento do Tesouro e ao Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, conforme informou o jornal O Globo.

Durante os seus encontros com funcionários de segunda e terceira linha em Washington, Bolsonaro Jr. mostrou-se especialmente interessado em assinar um acordo com os Estados Unidos para aumentar a perseguição financeira contra Havana e Caracas.

Segundo O Globo, o senador disse que há instrumentos de investigação dentro da chamada Convenção de Palermo contra o crime organizado que o Brasil poderia usar contra ambos os países.

A judicialização da política foi a principal estratégia da direita brasileira para retirar do caminho os seus rivais, como foi o caso do líder do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva, que era favorito em todas as sondagens para as passadas eleições presidenciais, mas não pôde apresentar-se devido ao cerco com que o sistema judicial o envolveu.

Segundo se depreende das declarações de Bolsonaro, o plano do novo governo, uma vez que assuma o mandato em Brasília no próximo 1º de Janeiro, será a “internacionalização” das técnicas que permitiram destituir a mandatária eleita, Dilma Rousseff, e depois retirar Lula de jogo mediante artimanhas jurídicas.

O Brasil está estudando alianças com o governo estadunidense com esse propósito, disse Bolsonaro Jr.

Adiantou inclusive que as ações contra Cuba e Venezuela serão coordenadas pelo Ministério da Justiça, a cargo de Sérgio Moro, o polêmico Juiz que converteu as investigações de corrupção do caso Lava Jato em uma caça às bruxas contra os dirigentes do PT.

“Existem diversos instrumentos que o Brasil durante anos, de maneira intencional, não tomou a sério. São instrumentos que estão disponíveis. O Juiz Sergio Moro sabe mais do que ninguém sobre lavagem de capitais, combate ao crime organizado, Convenção de Palermo. E, junto com a equipe do embaixador Ernesto Araújo, tem muito a fazer nessa área”, disse o senador no Twitter.

Bolsonaro filho sugeriu também que as investigações da Operação Lava Jato, que até agora eram encabeçadas por Moro, poderiam ser usadas para apontar possíveis ativos venezuelanos e cubanos no Brasil.

O enviado do presidente eleito do Brasil foi recebido em Washington pelo secretário-geral da OEA, Luis Almagro.

Almagro é o ponta de lança de Washington contra os governos progressistas na América Latina e desde que assumiu a chefia da OEA recrudesceram os ataques contra os governos que não correspondem aos interesses norte-americanos.

Eduardo Bolsonaro também se reuniu com a subsecretária adjunta do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado, Kim Breier, e funcionários do Conselho de Defesa Nacional.

“Falamos principalmente do primeiro passo que o Brasil está dando para seguir junto aos Estados Unidos em temas internacionais“, disse o senador a repórteres enquanto saía do American Enterprise Institute.

A viagem aos Estados Unidos ocorreu às vésperas da chegada ao Rio de Janeiro do polêmico conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos John Bolton, que se reuniu com Jair Bolsonaro nesta sexta-feira (veja reportagem abaixo de Sputnik News).

“Feliz por receber a visita do conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, o senhor John Bolton; seguro de que teremos uma conversação produtiva e positiva em favor das nossas nações”, escreveu no Twitter o líder ultradireitista.

O atual assessor de Segurança Nacional de Trump foi subsecretário de Estado e depois Embaixador na ONU do governo de George W. Bush. Em ambos os cargos destacou-se pelas suas posturas ultraconservadoras e agressividade contra países soberanos.

Esteve também entre os que asseguraram a existência de armas de destruição massiva no Iraque, o que levou Washington em 2003 a uma guerra que custou bilhões de dólares e deixou um número de mortos que alguns calculam superior a um milhão, sobretudo dentre a população local.

Os laços deste personagem com a ultradireita de origem cubana da Flórida são conhecidos, tal como o seu histórico de provocações e agressões contra a Ilha Maior das Antilhas.

A mais conhecida das suas loucuras contra Cuba foi um discurso no ano de 2002 em que declarou Havana como parte do “Eixo do mal”, o grupo de países que podia ser “bombardeado a qualquer momento” pelo governo de Bush.

Tanto o presidente eleito do Brasil como o seu filho compartilham com Bolton algumas das suas ideias mais extremistas.

Bolsonaro pai defendeu a ditadura militar brasileira durante a campanha e o seu filho ameaça tornar ilegais os partidos comunistas no Brasil.

Embora o novo governo brasileiro de ultradireita não tenha tomado posse, as ameaças e provocações do presidente eleito causaram já a saída dos médicos cubanos do programa Mais Médicos, o que deixará de imediato cerca de 30 milhões de pessoas sem atendimento na saúde.

De acordo com O Globo, o filho de Bolsonaro recebeu uma felicitação das autoridades estadunidenses por demolir o programa em que participaram mais de 20 mil médicos cubanos e graças ao qual foram levadas a cabo mais de 100 milhões de consultas médicas.

*Jornalista de Cuba Debate

Fonte: http://www.cubadebate.cu/especiales/2018/11/27/hijo-de-bolsonaro-coordina-en-washington-ataques-contra-cuba-y-venezuela


Visita de Bolton a Bolsonaro denota aproximação inédita entre EUA e Brasil  

SPUTNIK NEWS

O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton visitou Jair Bolsonaro na casa do presidente eleito no Rio de Janeiro. O caráter informal da reunião e os sinais de alinhamento ideológico entre as duas autoridades denotam aproximação inédita entre EUA e Brasil, cujos efeitos são imensuráveis, dizem especialistas ouvidos pela Sputnik.

Durante cerca de uma hora, Bolton e Bolsonaro discutiram as relações diplomáticas entre os dois países e debateram pontos-chave da política externa norte-americana de Donald Trump, como a pressão a Venezuela e a Cuba, a mudança dos EUA para uma postura mais combativa com a China e a possível transferência da embaixada brasileira a Jerusalém.

© FOTO : VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL

Bolsonaro diz que Trump pode vir para sua posse como presidente no dia 1º de janeiro

Especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil analisaram o encontro e apontaram quais podem ser os resultados práticos de uma estreitamento de laços com os norte-americanos. Professor de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco, Pedro Costa Júnior destacou o caráter inédito da visita. Na visão do professor, Bolsonaro dá indícios fortes do rompimento com a política externa perpetrada pelos governos petistas no Brasil.

“Antes de tomar posse, receber um assessor importante do presidente [dos EUA] é algo inédito. [Receber Bolton] é uma escolha clara, um alinhamento estratégico, o símbolo do que Bolsonaro prometeu  na campanha. Trata-se de um rompimento com a política externa dos governos Lula e Dilma, no aspecto da Cooperação Sul-Sul, mais diversificada, altiva, o alinhamento com os BRICS, Unasul, etc. Agora há uma proposta de se voltar para o Norte, o que naturalmente, inclui os Estados Unidos e a Europa Ocidental”, avalia o acadêmico.

A opinião é ecoada pelo professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, Guilherme Casarões. Especialista em política externa brasileira, Casarões pontua que a opção pelo alinhamento com os EUA tem também fortes raízes ideológicas e políticas.

“Foi um desejo manifestado pelo então candidato e agora presidente eleito Jair Bolsonaro desde o princípio, tanto em termos de relacionamento econômico quanto no de reproduzir o que o presidente Trump vem fazendo na política externa. É uma visão de mundo do que poderíamos chamar de ‘anti-globalismo’, um entendimento de que o Ocidente que está sendo corrompido por aquilo que se chama de ‘marxismo cultural’, colocando os Estados Unidos como crucial para que possamos nos resgatar”, pensa o professor.

Interesses distintos

Análise: ‘Vitória de Bolsonaro abriria campo muito fértil para uma agressão à Venezuela’

As opções aventadas por Bolsonaro e Bolton na manhã dessa quinta, porém, demandam cautela nas palavras de Costa e Casarões. As declarações pesadas do presidente eleito e do conselheiro contra Venezuela, Cuba e China podem representar interesses que, do ponto de vista brasileiro, não são convergentes. Costa defende que na abordagem Caracas, o Brasil deve aumentar a pressão econômica ao governo de Maduro por meio de sanções.”Nós vivemos um clima de estabilidade e pacifismo que é regra na América do Sul. Nossa última conflagração militar foi a Guerra do Paraguai, há 150 anos. O Brasil tem papel primordial nisso, como é natural devido ao nosso tamanho, população, poder econômico. É nossa responsabilidade atuar quando há problemas com nossos vizinhos no sentido de promover a pacificação”, afirma.

Casarões acrescenta, dizendo que os contextos regionais e históricos são diferentes entre Brasília e Washington e mimetizar a política externa de Trump pode ser um jogo delicado para o Brasil.

“O Brasil compartilha fronteiras e está sofrendo os impactos da crise de refugiados venezuelanos. Nós também temos um histórico de integração regional que vem se desenvolvendo nos últimos 30 anos e no qual a Venezuela sempre foi um elemento muito importante. Essa postura de hostilização aberta à Venezuela,  pessoalmente não acho que seja o melhor caminho. Com isso não quero dizer de forma alguma que devamos ser coniventes com as barbaridades perpretadas pelo governo de Maduro, mas ao assumir a possibilidade de apoiar os EUA em uma intervenção militar como aventou o filho do presidente eleito recentemente, isso nos colocaria em uma posição desconfortável porque não temos vocação de projeção militar na região”, alerta.

Iniciativas como os BRICS, o Mercosul, Unasul, entre outros também podem sofrer ressignificações profundas sob a batuta de Bolsonaro. Casarões, porém, chama a atenção para as diferenças também nestes aspectos. “O Brasil do ponto de vista econômico e dos recursos de poder não tem a mesma estatura dos EUA. A partir do momento em que a gente passa a fazer política externa não pensando naquilo que é interesse nacional, mas nos interesses dos Estados Unidos ou de grupos domésticos com visões muito particularistas, corremos o risco de colocar a trajetória longa do Brasil em risco”, acredita, apontando, entre outras questões, a mudança da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, um pioneirismo adotado pelos EUA e só seguido pela Guatemala.Críticas a continência

Além dos tópicos debatidos por Bolsonaro e Bolton, o simbolismo de um pequeno gesto chamou a atenção da imprensa durante o encontro. Ao receber o conselheiro, o presidente eleito bateu continência ao americano, simbolismo visto como inapropriado por analistas que se debruçaram sobre a questão. Paulo destacou o caráter “a priori, condenável” do capitão.

“A diplomacia é feita de símbolos e o Bolsonaro recebeu ele [Bolton] em casa, o que dá uma ideia de proximidade muito grande. Parece ser uma coisa para além de uma relação comum entre Estados. Acho que pode ser um símbolo bastante preocupante, pode dar uma linha do que vai ser a nossa política externa do Bolsonaro”, concluiu o professor.

https://br.sputniknews.com/brasil/2018113012799604-visita-bolton-aproxicamacao-eua-brasil/