O agravamento da crise capitalista e o movimento dos “coletes amarelos”

imagempor Alger Republicain

– Simpatia dos trabalhadores na Argélia
– Angústia da burguesia diante da perspectiva de um contágio

A trupe dos dirigentes do mundo capitalisa/imperialista está encostada na parede, os fundamentos pútridos do sistema estalam por todo o lado. As burguesias estão em pânico. Elas procuram por todos os meios manter-se no poder. Através de uma propaganda bem azeitada, mobilizam todos os seus meios de comunicação, todas as suas TVs e toda uma fauna de vermes políticos para confundir as massas populares e em particular os trabalhadores.

A crise, esta palavra é repetida extensamente para fazer acreditar que nada se pode fazer. Toda a propaganda consiste em fazer crer que a crise vem “eu não de onde e que nada se pode fazer”. Com este estratagema oculta-se ao povo as suas verdadeiras causas para fazê-lo engolir as políticas de miséria impostas às massas populares. A crise é inerente ao capitalismo. Pois é a superprodução e a acumulação do capital que exacerbam as contradições e os antagonismos do capitalismo. Milhares de automóveis, televisores ou frigoríficos não vendidos não encontram proprietários. A tendência seria de preferência quebrar a ferramenta de trabalho a fim de relançar a economia. A pauperização das massas populares agrava a crise. Um círculo vicioso de que o capitalismo não sai senão agravando cada vez mais a situação das massas.

Os meios de comunicação entregam-se intensamente a todo tipo de manipulação ideológica. Procura-se convencer os trabalhadores de que, dado o “grande progresso tecnológico”, o conceito de classe já não é válido. A classe operária “desaparece” ou “não existe mais”, lembrando sempre que é preciso convencer o proletariado “inexistente” de que se deve resignar à nova realidade e que não há outras alternativas.

Quanto mais se doura a pílula, mais os capitalistas afirmam que não há mais diferenças entre o patrão e o trabalhador. Durante décadas, toda a fauna política que se qualifica como “de direita ou de esquerda”, oportunistas e renegados de toda espécie, empregaram uma palavra devastadora, pondo no mesmo pé o explorado e o explorador, declarando “caducos” os antagonismos de classe e batizando como “parceiros sociais” os capitalistas e os operários.

A colaboração de classes dos oportunistas e renegados não é mais preciso demonstrar. A maior parte das direções sindicais adotou este caminho. Os sindicatos financiados pelos EUA, a União Europeia, os governos burgueses não são mais sindicatos de classe. Suas direções sindicais tornaram-se marionetes nas mãos do patronato. Os membros da CES [Confederação Europeia dos Sindicatos] e da CSI [Confederação Sindical Internacional], que recebem royalties significativos para que os trabalhadores aceitem políticas reacionárias, se tornaram os capatazes do capitalismo.

Na Argélia, o processo é o mesmo. Os operários nada têm a esperar destes sindicatos UGTA [União Geral dos Trabalhadores Argelinos]; eles estão lá para canalizar o descontentamento dos assalariados. Os sindicatos “autônomos”, mesmo que tenham o mérito de exprimir a indignação dos assalariados, contribuem para difundir a ideologia reformista e corporativista. Eles tendem a matar no ovo a formação de uma consciência de classe revolucionária.

A partir da vitória momentânea da contrarrevolução na URSS, que foi a maior derrota dos trabalhadores no mundo, assistimos a um recuo político e cultural sem precedentes. Procura-se fazer com que os trabalhadores acreditem que o capitalismo saiu vencedor do socialismo. Era o fim da história e agora o capitalismo triunfante iria trazer a felicidade para todos e amanhãs que cantam. Foram precisos apenas alguns anos para que o capitalismo aparecesse tal como ele é, um sistema obsoleto, predador e não reformável.

Hoje as devastações do sistema capitalista explodem por toda a parte

Em todos os países do planeta encontra-se o mesmo desastre para as massas populares e os trabalhadores. Na África, na América Latina, nos países asiáticos e em numerosos outros países a pobreza irrompe à luz do dia. Em certos países, as crianças morrem de fome. Populações inteiras, mulheres e crianças pequenas, numa indigência extrema, abandonam seus casebres miseráveis, arrastando sua miséria, tomando a rota do desespero rumo ao desconhecido. Elas chegam aos milhares às portas dos países que as arruinaram. São expulsas como criminosas.

A Europa não escapa a este marasmo do sistema capitalista. Em todos os países europeus há consternação, os trabalhadores não aguentam mais, a pobreza generaliza-se. O desemprego em massa não faz senão aumentar. Os trabalhadores não têm mais nada a perder, o descontentamento generaliza-se, eles estão na rua para que se façam ouvir seus gritos de dor. A crise provocou a debandada dos governos europeus. Diante dos problemas a ultrapassar, estes países tornam-se ingovernáveis. As burguesias, apesar das suas preocupações, não conseguem mais fazer com que as massas populares engulam sua política sinistra. Para se manterem no poder, elas estão prontas a aliarem-se ao diabo, no caso com as forças mais retrógradas, a peste do fascismo. A peste fascista está às portas do poder em numerosos países. Isso se vê na Áustria, Alemanha, Itália, mesmo em França, nos ex-países socialistas e outros. Trata-se de um verdadeiro perigo para a humanidade e os trabalhadores são os primeiros afetados.

Os trabalhadores franceses entraram na batalha pelas suas reivindicações, mas não em boas condições. Com efeito, desde há numerosas décadas as forças progressistas enfraqueceram-se perigosamente sob os golpes dos traidores oportunistas e dos sindicatos amarelos.

Os sindicatos não respondem mais às suas reivindicações, o Partido Comunista Francês não desempenha mais o seu papel porque abandonou a luta pelo socialismo. Os trotsquistas entregam-se à verborragia vazia. Eles rebaixam a luta apenas às questões econômicas imediatas e de uma maneira que nunca põe em causa as bases do capitalismo. Quando aparecem na TV, a palavra socialismo é proscrita das suas bocas. Eles estão ali para fazer a burguesia ganhar tempo.

A emergência súbita na França do movimento dos coletes amarelos é realmente a expressão da eclosão do descontentamento popular resultante da enorme pressão da grande burguesia, dos grandes monopólios capitalistas sobre a classe operária e sobre o conjunto das camadas populares, para elevar sua taxa de lucro. Algumas das forças reacionárias procuram direcionar esta explosão contra os migrantes. Mas não está aí o essencial. As pesquisas de opinião mostraram que só uma parcela insignificante dos “coletes amarelos” se deixa influenciar pelos discursos racistas e fascistas.

Quando se trata de grandes greves, é com bombardeamentos violentos que as vedetes da mídia atacam os trabalhadores, acusando-os de tudo ou então não falando das greves. Mas doravante o maior temor da burguesia é que este movimento se associe à classe operária e que esta consiga libertar-se do peso das direções sindicais corrompidas e oportunistas que a impedem de juntar-se às manifestações populares. É por isso que os chefes de orquestra da mídia fingem exprimir alguma simpatia pelos “coletes amarelos”. Uma atitude hipócrita motivada pelo único objetivo de conduzir o movimento a impasses prodigalizando-lhes conselhos “sábios” e, em particular, para desconfiarem dos sindicatos. Nunca se sabe, caso os trabalhadores cheguem a livrar-se dos responsáveis que os aconselham a ocuparem-se apenas das suas reivindicações corporativistas, a manterem-se afastados deste movimento etc.

Os trabalhadores franceses mais conscientes têm razão em estar vigilantes. Os riscos de provocação são reais. Os arruaceiros (casseurs) destacados com insistência e diretamente pelas câmeras das TVs oligárquicas para desacreditar os manifestantes e incitar o povo a permanecer em casa, mostram que a burguesia tem mais de um trunfo na sua bagagem. Os êmulos de Vidocq estão lá para tramar conspirações destinadas a provocar o medo e a demonizar os novos líderes popular em vias de emergir.

Muitos reformados, desempregados, trabalhadores e certamente numerosas pessoas em pobreza insustentável estão na rua. Os trabalhadores devem tomar a direção deste movimento sem tardar a fim de contrariar todos os aprendizes de feiticeiro dos seus desígnios sinistros. A extrema-direita e os esquerdistas de todo naipe servem-se do descontentamento das massas populares para avançarem seus peões. Seus objetivos: fazer cair este governo e provocar novas eleições, tomar o poder, mas não para mudar a política. Se conseguirem os seus fins, os trabalhadores terão de escolher entre a peste e a cólera.

Os trabalhadores franceses sofrem há várias décadas os assaltos do capital. Todos os presidentes da república francesa, de diferentes matizes, que se sucederam há décadas não foram senão homens que se colocaram a serviço da burguesia. Eles praticaram a mesma política contra os trabalhadores e o presidente atual está na mesma linha. Foram eleitos seguindo um sistema eleitoral da sua devoção, enquanto representante do grande capital. Os trabalhadores franceses desde Junho de 1849 e, sobretudo, a Comuna de Paris em 1871, jamais cessaram seu combate contra este sistema. A luta é difícil, a burguesia francesa não é um tigre de papel, mas sem dúvida ela não é invencível.

Os trabalhadores dobraram a espinha durante décadas, todas as suas conquistas sociais evaporaram-se sob os golpes da repressão patronal e das forças retrógradas, com a cumplicidade dos oportunistas e de certos aparelhos sindicais corrompidos. Que a burguesia não grite vitória demasiado rápido. Os trabalhadores acusam o golpe com dor, mas o seu olhar diz muito, eles estão sempre lá. Estas provas, por mais dolorosas que sejam, vão reforçar sua determinação na luta implacável para abolir de uma vez por todas este sistema predatório: o capitalismo/imperialismo.

Os trabalhadores argelinos, a grande massa dos jovens marginalizados por um capitalismo predatório, submetidos ao sistema imperialista mundial, seguem com simpatia este movimento.

A partir de agora, o levante das massas populares na França é vivido com angústia pelas classes dirigentes e seu regime em vigor. Uma derrota mesmo sobre as reivindicações imediatas será explorada pelo poder para dizer aos trabalhadores argelinos:

“Vejam, mesmo um país tão desenvolvido como a França é obrigado a suprimir as conquistas sociais para sair da sua crise financeira”.

Não lhes será fácil aplicar suas famosas “reformas”. O conteúdo destas reformas de que todos os defensores do capitalismo reclamam a aceleração, no poder ou entre seus opositores de direita, resume-se assim: fazer prosperar os negócios dos burgueses, internos ou externos, com a ajuda crescente de um Estado totalmente a seu serviço e mais miséria e privações para todos os trabalhadores e as camadas sociais laboriosas.

A luta contra a miséria e as desigualdades engendradas pelo capitalismo é uma luta nacional e internacional.

O que se passa um pouco por todo o mundo e em particular em França. Nossos trabalhadores devem aprender a lição para, por sua vez, conduzir a sua luta contra este sistema predatório. Devem organizar-se num sindicato de classe e construir um partido revolucionário.

13/Dezembro/2018

O original encontra-se em www.alger-republicain.com/Aggravation-de-la-crise-du-systeme.html

Este editorial encontra-se em https://www.resistir.info/patnaik/patnaik_16dez18.html

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