A tragédia de um país enlameado pelos abutres da mineração

imagemPaulo Correia ODIARIO.INFO

É a lama, é a lama : Águas de Janeiro num país enlameado

A tragédia resultante do colapso da barragem de Brumadinho veio de novo chamar a atenção para a empresa Vale S/A, uma empresa mineira transnacional que opera na América Latina e que está presente também em Moçambique, Angola e Guiné. Tem lucros de centenas de milhões. Está no 5° lugar das empresas mais irresponsáveis do mundo, do ponto de vista ambiental e social. Está envolvida em casos suspeitos no Brasil, Chile, Colômbia e Peru e é acusada de causar sérios impactos ambientais e sociais nos países africanos onde opera. Agora dispõe-se a atribuir 23.615 euros a cada família com vítimas nesta tragédia horrenda.

A última contagem de vítimas desta tragédia ocorrida a 25 de janeiro no município de Brumadinho, a 65 Km da capital do Estado de Minas Gerais (MG) – Belo Horizonte – foi de 121 mortos e 226 desaparecidos. O desastre aconteceu quando a barragem da mina de ferro de «Córrego do Feijão», que continha lamas provenientes de rejeitos das atividades mineradoras, colapsou, provocando uma enxurrada de 12 milhões de metros cúbicos (m³). Esta sopa densa e viscosa, constituída por lamas tóxicas, ricas em metais pesados e compostos utilizados no processo de beneficiação industrial dos minérios de ferro (aminas, éter,…), levou tudo pela frente, incluindo uma ponte ferroviária, desaguando no rio Paraopeba, um afluente do rio São Francisco, um dos maiores cursos de água do Brasil e que atravessa 5 Estados brasileiros.

O responsável maior, a empresa de mineração «Vale S.A.». é o resultado de uma privatização parcial da empresa estatal, implementada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 1997, que «vendeu» a companhia «a preço de banana», aliás, comprada pelo banqueiro/empresário Benjamin Steinbruch, com dinheiro oferecido pelo Banco estatal BNDES. Criada por Getúlio Vargas em1942, chamava-se então «Companhia do Vale do Rio Doce» (VCRD). Hoje em dia, é uma empresa mineradora transnacional que opera na América Latina, estando presente em Moçambique, Angola e Guiné. Está também no 5° lugar das empresas mais irresponsáveis do mundo, do ponto de vista ambiental e social. A companhia está envolvida em casos suspeitos no Brasil, Chile, Colômbia e Peru e é acusada de causar sérios impactos ambientais e sociais nos países africanos onde opera. Em janeiro de 2012, recebeu o prêmio de «pior empresa do mundo em direitos humanos e meio ambiente», também chamado o «Óscar da Vergonha», atribuído pelo «Public Eye People’s», organizado pelas ONGs «Greenpeace» e «Declaração de Berna».

Como não podia deixar de ser, a «Vale» é o tipo de empresa criminosa, do gênero mutante, entre um vampiro e um abutre, que suga o máximo de recursos, maximizando lucros e distribuindo gordos dividendos aos acionistas, em detrimento de salários e de proteção social e ambiental. O fato de que «as pessoas contam» para a companhia é o do refeitório do pessoal da empresa ter sido construído na parte debaixo da barragem. O colapso deu-se na hora do almoço !

Não é preciso ser especialista para estimar que a causa provável do colapso se deveu à falta de controle e fiscalização da estrutura. É legítimo apontar aos dirigentes desta empresa e aos organismos que deveriam controlar as suas atividades, a responsabilidade deste gravíssimo ato criminoso. A prova de que essa gente vai ficar impune é o desprezo com que tratam as famílias das vítimas deste ignóbil crime. Ora vejamos: a «Vale S.A.», grande grupo multinacional de mineração mundial (que os telejornais franceses apelidaram de «empresa mineradora» sem a nomear), com 70 mil empregados, maior exportador mundial de minério de ferro do mundo, vangloria-se de oferecer R$ 100 mil reais (23.615 euros), a cada família com vítima, nesta tragédia horrenda, afirmando em campanhas publicitárias que «a prioridade são as pessoas» ! Será que esta elite dirigente, cínica e impune sente que está oferecendo mais do que ela estima ser o valor de uma Vida Humana?

O presidente da «Vale», Fabio Schvartsman, aufere 1,6 milhões de reais mensais (378 mil euros), mais ou menos cerca de 4,5 milhões de euros anuais!!! Os outros 5 diretores da companhia auferem cerca de 236 mil euros por mês. Para esta malta sanguessuga, uma vida vale então 6% de um mês de salário do «boss». Com gente como esta, como é que havemos de salvar o Planeta? Como é que que podemos salvar-nos, a nós de um fim escabroso, como o das vítimas de Brumadinho?

Precedente: a 5 de novembro de 2015 deu-se o colapso da barragem de rejeitos do Fundão, no município de Mariana (MG), propriedade da «Vale S.A» e do megagrupo anglo-australiano BHP-Billiton. A tragédia (mais uma) de Mariana, foi o desastre industrial que causou o maior impacto ambiental do Brasil e o maior desastre ambiental mundial envolvendo rejeitos, com o vazamento de 62 milhões m³ de entulho sujo, tóxico…lamacento,

Fonte: https://ideiaperigosa.wordpress.com/2019/01/31/e-a-lama-e-a-lama-aguas-de-janeiro-num-pais-enlameado/

Categoria
Tag