Brasil: afundando na lama e flertando com a catástrofe

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Por José Martins, da Redação

Há uma gigantesca lama no meio do caminho do destrambelhado governo Boçalnaro. Muito mais catastrófica que a que se move sem parar da podre e inútil Companhia Vale do Rio Doce, em Brumadinho, símbolo perfeito do parasitismo e da índole criminosa da burguesia brasileira.

Mais além do seus simbolismos, entretanto, a realidade material tem cara ainda mais feia. A produção industrial, por exemplo. Fechou o ano passado no pior nível em 10 anos. Isso é grave.

Acontece que evolução da produção industrial é a variável mais importante para se construir os diversos cenários políticos para este ano. E os números são muito claros.

Esses números cruciais podem ser observados no mais recente relatório da Pesquisa Industrial Mensal (PIM Brasil) do IBGE, publicado na última sexta-feira (01/fev/2019).

Em 2017, a produção industrial brasileira havia se elevado 2,5%. Em 2018 desacelerou ao apresentar uma alta de apenas 1,1% frente ao ano anterior. Com essa desaceleração, caiu para o mesmo nível de março de 2009 e 16,3% abaixo de maio de 2011, maior patamar alcançado pelo setor. Patinando na lama. No fundo do poço.

Fazendo-se também a comparação com igual mês do ano anterior, o setor industrial caiu 3,6% em dezembro de 2018, com resultados negativos nas quatro grandes categorias econômicas, 21 dos 26 ramos, 56 dos 79 grupos e 62,5% dos 805 produtos pesquisados.

Ao recuar 1,1% no quarto trimestre de 2018, a indústria interrompeu o comportamento de leve recuperação que vinha desde o primeiro trimestre de 2017 e permaneceu com a clara perda de ritmo frente aos resultados do primeiro (2,8%), segundo (1,8%) e terceiro trimestres de 2018 (1,2%). Significativa derrapagem para fora da pista.

Entre as grandes categorias econômicas, a redução mais acentuada foi no estratégico bens de consumo duráveis (-14,3%), apresentando a segunda taxa negativa consecutiva nessa comparação e a queda mais intensa desde julho de 2016 (-16,1%). O setor foi particularmente pressionado pela redução na fabricação de automóveis (-16,9%) e de eletrodomésticos da “linha marrom” (-23,0%). Vale citar também os recuos em eletrodomésticos da “linha branca” (-2,7%), móveis (-12,4%), motocicletas (-4,2%) e outros eletrodomésticos (-2,4%).

Bens de capital (-5,6%) também mostrou queda mais acentuada do que a média nacional (-3,6%), interrompendo, assim, seis meses de resultados positivos consecutivos e marcando a queda mais intensa desde maio de 2018 (-6,4%). Nesse mês, o segmento foi influenciado, em grande parte, pelos recuos nos grupamentos de bens de capital para fins industriais (-12,1%) e para equipamentos de transporte (-5,9%). As demais taxas negativas foram registradas por bens de capital de uso misto (-12,3%) e construção (-8,1%).

Patinando na lama e flertando com a catástrofe econômica. Criativa e estimulante realidade. O desemprego deve aumentar. Mais ainda. As tensões ainda mais. Essa é a base material que delineia as perspectivas políticas e sociais do país nos próximos doze meses.

Rodrigo Maia, novo presidente da Câmara dos Deputados declara ao jornal Folha de São Paulo, desta segunda-feira (04), que “vamos superar a pauta econômica antes de discutir a de costumes”.

Para ele, debate sobre temas como Escola sem Partido cria ambiente prejudicial a reformas econômicas. E conclui acertadamente: “estamos em um momento que todos compreenderam que vai ter uma ruptura definitiva da política se esse país não voltar a crescer”.

Bingo! Esse saca-trapo tem a consciência ou – mais adequadamente falando – o instinto de defesa de sua classe. Está sentindo no cangote o bafo quente de uma disruptiva derrocada econômica. A propriedade privada ameaçada.

Esquece a goiabeira e outras patologias evangélicas do Jair e suas milícias assassinas. Todas as cartas jogadas nas reformas econômicas de Chicago Guedes para ver se ainda dá para salvar alguma coisa.

Essa é a única agenda dos capitalista neste momento, no Brasil. Totalmente (e unanimemente) focados na economia. O resto é bobagem. Ou, excepcionalmente, falando de Sérgio Moro, nos preparativos para a guerra civil. Salvar a propriedade privada capitalista a qualquer custo.

Ora, ora! Muito positivas perspectivas de um esperado recrudescimento da luta de classes na maior economia abaixo da linha do equador. A venda de armamentos está liberada. Os pacatos cidadãos (principalmente os desempregados do capital) já podem ir às compras.

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