Unidade para resistir e barrar os retrocessos

imagemJORNAL DA UNIDADE CLASSISTA – Nº 03 – JAN/FEV-2019

QUANDO A INTOLERÂNCIA CHEGA AO PODER

A classe trabalhadora, os movimentos sociais e partidos políticos de esquerda estão entrando em uma nova quadra histórica, onde o novo governo que assumiu os rumos do país apresenta o seu total despreparo, confirmando tudo aquilo que foi apresentado durante a campanha eleitoral. Um misto de arrogância, desconhecimento, intolerância e violência contra tudo o que as forças governistas consideram diferente. O governo Bolsonaro está libertando todas as forças de inspiração neofascista para atacarem aquilo que é considerado diferente, deixando implícita a autorização para o uso da violência como resposta aos seus opositores em todos os campos.

O INÍCIO DA OFENSIVA

A fim de conter a indignação popular, os governos anteriores já haviam iniciado sua ofensiva contra a livre expressão e manifestação ao perseguir militantes durante a copa de 2014 e continuaram esta ofensiva ao aprovar a lei Antiterrorismo em 2016. No entanto, é inegável que estes ataques se aprofundam com a chegada da extrema-direita ao poder. A campanha eleitoral já havia dado o tom de como seria o novo governo, mas com a confirmação da vitória no pleito eleitoral, as forças reacionárias e mais antidemocráticas viram a oportunidade de atacar, preparando uma ofensiva, tendo em vista a legitimação do abuso da violência pelo Estado. O que torna mais preocupante é que essa situação de legitimação da violência está espalhada na lógica de diversos governadores eleitos que buscam, através da pauta da segurança, atacar os movimentos sociais e o povo negro das periferias e comunidades, com a desculpa de garantia da lei e da ordem. Mas sempre defendendo os interesses dos empresários e do grande capital.

Logo nos primeiros quinze dias de governo, Bolsonaro aprovou um decreto que torna mais flexível o porte de armas. No Brasil, só em 2016, do total de mortes por agressão, metade são de mulheres. Mulheres que são mortas dentro de seus domicílios por armas de fogo, segundo o sistema Datasus, que registra mortes ocorridas em atendimentos no sistema público de saúde. Ou seja, na prática, a flexibilização do porte de armas pode implicar em um aumento significativo das mulheres vítimas de violência doméstica e do feminicídio. A população LGBT também sofre profundos ataques, seja com a proibição da discussão de gênero nas escolas, por meio do projeto Escola sem Partido, seja pela perseguição declarada a parlamentares gays como o caso de Jean Wyllys, que teve inclusive sua família ameaçada de morte.

CONFLITOS NO CAMPO

Os governos anteriores nunca conseguiram solucionar o problema no campo brasileiro, sempre houve o predomínio dos interesses dos latifundiários e, com o advento da chegada do capitalismo no campo, o fortalecimento do Agronegócio e a sua forma híbrida no parlamento, organizou a bancada ruralista que conseguiu unir os interesses dos latifundiários, da bancada da bala e de parte significativa da bancada evangélica, aumentando seu poder. Acompanhamos o aumento do conflito no campo sem uma mediação para proteger os trabalhadores.

O primeiro caso de violência no ano de 2019 aconteceu na Fazenda Magali (MT). No dia 05/01, quando um pequeno grupo de trabalhadores foi pegar água no rio Traíra, foram surpreendidos por pistoleiros, resultando em um trabalhador morto e nove feridos. As comunidades quilombolas também estão sob ataque, já que apenas 7% das terras desses povos tradicionais estão regularizadas no país. Os latifundiários e posseiros já ameaçam e intimidam diversas comunidades.

Os povos indígenas também estão entre os grandes alvos da bancada ruralista com apoio do governo Bolsonaro, que desde a campanha anunciou que não iria ceder um centímetro a mais de terras para os indígenas. Como a responsabilidade da demarcação das terras passou para o comando do Ministério da Agricultura, além de subordinar a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) à Secretaria das Mulheres, Família e Direitos Humanos. Enfim, nada mais esquizofrênico e com propósito de destruir para satisfazer a sanha do agronegócio.

A CLASSE TRABALHADORA E O PROCESSO REPRESSIVO

Durante a campanha eleitoral, Jair Bolsonaro deixou claro o que pensa sobre os direitos para classe trabalhadora, falando inclusive que um dia teremos que fazer uma escolha “se continua com todos os direitos e o desemprego ou temos menos direitos e empregos”. Além de já apresentar uma pré-disposição à perseguição aos sindicatos, que na opinião do presidente não passam de “vagabundos”. Não precisamos pontuar a continuidade da política agressiva e ultraliberal proposta na agenda de Paulo Guedes, o superministro da Economia, que tem como principal proposta a Reforma da Previdência, porém, com um tom ainda mais agressivo do que a de Temer, propondo um modelo de capitalização previdenciária.

MODELO SÓCIO-REPRESSIVO NOS ESTADOS

Outros estados da federação já encamparam o modelo repressivo/autoritário. Uns ainda no campo discursivo, já prometem utilizar até atiradores de elite, como declarou o governo do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, com o objetivo de abater traficantes ou pessoas que estejam portando armas. O que demonstra que o objetivo é o extermínio localizado nos morros e favelas da cidade maravilhosa.

Já em São Paulo, João Dória já demonstrou a total falta de diálogo com os movimentos sociais. No último dia 16/01, manifestantes estavam reunidos na Praça do Ciclista, na Rua da Consolação com Avenida Paulista/SP, quando foram surpreendidos com a truculência policial que prendeu 14 pessoas e feriu com bala de borracha um jornalista. O caso demonstrou que a promessa de campanha de Dória sobre o uso da força está sendo colocado em prática. A polícia mais violenta do Brasil, que já se sentia à vontade para utilizar a força, agora pode “atirar para matar”.

É preciso estar atento ao que está se desenhando para a classe trabalhadora, movimentos sociais, mulheres, população LGBT e comunidades tradicionais. Pois não podemos alimentar ilusões e sermos surpreendidos.

CONTRA O AUTORITARISMO, UM FUTURO SOCIALISTA!

O cenário é tenebroso para aqueles que ousam se levantar contra esse modelo repressivo de sociedade e lutar por direitos. Por isso, mais do que nunca precisamos estar organizados enquanto classe, para construirmos a unidade necessária para enfrentar esta onda reacionária e apresentarmos uma saída pela mãos dos trabalhadores e trabalhadoras, negros e negras, gays, indígenas e quilombolas e juventude. Precisamos, mais do que nunca, ter coragem de dizer bem alto que somos contra toda e qualquer forma de opressão e violência do Estado e que temos um projeto de sociedade, mais justa, mais igualitária, feita com a democracia do povo – um futuro socialista!

Leia na íntegra o Jornal da Unidade Classista: http://unidadeclassista.org.br/uc1/3630

NOTA POLÍTICA UC – REORGANIZAR A CLASSE PARA RESISTIR Assista o vídeo com a Nota Política da Unidade Classista em http://unidadeclassista.org.br/uc1/3626

Coordenação Nacional da Unidade Classista