OS TRABALHADORES NÃO PODEM PAGAR A CRISE DO CAPITAL

O desemprego é intrínseco ao sistema capitalista. Os capitalistas precisam manter, permanentemente, uma parcela dos trabalhadores desempregados, o chamado exército industrial de reserva. Isto é necessário para que aumente a concorrência entre os trabalhadores e os capitalistas possam pagar salários menores. Marx chamou este movimento de lei geral da acumulação capitalista. Em períodos de crise, os capitalistas demitem mais, por ruína econômica, mas também para disciplinar a classe trabalhadora em níveis maiores de exploração.

O caso da GM é exemplar. No ano passado a GM impôs aos metalúrgicos uma quantidade de horas extras obrigatórias e a contratação temporária. Os contratados temporários estão sendo demitidos – já foram 800, podendo chegar a 2000 – com um custo mínimo para GM, que, neste caso, não precisa pagar multa de 40%. A Volks lançou um programa de demissão voluntária, voltado para os portadores de doenças profissionais e trabalhadores em idade de aposentadoria. As empresas aproveitam o ambiente de crise para realizar os seus ajustes.

Os capitalistas têm deixado claro qual é a solução para a crise: redução de direitos e demissões. O presidente da Fiesp resolveu inovar, exigindo redução de jornada, com redução de salário e sem garantia de emprego. Colunistas da grande imprensa conclamam o governo a retomar a reforma trabalhista, aproveitando o momento de crise. Pior, a Força Sindical, central do campo governista, topou negociar. As medidas anti-crise do governo foram todas para beneficiar o capital, nenhuma a favor dos trabalhadores.

Governo e patrões, com o apoio das centrais governistas, sinalizam com um pacto social, que significa a retirada de direitos e redução de salários. Este pacto seria negociado por patrões, governo e sindicatos, onde todos teriam a sua cota de “sacrifício” em nome de um objetivo maior, a saída da crise. Mas os “sacrifícios” não seriam distribuídos de maneira igual. Para os patrões, incentivos, reduções de impostos e crédito subsidiado. Para os trabalhadores, a reforma trabalhista, o desemprego e a redução de salários. O sacrifício de todos, para resolver a crise, é na verdade o sacrifício dos que trabalham.

A crise pegou os trabalhadores em um momento de reorganização das suas forças, após a onda da reestruturação produtiva e a capitulação das suas organizações, notadamente a CUT. Após um semestre de ganhos nas principais campanhas salariais, a classe assiste á intensificação dos ataques. A reação do conjunto dos trabalhadores tem sido insuficiente. A Amsted-Maxion demitiu metade dos empregados nas unidades de Osasco, Campinas e Cruzeiro e os trabalhadores não ocuparam as fábricas. As demissões têm ocorrido diariamente sem que os sindicatos consigam fazer mais do que manifestações nas portas das empresas e editar notas, atividades necessárias, mas claramente insuficientes.

A experiência da terceirização e as demissões na reestruturação dos anos 90 marcaram profundamente a ação da classe. O conjunto dos trabalhadores tem consciência dos seus direitos e sabe o significado da crise para aqueles que tem o trabalho como meio de vida. O medo do desemprego atinge cada trabalhador individualmente. A única garantia dos trabalhadores é a sua luta. O capital aproveita a crise, que é real e profunda, para reduzir os direitos e aumentar exploração. A unidade dos trabalhadores é sua arma, sua defesa e garantia. Só com a unidade é possível barrar a ofensiva do capital. O capital pode derrotar cada trabalhador individualmente, mas terá muita dificuldade de se impor perante a frente unida dos trabalhadores.

Portanto, temos de dizer não às demissões, com a ocupação das empresas que demitem. Não podemos aceitar abrir mão de nenhum direito, pois isso significa aceitar mais exploração. Redução de jornada sem redução de salário, estabilidade no emprego, recomposição salarial devem ser as nossas bandeiras. E a nossa unidade é maior do que os operários de uma única empresa. Ela envolve toda a classe, empregados e desempregados, terceiros e precarizados. A nossa unidade é para lutar; não a unidade para conciliar e imobilizar a classe, daqueles que julgam falar em nome dos trabalhadores.

Não podemos embarcar no canto de sereia do pacto social e da conciliação de classe. À luta!

Janeiro de 2009

* Igor Grabois é o Secretário Sindical Nacional do PCB (Partido Comunista Brasileiro)