EUA: 15 anos do Partido pelo Socialismo e a Libertação

imagemPor Brian Becker, via Liberation News

O Partido pelo Socialismo e a Libertação completou, em 18/6/19, 15 anos de fundação. Começamos com um pequeno punhado de comunistas, determinados a construir um partido socialista de larga escala em um país que parecia ter rejeitado o socialismo. Esta parecia ser uma tarefa difícil – mesmo alguns de nossos mais queridos amigos e camaradas nos desejavam sorte, mas achavam que estávamos sonhando. Estimaram nossas chances de sucesso como algo beirando a zero. Éramos poucos em número, não tínhamos recursos e o socialismo era tratado como um absoluto tabu por aqui, no centro do capitalismo mundial. Os revolucionários costumam ser acusados de serem sonhadores. Por um lado isto é verdade. Eles almejam fazer o impossível, ou o que parece ser impossível. Se comprometem de forma inabalável com a tarefa em suas mãos. Trabalham e não cessam de trabalhar.

Hoje, o PSL possui células, grupos, coletivos e membros por todo o país. Agora, temos uma presença organizada em 93 estados e cidades. Ainda somos relativamente pequenos, porém, crescemos de forma dinâmica. O mais importante é que o interesse e o apoio ao socialismo está crescendo pelo país afora, a despeito dos esforços das propagandas incessantes e das demonizações hostis promovidas pela mídia burguesa contra esta ideia.

Uma pesquisa, realizada pelo site Axios para a HBO, atesta que 40% dos estadunidenses com idades entre 18 e 54 anos prefeririam viver em um país socialista ao invés de um país capitalista. O número de mulheres favoráveis ao socialismo nesta faixa etária é de 55%, mostrando que as mulheres enquanto “classe” geralmente estão à esquerda dos homens. Entre todas as idades, metade daqueles cuja renda é de 50 mil dólares por ano e metade de todos os contribuintes dizem que prefeririam viver em um país socialista.

Uma vez que a popularização do socialismo está em sua fase inicial, não há ainda uma definição aceita do termo socialismo, mas é possível constatar com esta pesquisa que as características entendidas amplamente dentro deste termo incluem: a existência de um sistema de saúde universal (que 76% das pessoas associam com socialismo), de educação gratuita (72%), de um salário mínimo (68%), de uma economia controlada pelo Estado (66%), do controle estatal e da regulação da propriedade privada (61%), de impostos progressivos sobre os ricos (60%), de regulações ambientais (56%). Metade de todos os entrevistados associam o socialismo com a propriedade e controle dos trabalhadores sobre seus locais de trabalho.

A nova popularização do socialismo

A onda socialista está enraizada em algumas realidades objetivas. A nuvem da “Guerra Fria” se dissipou, quase um quarto de século após a dissolução da União Soviética. Por mais da metade do século XX, os socialistas estadunidenses foram vilpendiados e condenados como quinta coluna de um estado inimigo. Isto foi conveniente para os capitalistas e seus apologistas, que usaram o anticomunismo para excluir lutadores comprometidos com a justiça social dos sindicatos, instituições educacionais, plataformas de mídia e movimentos culturais.

Os capitalistas também tornaram o socialismo popular – mas por acidente. Sem os constrangimentos impostos pelo socialismo em nível internacional e a resistência interna de militantes socialistas, a classe capitalista dos EUA demonstrou a ganância, a avareza, a decadência e a opulência mais grotescas, enquanto grandes partes da população foram colocadas na pobreza ou à beira da pobreza. Um relatório da Campanha do Povo Pobre estima que impressionantes 140 milhões de pessoas estão na pobreza ou perto dela.

Durante as últimas três décadas os trabalhadores perderam direitos, benefícios, representação e mesmo o mínimo de exercício do poder, enquanto os capitalistas pilharam a riqueza e os recursos da sociedade. Jeff Bezos “vale” 160 bilhões agora; esta fortuna se acumula por meio da destruição de pequenos capitalistas e negócios de classe média e se baseia na força de trabalho de centenas de milhares de trabalhadores mal remunerados da Amazon, cujos mínimos movimentos são rastreados digitalmente e denunciados, a fim de melhorar sua eficiência.

Os jovens, com exceção daqueles que são das famílias situadas entre as 20% mais ricas, vislumbram um futuro de dívidas e insegurança econômica perpétua. Milhões de jovens estadunidenses, de comunidades negras, latinas e de brancos pobres foram ou serão encarcerados em prisões privadas ou estatais, onde a escravidão ainda é legalizada.

Há outra razão objetiva que irá acelerar a popularidade do socialismo nos próximos anos. Os EUA estão maduros para implantar imediatamente reformas com sentido socialista, que podem prover benefícios tangíveis às maiorias. A classe capitalista dos EUA já organiza, por meio de monopólios centralizados, a produção, a distribuição e suas finanças. A produção é amplamente racionalizada, e a divisão do trabalho está totalmente socializada. É apenas no que diz respeito à propriedade e, assim, à concentração dos lucros, que a economia é ainda “privada”. Transferir ou coletivizar a Amazon, Google, Facebook, Apple, Microsoft, Walmart, bem como o setor de energia, telecomunicações e transformar estes ramos em propriedades públicas, é algo que pode ser feito quase que do dia para a noite. Seus vastos lucros e aparatos tecnológicos podem ser usados para o bem público. Saúde e educação superior gratuitas, habitação pública de alta qualidade e reconstrução da infraestrutura do país sobre as bases de uma “economia verde” poderiam ser realizadas imediatamente.

O socialismo deve rejeitar a autocensura

O tabu de ser socialista está começando a morrer, porém, não rápido o suficiente. A sociedade precisa urgentemente de uma maior transformação. Isto é imperativo. Tangenciar os limites não basta.

Como morrem os tabus? Eles não morrem sozinhos. A mudança da opinião pública frente à comunidade LGBTQ é talvez o exemplo moderno mais nítido de como a consciência pode mudar e tabus reacionários podem ser superados.

Poucos meses após a convenção de fundação do PSL (junho de 2004), o criminoso de guerra George W. Bush foi reeleito para um segundo mandato na Casa Branca. Foi um evento desmoralizante e marcante para os progressistas. Havia algumas razões para a sua vitória. Porém, o foco da mídia e da opinião pública estava voltado para como os Republicanos mobilizaram uma forte virada de votos em estados importantes, organizando referendos contrários aos direitos da população LGBTQ em 11 estados. Em cada estado em que ocorreu, o referendo foi bem sucedido, e esses estados votaram amplamente em Bush.

Como esperado, os liberais lamentaram o “atraso incurável” do povo estadunidense. Eles entraram em um exercício catártico patético de cruzar os braços em todo o país. Muitos dos líderes Democratas também decidiram que ganhar as futuras eleições significaria abrir mão de apoiar os direitos da população LGBTQ ou do casamento igualitário. Nas primárias de 2008, Obama e Clinton deixaram claro que se opunham ao casamento igualitário, recusando-se, assim, a desafiar a posição reacionária de que o casamento só poderia ser entre um homem e uma mulher. Esta era a posição dominante entre os políticos da classe dominante. Milhões de LGBTQ rejeitaram se calar, recuar e se tornarem invisíveis em nome de apaziguar os fanáticos e o fanatismo.

Como morre um tabu?

Hoje, 15 anos depois das eleições de 2004, o casamento igualitário é lei nacional. Em uma pesquisa realizada pela Reuters/Ipsos na semana passada, muitas pessoas se disseram mais atentas à idade do candidato do que à sua orientação sexual. O que ocorreu para que houvesse uma mudança brusca na opinião pública em tão pouco tempo? O primeiro motivo está na determinação, ousadia e coragem de milhões de pessoas da Comunidade LGBTQ que se recusaram a esconder quem são e quem amam. A autocensura foi, outrora, uma forma de proteção contra o ódio e a violência. A voz do fanatismo foi mais alta e pareceu prevalecer sobre a sociedade. Não mais!

Enquanto nenhuma analogia é perfeita, há uma lição importante aqui para todos os socialistas dos EUA. Aqueles que advogam pelo socialismo foram forçados a se esconder e se autocensurar após a Segunda Guerra Mundial, à medida em que a repressão anticomunista varria o país. A necessidade de se manter empregado e evitar o ostracismo social fez com que milhões de esquerdistas abandonassem o rótulo do socialismo. Ao invés disso, se autodenominavam “progressistas”. Estes abandonaram seus partidos e se juntaram a comitês pela justiça social de igrejas liberais. O socialismo desapareceu da opinião pública aceita – exceto nas montanhas de propaganda da mídia e da literatura acadêmica que demonizaram o socialismo e o comunismo como equivalentes do totalitarismo fascista.

Este período acabou. Seu legado, no entanto, deve ser abertamente desafiado; é hora de expor o programa socialista com orgulho.

O socialismo é a alternativa ao capitalismo. Ou a propriedade é pública ou é privada. A propriedade privada dos bancos, indústrias, do setor de energia e comunicação é a essência do poder político e econômico mantido por um punhado de bilionários – independente de quem é eleito. O Estado capitalista é, em sua essência, um sistema massivo de violência organizada que mira nos pobres e na classe trabalhadora nacional e em nações estrangeiras que procuram se tornar independentes do império estadunidense. Em sua totalidade, este sistema representa a negação da democracia genuína. As classes majoritárias nos EUA são apagadas dos processos de tomada de decisão sobre os assuntos mais vitais.

Socialismo significa que os trabalhadores têm o poder no Congresso, nas Cortes e em todos os aspectos da governança. Significa os trabalhadores dos EUA tomando controle sobre todo empreendimento econômico. Significa a expropriação e confisco dos grandes bancos já centralizados (não apenas seus fundos) e a criação de bancos populares que ajudem a reorganizar a economia, alocando recursos em conformidade com planos, pensando em função das necessidades sociais, ao mesmo tempo em que garante a todo indivíduo o direito a ter um trabalho bem remunerado, saúde, assistência infantil gratuita e habitação acessível. Socialismo significa organizar a economia e investir em tecnologias necessárias para transitar rapidamente para o fim das fontes energéticas baseadas em combustíveis fósseis.

A classe trabalhadora dos EUA é maioria na sociedade. É completamente capaz de tomar o controle da economia e de todas as empresas. É uma classe diversa e talentosa feita de pessoas que trabalham em linhas de produção, no varejo, como técnicos de softwares, engenheiros, profissionais da saúde, professores, motoristas, guardas, jornalistas, trabalhadores da construção e em muitas outras profissões. Esta classe trabalhadora não precisa de uma classe de executivos para lhes dizer o que fazer.

O socialismo é o futuro. Na verdade, representa o único futuro possível. O capitalismo, em sua forma atual, sua fase mais desenvolvida, garante que a sociedade como conhecemos irá acabar, para ser substituída por um cenário de desigualdade de classes permanente e cada vez mais acentuada, desemprego permanente, mudanças climáticas irreversíveis e um novo conjunto de guerras destrutivas para reconstruir o império estadunidense em declínio.

Os socialistas precisam acabar com o período longo e obscuro de censura e autocensura e adotar como primeira prioridade a necessidade de ganhar, pela persuasão, as maiorias da classe trabalhadora para a construção de um programa socialista. Como disse Marx no Manifesto em 1848: “rejeitamos dissimular nossas perspectivas e propósitos”. Às barricadas na batalha pelas ideias socialistas!

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Fonte:

https://www.liberationnews.org/the-rising-tide-of-socialism-and-the-15th-anniversary-of-the-psls-founding/

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