Stonewall: para além da lembrança vazia

imagemCoordenação Nacional do Coletivo LGBT Comunista

Até cinquenta e sete anos atrás era crime ser “homossexual” (categoria generalizada usada para se referir à população LGBT naquela época) em todos os estados dos EUA. Isto se
repetia ao redor do mundo. Mesmo após a revogação dessas leis, em 1962, a violência contra a população LGBT era sistemática, tanto institucional como culturalmente. O sexo era reprimido. A homossexualidade era considerada uma doença.

Em Nova Iorque, o “Stonewall Inn.”, praticamente o único bar que recebia a população LGBT, era constante alvo de batidas policiais. Em 1969, no dia 28 de junho, numa dessas repressões policiais, um grupo se articulou para revidar. Após as palavras de um policial expulsando a população que frequentava, as LGBTs seguiram em direção a ele e reagiram
à repressão policial. A partir desse dia, se sucederam mais cinco dias muito violentos de guerra entre a comunidade LGBT que frequentava o bar e a polícia novaiorquina.

Esse momento de enfrentamento se tornou histórico para o movimento LGBT em todo o mundo. Stonewall foi um movimento que nasceu através da resistência, respondendo à violência policial, aplicada cotidianamente contra a população LGBT, com os meios
possíveis. Sendo liderado por uma mulher trans negra, Marsha P. Johnson, e uma latina, Sylvia Rivera – que no ano seguinte desenvolveram um grupo organizado com travestis em
situação de rua.

Hoje, Stonewall não é para nós uma mera lembrança, mas uma postura a ser revivida. Stonewall não pode virar uma alegoria vazia de conteúdo político, como a Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo fez esse ano – colocando este tema na Parada,
mas cerceando a possibilidade de falas políticas. Cinquenta anos após Stonewall, o movimento internacional tem uma série de lutas que remete à mesma radicalidade. Já lutamos junto com grevistas aqui no Brasil, até contra a ditadura empresarial-militar. Este é o espírito que o movimento LGBT deve ter: atrelado às demandas da classe trabalhadora como um todo e entendendo as especificidades da
comunidade LGBT.

Nós também somos trabalhadoras e trabalhadores. Também temos o suor do trabalho marcando nossa pele. Enfrentamos condições precárias, com remunerações baixíssimas. Uma parte significativa da população LGBT trabalha na informalidade, sem garantia
nenhuma de direitos. Outro imenso contingente encontra-se dentro das estatísticas de desemprego. Além de tudo isso, temos que lidar com a ameaça constante de violências nas
ruas em que andamos, nos estabelecimentos que frequentamos e muitas vezes na casa em que vivemos.
A realidade para nós é muito dura e nossa posição deve ser intransigente ao dizer que não aceitaremos viver sob essas condições! Nossas prioridades são pão, trabalho, terra e moradia!

E Stonewall faz parte da história dessas LGBTs, as que são trabalhadoras,
exploradas e desumanizadas pelo capitalismo. Não é sobre uma representatividade simbólica em comerciais de televisão fazendo propaganda para fast-food, ou sobre bancos que enriquecem cada dia mais, ao cobrarem juros extorsivos da classe trabalhadora, incluindo as LGBTs, enquanto se furtam de pagar impostos que deveriam ser convertidos em serviços públicos e de qualidade, para toda a classe.

A nossa história deve ser usada para a nossa luta. Uma luta que entenda que o fim da LGBTfobia só será possível numa outra sociedade, construída por e para nós trabalhadoras, onde não seremos mais exploradas e cada uma de nós será
verdadeiramente livre. Portanto, Stonewall é, para nós, um embrião de uma luta radical. Mas que deve ser canalizado para a própria superação do capitalismo, que é o responsável
pelo atual lugar que ocupamos.

Pelo resgate histórico à radicalidade na luta LGBT!

Pela construção do poder popular!

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