Grupo de países ataca na OMC barreiras adotadas pelo Brasil

Um grupo de sete governos atacou na Organização Mundial do Comércio (OMC) as barreiras adotadas pelo Brasil no setor automobilístico, acusando as medidas de serem “inconsistentes” com as regras internacionais, pediu sua suspensão e alertou que estudam abrir queixas legais contra o Itamaraty.

A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para montadoras que garantirem mais de 65% de peças nacionais para carros já foi alvo de duas reuniões na OMC em 2011.

Austrália, União Europeia, Estados Unidos, Hong Kong, Coreia, Japão e Colômbia se uniram para criticar o protecionismo no Brasil, um mercado visto por muitos como um dos mais promissores do mundo nos próximos quatro anos. Oficialmente, ninguém fala ainda sobre uma possível queixa legal, o que implicaria a abertura de um caso nos tribunais da OMC contra o Brasil. Mas governos de todos esses países admitem nos corredores que, se o Brasil não der uma resposta à pressão internacional, poderão tomar o próximo passo. Vários deles já consultam suas empresas para saber se há interesse da abertura de uma disputa.

A dificuldade que enfrentam é que um eventual processo poderia se arrastar por meses, enquanto a medida brasileira tem teoricamente a validade de um ano. Brasília, portanto, poderia completar o prazo, sem que a OMC tenha ainda dado um veredito sobre a legalidade da medida.

Ontem, a queixa em Genebra não passou de mais um alerta, ainda que o tom esteja sendo elevado. O debate foi liderado pelos australianos, que já alertaram que vão procurar a diplomacia brasileira para negociações bilaterais. A preocupação da comunidade internacional em relação às leis brasileiras é  baseada tanto em prejuízos comerciais ,que empresas terão, quanto ao risco sistêmico que o comportamento representa.

Os australianos lembraram que, há  apenas uma semana, ministros reunidos em Davos se comprometeram a resistir às pressões protecionistas, insinuando que o Brasil estaria descumprindo o próprio compromisso assumido em reunião com a presença do chanceler Antonio Patriota.

Também a UE, que estuda internamente a lei brasileira, alertou o Brasil que a redução do IPI é “inconsistente com as regras internacionais”. Os negociadores de Hong Kong estimam que existe o risco de a medida brasileira estabelecer um exemplo negativo, que poderia ser seguido pelos demais países. Ontem, os asiáticos apontaram para a “preocupação sistêmica” em relação à lei brasileira.

Resposta. O governo brasileiro foi obrigado a responder e insistiu que estava sendo transparente em relação às medidas. Durante a reunião, a diplomacia brasileira chegou a apontar que as medidas tinham sido publicadas no Diário Oficial, como prova de que não havia uma tentativa de esconder as novas exigências.

 


Brasil vai romper acordo automotivo com México

Valor Econômico

O governo decidiu romper o acordo automotivo mantido com o México, por ordem da presidente Dilma Rousseff, que está incomodada com o déficit crescente no comércio de automóveis entre os dois países. A decisão, mais uma de uma série de medidas protecionistas tomadas sem consulta prévia ao Itamaraty, segundo admitem seus autores, deve ser oficializada nos próximos dias, com a volta ao Brasil da presidente e dos ministros do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e das Relações Exteriores, Antônio Patriota.

O acordo automotivo, firmado em 2002, prevê a possibilidade de “denúncia” (anulação), desde que haja comunicação com 14 meses de antecedência. Esse prazo deve ser respeitado, o que significa que só em 2013 os automóveis, partes e peças comprados naquele país passarão a pagar tarifa de importação.

Desde 2009, o que era um saldo positivo para o Brasil no comércio de automóveis entre os dois países tornou-se negativo. No ano passado, com a vantagem de custos pendendo para os mexicanos e o anúncio de possíveis restrições às importações no Brasil, montadoras estabelecidas no país começaram a mudar de fornecedor. Passaram a trazer do México carros antes importados de outros países, como a Fiat, que começou a importar da filial mexicana veículos antes comprados da Polônia.

As importações de automóveis feitos no México aumentaram quase 40% no ano passado, para mais de US$ 2 bilhões, o que, descontadas as exportações àquele país, de quase US$ 372 milhões, resultaram em déficit pouco inferior a US$ 1,7 bilhão. Foi um salto de 162% em relação ao déficit de US$ 642 milhões de 2010. Como reflexo da perda de competitividade dos veículos brasileiros em relação aos mexicanos, as exportações brasileiras para o país caíram quase 40%, de mais de US$ 600 milhões em 2010 para menos de US$ 400 milhões no ano passado.

O tema fez parte da agenda do ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, com autoridades mexicanas, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos. Os mexicanos, irritados, já comunicaram à equipe econômica que até aceitam uma pequena revisão nos termos do acordo, mas a decisão de simplesmente cancelá-lo está tomada. Integrantes da equipe econômica argumentam que o acordo favorece o México em detrimento dos sócios no Mercosul: enquanto automóveis vindos de fábricas mexicanas têm de ter 35% de conteúdo local, os do Mercosul precisam ter 45%.

 


Embrapa quer transgênicos tolerantes a longas secas

Valor Econômico

Após o grave problema da seca na região Sul, causado pelo fenômeno La Niña, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) está acelerando os estudos genéticos para o desenvolvimento de variedades transgênicas de cana, soja e milho resistentes à estiagem prolongada.

A estatal quer se concentrar em 2012 nas pesquisas de aumento da produtividade dessas três culturas, que têm baixo rendimento em algumas regiões devido a características climáticas.

Os melhores resultados até agora foram conseguidos com a cana. “Dentre várias amostras testadas, uma delas já mostrou tolerância maior ao clima seco. Não  é uma pesquisa de curto prazo, mas estamos fazendo progressos”, disse o diretor-presidente da estatal, Pedro Arraes, ao Valor. A preocupação do governo é aumentar a produção para evitar, no futuro, uma redução maior da oferta de etanol no mercado doméstico.

O presidente da estatal também ressalta avanços em outras áreas de pesquisa. Entre elas, a do sistema de integração lavoura-pecuária, que já se encontra em fase final de testes. Ao todo, foram usados 192 campos de observação para medir qual proporção das terras deve ser dividida entre florestas e plantações para mitigar os efeitos do gás metano expelido pelos rebanhos.

O próximo passo para o projeto será  a construção de uma central de consolidação em Campinas (SP) para trabalhar com os dados coletados. Arraes avalia que até o fim do ano a central deverá estar pronta. Após o fim das pesquisas, a Embrapa vai se unir a um consórcio com cinco empresas privadas para treinar esses técnicos nos procedimentos de extensão rural.

Apesar dos planos ambiciosos da estatal, o orçamento para 2012 será praticamente o mesmo do ano passado, próximo de R$ 1,8 bilhão. Mesmo com a promessa do governo de cumprir a meta do superávit primário, de 3,1% do PIB, Arraes diz não crer em um arrocho nos recursos da Embrapa. “Os sinais que temos recebido do governo é de que não haverá contingenciamento dos nossos recursos”, afirma o presidente da empresa.

Em arrecadação indireta, dinheiro proveniente de royalties, Laboratórios Virtuais da Embrapa no Exterior (Labex), patentes e outras fontes – exceto o Tesouro Nacional – a estatal contabilizou R$ 40 milhões em 2011. “Estamos expandindo o pilar científico pelo mundo. Vamos criar um Labex na China e outro no Japão. Hoje, temos 10 laboratórios virtuais espalhados em quatro continentes”, diz Arraes.

Em 2011, a Embrapa ganhou reforço em seu quadro de funcionários. O número de servidores alcançou 9.843 no ano passado. Em 2010, eram pouco mais de 9 mil. O crescimento se deve ao rápido ritmo de contratações. “Nos últimos dois anos, foram admitidas quase 1,7 mil pessoas. Mesmo com a saída de alguns servidores, conseguimos aumentar o quadro”, afirma Arraes. Só  na área de pesquisa para a cana-de-açúcar são 189 servidores.

Com o aumento das pesquisas pelo país, a Embrapa vai construir, até o fim do ano, o terceiro maior banco de germoplasma do mundo. Em Brasília, o centro vai armazenar até 750 mil espécies diferentes. Essa unidade será uma “central” para depósito de sementes, já que cada centro regional conta hoje com um pequeno estoque de variedades. “Cada centro que trabalha com um produto tem sua coleção, que fica armazenada por 20 anos. Ao todo, são 27 bancos de germoplasma espalhados pelo país, entre os quais arroz, feijão, milho, sorgo, soja, mandioca e guaraná”, exemplifica.

A Embrapa também vai desenvolver este ano um projeto de gestão rural, amparado em um processo de zoneamento georreferenciado. Todos os biomas serão pesquisados para que se saiba qual cultura se adapta melhor a determinadas localidades. Em seguida, a Embrapa oferecerá consultoria aos produtores para que migrem para as culturas que melhor se desenvolvem em suas regiões. “Poderemos identificar um produtor que poderia ter uma maior produtividade com outra cultura em sua região”, afirma Arraes.

A Embrapa, segundo o presidente da estatal, quer abandonar a imagem de empresa pesquisadora para se aproximar mais dos produtores. Após “décadas” de pesquisa intensiva, a estatal quer refazer sua imagem no Brasil e no exterior como “parceira” dos produtores e não somente como fornecedora de tecnologia para produção. Este ano, a empresa lançará duas ferramentas, a revista CTagro e o site Webagritech.

O lançamento dos produtos está  marcado para o aniversário da estatal, no dia 26 de abril. O site, em produção desde 2009, será um “guia” para que o produtor possa ter um passo a passo desde o preparo da terra até  a colheita. A revista terá uma linguagem técnica, voltada para discussões com maior caráter científico.

 


Apesar das restrições, país consegue superávit no comércio com Argentina

Valor Econômico

As restrições impostas à compra de produtos importados na Argentina, como licenças não automáticas de importação e retenções demoradas nas alfândegas, conseguiram provocar uma queda quase imperceptível, de 2%, nas exportações brasileiras àquele país em janeiro. Isso não evitou que o comércio bilateral alcançasse pequeno saldo favorável aos brasileiros, de US$ 145 milhões. Na última semana do mês, foram aceleradas as exportações à  Argentina, revertendo a tendência de déficit registrada desde o início do ano.

“Embora pequena, a queda nas exportações para a Argentina foi o que impediu que fossem maiores nossas vendas à América Latina”, comentou a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, ao notar que as exportações do Brasil à América Latina cresceram 7% em janeiro. Tatiana viaja segunda-feira para pedir esclarecimentos ás autoridades argentinas sobre a entrada em vigor, ontem, de um novo mecanismo de controle das importações, com a exigência de declaração antecipada, por parte dos importadores no país.

O comércio com os argentinos teve altas fortes nas vendas brasileiras de máquinas de terraplenagem (182%), tratores (121%), veículos de carga (137%) e até automóveis (73%), mas sofreu quedas em itens como inseticidas (40%) e máquinas agrícolas, exceto tratores (31%), além da redução nas exportações de têxteis e calçados.

Há temor de que as novas medidas de controle reduzam ainda mais as exportações do Brasil e, ontem, alguns empresários brasileiros se queixavam ao ministério de que não conseguiam informações nem sobre como fazer a declaração exigida pelas autoridades do país vizinho. A Argentina representa em torno de 9% do mercado para as exportações brasileiras.

O Brasil tem conseguido compensar em parte a retração em seus mercados tradicionais com a exploração de novos mercados, como os da Ásia (que passou de 24,7% para 26,2% do mercado para os brasileiros) e África (que subiu de 5,4% para 6%).

 


A falta que faz a inovação

Correio Braziliense

Pedro Henrique Medeiros, 14 anos, pretende, quando adulto, construir uma casa onde não faltará nada: computador, internet, tablet, videogame, eletrodomésticos, churrasqueira, piscina, carro na garagem e tudo mais que vier a ser inventado nos próximos anos ou que a imaginação de um adolescente alcançar. Para isso, ele sabe que terá de estudar muito, apesar de ainda não ter certeza sobre qual profissão seguirá. Por enquanto, está dividido: vai tentar ser jogador de futebol, mas, se não der certo, trabalhará com educação física.

“Se não conseguir entrar para um clube grande, vou fazer uma faculdade. Tenho que me preparar desde já, porque entrar no mercado de trabalho ficará cada vez mais difícil”, reconhece Pedro, que está no primeiro ano do ensino médio. A ansiedade em relação ao futuro é compartilhada com o amigo Thalisson Gomes, 14, com quem ele treina duas vezes por semana em um time de futebol de Ceilândia. “A exigência para conseguir um emprego aumenta todos os dias. Tem que saber informática, inglês, ter diploma”, complementa. “Mas, no meu caso, faculdade só se for pública. Minha família não tem dinheiro para pagar”, emenda Thalisson.

A consciência dos adolescentes reflete a preocupação de um país que precisa inovar para crescer, mas que ainda carece de infraestrutura e mão de obra qualificada. E os desafios enfrentados por Pedro e Thalisson não são menores do que os que se colocaram no caminho de empresários e governantes. O maior deles está em como desenvolver uma política industrial eficiente que permita o crescimento econômico do país e as transformações necessárias para que os dois jovens conquistem um padrão de consumo tão sofisticado, equiparável ao de países desenvolvidos.

Antes de Pedro e Thalisson nascerem, há duas décadas, o país viveu um processo de abertura econômica que resultou no aumento da concorrência e na oferta de produtos melhores e mais baratos. Os brasileiros passaram a ter mais acesso a bens como eletrodomésticos, computadores pessoais e veículos, embora tenham persistido, até os dias

atuais, oligopólios em vários setores. As conquistas do passado, entretanto, estão hoje em xeque. A perspectiva é de um longo período de estagnação em países da Europa e nos Estados Unidos. Com o Primeiro Mundo em crise e à beira da falência, o crescimento global se sustenta, em grande parte, na demanda doméstica pujante dos emergentes — especialmente do Brasil —, graças à entrada de milhões de trabalhadores na classe média.

Com todos querendo despejar no mercado brasileiro montanhas de produtos encalhados mundo afora, os problemas sistêmicos do setor industrial ficaram mais evidentes do que nunca. A atividade das fábricas voltou a patinar — cresceu apenas 0,3% em 2011 —, a despeito do aquecimento no comércio interno, o que desenterrou o velho fantasma do protecionismo. É inegável que, ao longo dos anos, o país construiu uma base industrial que impulsionou o crescimento e absorveu grande contingente de mão de obra — hoje, o Brasil está muito próximo do pleno emprego, com um índice médio de desocupação de 6%, o menor da história. Mas a verdade é que a indústria está praticamente estagnada desde 2008. Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) acumulou alta de 16% nos últimos quatro anos, o PIB da indústria de transformação cresceu apenas 4%.

“Não haverá crescimento sustentado de longo prazo se a indústria continuar com desempenho tão abaixo da média do PIB”, alerta Célio Hiratuka, professor do Núcleo de Economia Industrial e de Tecnologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Empresários, estudiosos e governantes são unânimes em afirmar: o centro do problema está na baixa capacidade competitiva do setor. “As dificuldades vão desde o excesso de tributação à logística deficiente, alto custo da energia, do capital e dos serviços e, claro, do dólar barato, que estimula um volume excessivo de importações”, explica Júlio Gomes de Almeida, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Diante de tantos obstáculos, os empresários não conseguem inovar e, salvo raras exceções, perdem mercado para produtos estrangeiros, geralmente melhores e mais baratos. A mais recente versão do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) mostra que o nível de inovação no Brasil ainda está muito aquém do razoável. Pouco mais de 10% dos novos negócios no país trazem ao mercado bens e serviços verdadeiramente inovadores, desempenho que só não é pior do que o de Bangladesh. Em 2010, o Brasil havia ocupado a última posição entre 54 países.

Atualmente, o investimento em inovação no Brasil equivale a 1,2% do PIB, dividido em 0,65% proveniente do setor público e 0,55% do setor privado. Ronaldo Mota, secretário de Desenvolvimento Tecnológico do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), revela que a meta do governo é elevar esse índice para 1,8% do PIB até 2014, dividido em 0,9% do setor público e 0,9% do privado. “O Brasil precisa crescer muito os aportes em ciência e tecnologia. Nesse processo, a elevação dos investimentos privados precisa ser a um ritmo ainda mais acelerado que o setor público”, declara. Ainda assim, o país ficará abaixo da média dos emergentes, hoje de 2% do PIB.

O resultado é que o setor de tecnologia da informação e comunicações, no qual o grau de inovação é  elevadíssimo e as transformações de mercado, constantes, responde por apenas 3,5% do PIB brasileiro. Em 1980, o Brasil era mais desenvolvido que a Coreia do Sul e a China. Ao longo desses anos, enquanto as duas nações alcançaram índices de investimento da ordem de 30% do PIB, o complexo brasileiro de tecnologia da informação simplesmente não avançou. “Ainda há muito espaço para o crescimento do setor de TI no país, que deve dobrar de tamanho até 2020. Hoje, a oferta está concentrada basicamente nos grandes centros”, avalia John Foreman, diretor de Capacitação da Associação para a Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex).

A soma desse conjunto de fatores —  economia global em crise, baixa competitividade da produção nacional, investimentos em inovação aquém da média mundial e fraco desenvolvimento tecnológico — compõe o ciclo de atraso que ameaça a sustentabilidade do crescimento econômico. A pauta exportadora perde, a cada dia, a participação de itens de média e alta tecnologia, enquanto a lista de commodities permanece dominante. Há, contudo, exceções, como Embraer, Embrapa e Natura, que independem de proteções comerciais ou reserva de mercado para se manterem competitivas tanto no mercado doméstico quanto no internacional.

 


Eike descobre petróleo no pré-sal em águas rasas

O Globo

A OGX, empresa de petróleo do grupo EBX, do empresário Eike Batista, anunciou ontem ter descoberto petróleo no pré-sal em águas rasas na Bacia de Santos. Esse tipo de descoberta é inédito no Brasil. Em fato relevante divulgado ao mercado, a companhia explicou que, durante a perfuração de um poço no bloco BM-S-57, a sonda encontrou petróleo abaixo da camada de sal em reservatório com as mesmas características dos campos do pré-sal da Petrobras em águas ultraprofundas, também na Bacia de Santos. A descoberta de indícios de óleo no pós-sal já tinha sido anunciada pela companhia no último dia 16.

A OGX informou que somente com a realização de testes de perfilagem no poço, que serão realizados nos próximos dias, é que será possível avaliar o potencial das reservas. Os cinco blocos da OGX na Bacia de Santos têm reservas estimadas em 1,8 bilhão de barris. A empresa afirma que, com a realização dos testes na nova descoberta, as reservas poderão ser maiores. O colunista Ancelmo Gois informou ontem que as reservas variam de 3 bilhões a 4 bilhões de barris.

O bloco BM-S-57 está apenas a 102 quilômetros da costa, na altura de Ilhabela, próximo à divisa entre São Paulo e Rio, e em águas rasas de apenas 155 metros de distância do nível do mar ao solo marinho. O poço perfurado tem 6.135 metros ao todo de extensão. Os campos do pré-sal da Petrobras estão a 300 quilômetros da costa e a profundidades além de dois mil metros (águas ultraprofundas).

As ações ordinárias (ON, com direito a voto) da OGX foram destaque na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ontem, avançando 5,68%, a R$ 17,49. Quarta maior alta do Ibovespa, os papéis foram também o segundo ativo mais negociado, girando R$ 724,8 milhões, atrás apenas das preferenciais (PNA, sem voto) da Vale (R$ 968,2 milhões). Além da descoberta no pré-sal, o início de produção da OGX na Bacia de Campos teve impacto positivo no mercado.

– A informação (início de produção) é muito importante, pois sinaliza que a empresa vai começar a gerar caixa – afirma Luiz Otávio Broad, analista da corretora Ágora.

 


Empresários do varejo estão menos otimistas sobre 2012

O Estado de S. Paulo

Apesar da manutenção da expectativa de aumento nas vendas este ano, o otimismo dos empresários do varejo caiu no início de 2012, indicando redução no ritmo dos investimentos. O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC) caiu 2,3% em janeiro, na comparação com dezembro de 2011, mas continua favorável com o alto patamar de 127,6 pontos. Os dados foram divulgados pela Confederação Nacional do Comércio (CNC).

Entre novembro e dezembro, em meio às vendas de Natal, o ICEC havia ficado estável em 130,6 pontos, fechando o ano no maior nível da série iniciada em março de 2011. O recuo no início deste ano foi puxado principalmente pelo subíndice relativo aos investimentos (IIEC), que recuou 4,5% em janeiro.

A principal influência desse resultado veio da queda de 10,8% na expectativa de contratação de funcionários, o que é esperado nessa época do ano com o aproveitamento de parte dos temporários do período de Natal. Já o nível de investimentos das empresas recuou 1,6% na mesma comparação.

Na avaliação do economista Bruno Fernandes, da CNC, a desaceleração da economia em 2011 está influenciando a redução das intenções de investimento dos varejistas este ano, que elevaram as inversões na abertura de lojas em 2010 estimulados pelo crescimento de 10,8% do comércio naquele ano e na expectativa de um desempenho mais forte em 2011.

IBGE. O desempenho do varejo em 2011 só será divulgado no próximo dia 14 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em fevereiro, mas Fernandes, acredita que o comércio cresceu cerca de 6,5% no ano passado com a desaceleração da economia provocada pelo governo e agravada pela crise global. Com isso, o investimento foi maior do que a alta da demanda em 2011, o que aparece no subitem do ICEC que aponta a percepção do comerciante sobre os estoques.

Apesar da ligeira alta de 0,6% em janeiro, o indicador continua abaixo dos 100 pontos (95,2 em janeiro), expressando manutenção de estoques altos com vendas abaixo do esperado e ritmo menor na expansão de pontos de vendas. “O empresário hoje está  mais moderado, mas ainda está otimista em relação ao crescimento do comércio este ano”, diz Fernandes.

“Provavelmente a confiança voltará  a variar positivamente no segundo trimestre, quando o comércio vai sentir mais o efeito da retirada das medidas macroprudenciais, dos estímulos do governo ao consumo e ao crédito e da redução da Selic, que leva de 6 a 9 meses para ser sentida na economia”, disse.

 


O Brasil e os outros emergentes são a joia da coroa’

O Estado de S. Paulo

Maior banco do mundo durante décadas, o Citigroup quase sucumbiu à crise das hipotecas de alto risco nos Estados Unidos. Só resistiu porque foi resgatado pelo governo americano. Passados mais de três anos do auge da confusão, o banco se reorganizou e definiu como prioridade a atuação nos países emergentes, entre os quais o Brasil. “Naquela época, teve gente que bateu na porta para dizer que tinha interesse na operação brasileira. O banco foi claro: o Brasil não está à venda. Ao lado dos outros emergentes, forma a joia da coroa”, relata o presidente do Citi no Brasil, Gustavo Marin.

Nesta entrevista, o uruguaio, que comanda a unidade brasileira desde 2005, fala sobre as apostas para os próximos anos no País, e revela que a sede para a América Latina pode ser transferida da Cidade do México para São Paulo. A seguir, os principais trechos da entrevista:

O sr. tem falado pouco desde que o Citigroup teve os problemas, no auge da crise, em 2008.

Tanto no mundo quanto no Brasil, o banco esteve focado, no pós-crise de 2008, em reconstrução. Foram anos de muito trabalho para dentro. As orientações de nosso presidente (Vikram Pandit) foram claras: restabelecer a saúde financeira e redefinir a estratégia. Algo em que foi muito bem-sucedido. A crise da dívida europeia encontrou o banco muito bem preparado. No Brasil, não tivemos nenhum desses problemas, mas também foram anos de fortalecimento de time, de definir em que negócios gostaríamos de estar, de procurar eficiência.

Depois de arrumar a casa, já  é tempo de olhar para fora?

2011 já foi um ano de sair para conquistar espaços. Foi um ano em que o Citi partiu para o ataque. Terminamos de montar o banco de investimentos. A crise internacional que veio na segunda metade de 2011 só acelerou esse processo, porque o Citi foi impactado de forma mínima em relação aos concorrentes. Isso criou grandes oportunidades. Esse foi o foco de 2011: ocupar espaços e crescer.

A que áreas o sr. se refere?

No banco de investimento, na área de pessoa física, em tesouraria, nas pequenas e médias empresas… Enfim, todas as linhas de negócio no Brasil tiveram expansão importante.

Quais são as prioridades?

O banco, em 2008, foi forçado a tomar decisões importantes. A mais importante foi definir em que negócios queria ficar. Eram cerca de US$ 650 bilhões em ativos para se desfazer. O grosso era banco de varejo em países desenvolvidos. A única coisa que decidimos vender aqui foi a participação na Redecard. Naquela época, teve gente que bateu na porta para dizer que tinha interesse na operação brasileira. O banco foi claro: não, o Brasil não está à venda. O Brasil, ao lado dos outros emergentes, forma a joia da coroa. Estamos presentes em mais de 100 países e temos capacidade para fazer negócio em 160. Antes, o mundo tinha Nova York e Londres, e todo o resto se conectava por meio dessas duas cidades. A crise mostrou que está surgindo um novo mundo multipolar. As conexões são diretas: São Paulo-Nova Délhi, Seul-Cidade do México, Pequim-Johannesburgo…

Como pretendem aproveitar o bom momento da economia brasileira? A unidade de varejo é pequena e tem foco na alta renda.

As pessoas esquecem alguns tipos de transações. Não estamos no negócio de varejo de agências, mas acessamos toda a pirâmide da população via Credicard. A Credicard atende essa nova classe média de uma forma muito inteligente. É uma empresa que pode vender 2 milhões de contas sem ter presença física na rua. Em um mundo cada dia mais conectado e digital, as pessoas vão pouco à  agência. E isso só vai aumentar.

Mas os bancos de varejo, aqui, estão abrindo muitas agências.

Cada um tem a sua estratégia. Ao entender meus pontos fracos e fortes, não vou querer competir com um banco que tem 4 mil agências. Mas vou competir com as ferramentas que tenho: capacidade de acessar dados, venda remota etc. Tenho toda uma estratégia de pessoa física, com foco nas classes A e B, que me permite ter em Porto Alegre, por exemplo, 4, 5 ou 6 agências bem localizadas. O restante da população atendemos via Credicard. No atacado, temos visto o surgimento das pequenas e médias empresas. Estamos sistematicamente atacando esse público. Trazemos para o Brasil produtos e serviços bem-sucedidos em outros lugares do mundo, adaptados, claro, à realidade local.

Qual é o tamanho do Brasil na estrutura do Citi?

Estamos entre a 5.ª e a 6.ª  maior operação no mundo.

O Citi está satisfeito com o tamanho que tem no Brasil?

Nunca estamos satisfeitos com o tamanho. Sempre queremos – e vamos – ser maiores.

Qual a estratégia para isso?

Crescimento orgânico. Sendo realista, neste momento, é difícil pensar que algum grande banco americano fará grandes aquisições mundo afora. Com a nova bateria de regulamentações (Basileia 3, entre outras), é difícil pensar nisso.

O HSBC mudou a sede da América Latina do México para São Paulo. O Citi tem algum plano semelhante?

Isso está sendo discutido.

Existe a possibilidade?

Sim. Está em estudo dentro de um plano de reestruturação das diferentes regiões do mundo.

Por que a discussão?

Em primeiro lugar, pela importância do Brasil. Poderia ser uma forma de sinalizar a importância do Brasil dentro da América Latina. Há ainda outras considerações internas para justificar (uma eventual mudança).

Quando haverá  uma definição?

Não sei dizer.

Como o Citi vê a conjuntura global?

A Europa vai conseguir uma solução ao longo de 2012. Já prevemos o mundo crescendo de forma mais rápida em 2013. Nos EUA, o crescimento já surpreende. O impasse político (eleição de novembro) atrasa um pouco mais a recuperação nos EUA. Também vemos a Ásia crescendo. O risco de um pouso brusco na China está afastado.

Não há  ruptura?

Exatamente. Esse cenário já é  mais do que suficiente para que o Brasil cresça em torno de 3,5%. Sem ruptura, esse número pode até ser conservador. Além disso, o governo brasileiro tem ferramentas de dar inveja a outros países para enfrentar situações difíceis. Há espaço para mexer na política monetária, fazer política anticíclica e, além disso, o nível das reservas é elevado.

Quais são as principais oportunidades que o Citi enxerga no Brasil a médio e longo prazos?

Temos grande foco nisso que eu disse há pouco sobre o novo mundo multipolar. Isso cria fluxos de comércio exterior, de capitais, de investimento, que achamos que é uma enorme oportunidade. No passado, nossos banqueiros consumiam a maior parte do tempo visitando Nova York, Londres e outras partes da Europa. Hoje, investem muito tempo visitando clientes na China, Índia, Oriente Médio, outros países da América Latina. É impressionante. Estamos nos posicionando para aproveitar esses fluxos.

E os riscos? Há, por exemplo, quem tema pelo mercado de crédito no longo prazo aqui.

Os maus créditos se dão em bons momentos. Esse caminho (alta do crédito no Brasil) não vai acontecer sem altos e baixos, como a própria crise europeia mostra. As disciplinas básicas de ser um bom banqueiro nunca podem ser deixadas de lado. Não se pode relaxar no gerenciamento de riscos. Mas, deixando de lado esse dia a dia do banqueiro, os grandes riscos estão ligados à mão de obra e à infraestrutura. Pode faltar recursos humanos para abraçar as oportunidades que temos.

O sr. tem observado excessos na concessão de crédito no País?

Estamos sempre atentos ao grau de endividamento das famílias. Em algum momento, pode haver ajuste, detonado por fatores como uma parada na geração de empregos ou uma minirrecessão, com efeito sobre o desemprego. Nesse momento é que saberemos se houve excessos. Por isso, é importante avaliar o endividamento das famílias tão de perto.

Há  uma percepção de que os bancos brasileiros são os mais lucrativos do mundo. É verdade?

Não. Os níveis são semelhantes. O problema é que o mundo passou por situações complexas nos últimos anos. Hoje, o mercado brasileiro está crescendo porque o Brasil está crescendo. Mas a Ásia também cresce. Ou seja, um banco aqui não ganha mais do que um banco lá.

 


‘Chanceler’ europeia vem ao Brasil para pressionar por sanções ao Irã e à Síria

O Estado de S. Paulo

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, desembarca no Brasil neste fim de semana para cobrar do governo da presidente Dilma Rousseff a adoção de uma posição mais firme contra a repressão na Síria e pressionar o País a aliar-se aos esforços da comunidade internacional para conter o programa nuclear do Irã.

O governo brasileiro confirmou ao Estado que os temas estarão na agenda da visita. Ashton é uma das principais defensoras das sanções contra o Irã e insiste que a situação na Síria já não pode ser resolvida com Bashar Assad no poder. Nas últimas semanas, ela vem liderando uma ofensiva diplomática que, ao lado dos EUA, busca mobilizar os principais centros de poder no mundo para asfixiar financeiramente os dois regimes.

Em discurso ao Parlamento Europeu, Ashton reiterou que espera convencer o Brasil a caminhar ao lado das sanções promovidas pela comunidade internacional em ambos os casos (mais informações na página A12). “Vou ao Brasil no fim de semana”, disse. “Um dos tópicos da agenda é explicar o que estamos fazendo (em relação ao Irã). Queremos uma ampla aliança nessa questão e um entendimento de que as sanções são vitais para forçar o governo de Teerã a voltar a negociar uma solução. Precisamos que a comunidade internacional atue de forma coordenada”, declarou, referindo-se a Brasília. “Vou concentrar minha agenda no Brasil no tema iraniano”, disse Ashton, que também destacou a necessidade de coordenar com o governo brasileiro posições em assuntos de direitos humanos. Ashton sabe que as sanções que se limitam a europeus e americanos terão pouco impacto e espera mais apoio internacional. Para isso, tenta conseguir a adesão de outros parceiros, como China, Coreia do Sul, Rússia e Japão.

O Itamaraty, porém, indicou ontem mesmo que rejeitará o apelo da diplomata europeia e manterá a linha atual de sua política externa – contrária à imposição de sanções econômicas fora do âmbito das Nações Unidas. Há menos de um mês, em Genebra, o chanceler Antonio Patriota reuniu-se com uma delegação iraniana e deu garantias de que o Brasil “nunca” apoiaria sanções unilaterais. Na avaliação do Brasil, só o diálogo poderá levar a um acordo sobre o programa nuclear do Irã.

Ashton indicou, no entanto, que não esperará indefinidamente por uma resposta iraniana. “O tempo está se esgotando e o Conselho de Segurança vai querer em algum momento avaliar se o Irã está cumprindo as determinações”, disse.

Apesar da pressão, Ashton insiste que fez chegar aos iranianos, por intermédio da Turquia, a mensagem de que está disposta a negociar. A mesma mensagem será passada ao Brasil, para que o País use os canais que Brasília dispõe em Teerã. “Nossa posição é a de apoiar o diálogo. Mas temos de fazer com que o Irã entenda suas responsabilidades”, disse.

A chefe da diplomacia europeia também disse que a situação da Síria é tratada como “prioridade”. “É alarmante o que ocorre na Síria”, afirmou. Segundo ela, a UE está pressionando “todos os dias e a cada hora” seus principais parceiros para que cheguem a uma posição conjunta. O principal desafio é convencer Rússia e China, que têm poder de veto no Conselho de Segurança. Ainda ontem, Rússia reiterou que vetará qualquer proposta “inaceitável”.

Mas Bruxelas acredita que o apoio do Brasil, mesmo fora do âmbito da ONU, seria um sinal forte em razão da influência da diplomacia brasileira nos países emergentes. Segundo disseram diplomatas brasileiros ao Estado, o recado à UE será  o de que o País rejeita qualquer ação, mesmo diplomática, que conduza a uma mudança forçada de regime.

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