Porto Rico: um povo com DNA de pura luta

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Povo na rua força a renúncia de Rosselló, governador de Porto Rico
Transcorreram uns 10 longos minutos quando o governador Ricardo Rosselló anunciava, através de uma mensagem pré-gravada, que renunciava ao seu cargo.

A multidão que se reuniu, como nos últimos 12 dias, em torno de La Fortaleza, aguardou o pronunciamento do Primeiro Executivo até às 11:40 da noite. Após uma maratônica espera, a mensagem apareceu.

Através de seus celulares, as pessoas viram e ouviram Rosselló dizer que ele seria o governador de Porto Rico somente até a próxima sexta-feira, 2 de agosto, às 17:00.

Os que se reuniram na Velha San Juan irromperam em gritos e se abraçaram, pularam e comemoraram. Celebraram entoando “Nós fizemos história!”. E “Vamos depor os outros, vamos depor a Junta”, como seus novos slogans, após saberem que eram vitoriosos.

Um povo com DNA de pura luta

Por Carlos Aznárez

O que está acontecendo atualmente em Porto Rico é um sinal claro de que, quando um povo é desafiado para além de seus limites de paciência, ele entra radicalmente em um curto circuito e a explosão que ele gera pode adquirir consequências imprevisíveis. Manifestações de até um milhão de pessoas transbordando não apenas as ruas da capital San Juan, mas cada uma das grandes e pequenas cidades do país caribenho, sinalizam o cansaço de anos e anos de dependência forçada aos Estados Unidos, mas também de repúdio aos vice-reis que se ajoelham impunemente diante dos respectivos poderes que vêm de Washington.

Ricardo Roselló, no final o governador eleito por uns poucos convencidos e outros que, como tem acontecido em outros países, acreditavam optar pelo “mal menor”, se tornou o gatilho de uma luta por séculos contida. Acontece que “Ricky” (como é chamado pelas charges populares muito criativas) não é apenas acusado de múltiplos atos de corrupção no curto período de governo que vai desde o juramento no início de 2017 até este momento atual convulsivo, mas quem se pôs obediente à campanha eleitoral de Hilary Clinton, dedicou-se em seu tempo livre a zombar de centenas de conversas com seus capangas (para não dizer amigos íntimos) de quantas pessoas considerava adversárias ou críticas a suas ações políticas.

Nessa cilada caíram alguns funcionários da oposição até artistas conhecidos como o próprio Ricky Martin. Escusado será dizer que, entre o dito e o não dito, Roselló deu rédea solta a comentários homofóbicos, racistas e xenófobos do pior tipo, acreditando que “ninguém ia descobrir”. Assim, ele encheu centenas de páginas de conversas demonstrando seu alto nível de imbecilidade e provocação. Mas em um mundo onde tudo é gravado, filmado e filtrado, as palavras impertinentes do governador de repente chegaram às mãos daqueles que eram responsáveis ​​por espalhá-las por todo o mundo, e o vulcão explodiu ali mesmo.

Não se viam mobilizações de tal magnitude em Porto Rico há muito tempo. Milhares de jovens de todas as classes sociais, unidos e unidas em torno da bandeira do “Fora Ricky”, transformaram-se com o passar dos dias em algo mais poderoso, como “que todos se vão”. E quando essa frase é pronunciada, serve para denunciar não apenas aqueles que traíram o mandato pelo qual foram eleitos, mas também todo político oportunista apto a receber o grito saudável da multidão. Consequentemente, é a própria forma de governo, a democracia burguesa, que está sendo duramente desafiada.

Assim, com o passar dos dias, o onipotente governador que jurou que não seria afastado do cargo por “aqueles minúsculos grupinhos nos quais ninguém votava” se convenceu de que a situação não era tão fácil de resolver e decidiu anunciar que a sua renúncia a uma possível reeleição e, ao mesmo tempo, deixou o partido por meio do qual ganhou as eleições. Só estava faltando ele se demitir de seu cargo de governador como exigiam as ruas, cada vez mais raivosas.

Vale a pena analisar que esta revolta popular tem características únicas. Por um lado é absolutamente unitária, pois as provocações de Roselló conseguiram aquele milagre de unir o diverso. Por outro lado, mostra que, nunca em vão, Porto Rico tem uma história de lutas que vai de heróis como Eugenio María de Hostos, Pedro Albizu Campos, Lola Rodríguez de Tió e Ramón Emeterio Betances, aos invasores do Capitólio dos Yankees (1 de janeiro de 1954) Lolita Lebrón, Rafael Miranda e outros patriotas. Mas havia mais na luta acumulada, como os heróicos Macheteros comandados por Filiberto Ojeda Ríos, que caiu em combate desigual contra o FBI em setembro de 2005, ou o falecido Avelino González Claudio e o já libertado, após mais de 30 anos na prisão, Oscar López Rivera.

Todas estas pequenas e grandes batalhas travadas por homens e mulheres de luta estão no DNA destas novas gerações que hoje saem para ganhar as suas e o fazem com métodos e estilos muito particulares. Eles clamam por superar a desigualdade que os separa do poder que enfrentam, forçando ao máximo a criatividade de seus slogans e canções, orientando-se para ganhar cada vez mais apoio popular. Então podem ser vistos banners realmente originais que denunciam com ironia e não pouco humor os mandachuvas do mau governo. Ou como é o caso desse personagem popular autêntico que é conhecido como o “Rey Charlie”, um motoqueiro que, até o início da rebelião, se dedicava a organizar competições de motociclismo e quatro pistas, e agora se tornou um líder carismático de milhares e milhares de jovens motociclistas que atravessam as ruas das principais cidades dirigindo suas máquinas e exigindo que “Ricky saia” o mais rápido possível.

A este exemplo, devemos adicionar uma onda de artistas conhecidos e cantores populares, como Ricky Martin, René, da Calle 13 (ambos também injuriados pelo outro Ricky), Daddy Yankee e Bad Bunny, entre outros, que foram os principais oradores das grandes manifestações.

Este movimento ainda está em aberto e seu final é incerto. Se a lógica fosse imposta, Roselló deveria ter saído pela porta dos fundos, como um criminoso, e aqueles que se esforçam para expulsá-lo têm de forçar um governo de transição onde muitos desses novos líderes de rua participariam para que ninguém pudesse fazer recuar a vitória, como aconteceu em outras ocasiões. No entanto, a dependência de Porto Rico imposta pelos Estados Unidos é a grande ameaça latente desde a invasão ocorrida em 1898, embora de modo algum o ocupante deva ser considerado uma força invencível. Quando um povo acorda e sai para conquistar a liberdade nas ruas, como está acontecendo agora, há esperança de vitória. Viva Porto Rico Livre!

Tradução: Partido Comunista Brasileiro PCB

Fonte:

http://www.resumenlatinoamericano.org/2019/07/23/puerto-rico-un-pueblo-con-un-adn-de-pura-lucha-por-carlos-aznarez/

Quem é a sucessora de Roselló? O povo segue insistindo: “que se vão todos”

Wánda Vázquez: funcionária pública que atua como Secretária de Justiça seria a nova governadora de Porto Rico, conforme determinado pela máfia que exerce o poder em La Fortaleza, mas agora devemos ver o que os principais protagonistas da queda de Roselló pensam, todos aqueles milhares de homens e mulheres que se mobilizaram nas últimas semanas. Aqueles que em seus slogans definem que eles não acreditam nesse sistema corrupto e gritam em uma só voz: “que todos se vão”.

Wanda Vázquez foi advogada de mulheres e trabalhou para o Departamento de Habitação.
De acordo com a ordem de sucessão estabelecida pela Constituição de Porto Rico, após a renúncia de Ricardo Rosselló Nevares como governador, será a chefe da Justiça, Wanda Vázquez, que assumirá as rédeas do país devido à ausência de um secretário de Estado em exercício.

Uma vez que a renúncia de Rosselló seja formalizada no dia 2 de agosto às 5:00 da tarde e, se um secretário ou secretário de Estado não tiver sido nomeado até então, Vázquez já havia expressado que estaria disposta a ocupar a Mansão Executiva.

O histórico biográfico de quem se identificou como uma “senhora da justiça”, segundo uma entrevista para o El Nuevo Día em dezembro de 2016, demonstra que ela tem a experiência de trabalhar no Departamento de Habitação durante os anos 80, serviu como procuradora do Departamento de Justiça na divisão de casos de violência doméstica, por 20 anos, e até mesmo dirigiu o escritório da Procuradoria Geral da República.

De fato, como procuradora de mulheres, a autoridade estava cercada de controvérsias, entre outras coisas, recomendando que as mulheres carregassem armas de fogo para se protegerem contra a violência doméstica.

Vázquez Garced ocupou o cargo de chefe de Justiça desde janeiro de 2017, depois de ser indicada pelo governador Ricardo Rosselló. Sua liderança foi cercada por controvérsias, algumas delas políticas, como a que ela mantém com o presidente do Senado, Thomas Rivera Schatz, que constantemente deixou claras suas diferenças com Vázquez Garced.

O presidente do Senado, por exemplo, pediu à funcionária que renunciasse em novembro de 2017, quando o OPFEI informou que apresentaria três acusações contra Vázquez Garced: duas violações da Lei de Ética do Governo e uma do Código Penal, após uma investigação por alegada intervenção indevida da sua parte no caso em que a sua filha e seu genro foram prejudicados por um roubo de casa. De fato, Rosselló Nevares separou a funcionária de seu cargo enquanto o processo prosseguia.

No entanto, o juiz Yazdel Ramos Colón inocentou-a de ter cometido qualquer infração ética por falta de provas.

A chefe da Justiça deixou claro que não apoia a legalização da maconha como medida para reduzir a quantidade de crimes na ilha. No entanto, em março de 2013, fez declarações em favor da pena de morte.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro PCB
Fonte:

http://www.resumenlatinoamericano.org/2019/07/25/puerto-rico-quien-es-la-sucesora-de-rosello-el-pueblo-sigue-insistiendo-que-se-vayan-todos/