MOBILIZE-SE: única opção contra a venda do nosso futuro

imagemPedro A. Winck*

Estão nos proporcionando tantas bizarrices nesses últimos meses que fica até difícil comentar alguma coisa. A sensação é que está tudo errado (e tá mesmo) e é necessário colocar tudo abaixo. Fora as falas tresloucadas, as ligações com a milícia, os anseios nepotistas do governo, o núcleo central da política brasileira continua o mesmo, agora com Rodrigo Maia à frente, colocando em prática uma espécie de parlamentarismo não declarado, cujo objetivo é dar seguimento à série de privatizações e retirada de direitos do povo brasileiro.

No plano econômico, Bolsonaro, Guedes e Maia estão dando seguimento, com maior radicalidade, ao projeto neoliberal. Em todas as ações dos governos Temer e Bolsonaro, tem sempre o mesmo ator central que sai, prioritariamente, beneficiado: o mercado financeiro. Com certa complementariedade, outras frações do empresariado abraçam as propostas, uns porque também são agentes ligados ao setor financeiro, outros porque só querem pagar menos para o trabalhador.

Nesse jogo político, setores que a priori seriam oposição a essa agenda, como PT, PCdoB e PDT, são oposição “pero no mucho”. A Reforma da Previdência é um bom exemplo disso. Enquanto os parlamentares desses partidos agitavam contra a reforma, os governadores negociavam a inclusão de estados e municípios.
Na última semana, o governo Bolsonaro apresentou o projeto “Future-se”, cujo nome adequado seria “Fature-se”. Esse é um projeto que tem como plano o enxugamento do financiamento das universidades e abertura para o capital privado, o que, em boa medida, já vem ocorrendo há muitos anos.

Quem vive a universidade brasileira nos últimos anos e leu a apresentação do projeto, sabe que alguns pontos da proposta já fazem parte da agenda das universidades, principalmente nos governos do PT. O que acontece agora é a tentativa de institucionalização das práticas que já vinham sendo desenvolvidas dentro das universidades públicas. Inclusive, na última semana, a ANDIFES, a reitoria da UFRGS e até Fernando Haddad não se colocaram radicalmente contra a proposta.

Haddad, em entrevista a Globo News, criticou apenas dois pontos da proposta: o não estabelecimento de um valor mínimo repassado às universidades e que, ao invés do dinheiro recebido via parcerias com setor privado ir para o MEC, eles devem ser repassados diretamente às universidades. Ou seja, provavelmente, se aceitarem esses dois pontos (o que não é nada impossível), reitores e setores ditos progressistas não farão oposição ao projeto “Fature-se”.

Entretanto, isso tudo que está ocorrendo tem como pano de fundo um “reposicionamento do Estado”. Todas essas propostas aprovadas nos últimos anos têm como marca a retirada do Estado como organizador do desenvolvimento nacional e a submissão do Brasil à anarquia do mercado. Os resultados já podemos começar a ver: fechamento de empresas e postos de trabalho, mais de 50 milhões de brasileiros sem contrato formal de trabalho, o aumento visível de pessoas em situação de rua e a precarização do trabalho para quem consegue manter o privilégio da servidão.

Estamos paulatinamente mais próximos de uma espécie de “guerra de todos contra todos” do século XXI. Além disso, “corre a boca pequena” que estamos à beira de uma nova grande crise econômica, similar à crise que ocorreu em 2008. Ao contrário de 11 anos atrás, hoje os Estados estão em frangalhos e o impacto econômico e social dessa crise poderá ser muito maior. Assim, está cada vez mais claro que vivemos a luta de classes em campo aberto. Os governos em suas mais variadas instâncias e o legislativo trabalham para garantir os interesses de uma minoria, megaempresários e agentes do mercado financeiro, enquanto condenam a povo brasileiro à penúria. Para reverter esse quadro é fundamental a retomada da radicalidade dos movimentos populares, especialmente do movimento sindical.

Nas últimas décadas, vivemos o apassivamento e desmobilização do povo trabalhador com o objetivo de manter as negociatas entre sindicatos e patrões ou sindicatos e governos. Nesse meio tempo, rifavam nossos direitos enquanto assistíamos sentados.

É hora de voltar a confiar na força do povo trabalhador, em sua capacidade de organização e luta, construindo uma resistência real, com fortes greves e mobilizações!

É fundamental também construir uma alternativa social que atenda prioritariamente os interesses do povo trabalhador, a qual terá como origem a luta de nosso povo, a efetivação do poder popular na perspectiva de um Brasil socialista!

* Militante do PCB, professor de sociologia e mestrando em Educação (PPGEdu/UFRGS)

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