Novos cenários para a economia mundial

imagemCrítica da Economia

por José Martins

O crescimento continua se enfraquecendo nas maiores economias do mundo. É exatamente este o título do relatório publicado no dia 09/09, segunda-feira, pela Organização para o Comércio e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre a tendência da economia mundial para os próximos seis a nove meses.

Curtíssimo prazo. As curvas apresentadas neste relatório sintetizam a chamada “composição dos principais indicadores” (CLI, em inglês), que leva em conta o índice da produção industrial em cada país como série de tendência básica de outras séries de indicadores que compõem o Produto Interno Bruto, sistema financeiro, etc.

As CLIs permitem então sinalizar antecipadamente pontos de ruptura da expansão dentro de diferentes fases ou flutuações do ciclo econômico (business cycle). De maneira mais qualitativa do que quantitativa, isso é importante considerar. Trata-se de tendência do processo cíclico e não de volume de crescimento.

Observem-se, abaixo, as curvas da CLI resultantes da ressonância computadorizada do ciclo econômico pela OCDE.

imagemNota-se, então, que tanto nos EUA quanto na China, assim como nas outras duas grandes áreas econômicas indicadas (OCDE e euro área), as curvas de tendência já se encontram nos pontos mais baixos do ciclo desde o forte choque de dez anos atrás.

As CLIs de grandes áreas e economias nacionais continuam sinalizando um momento de claro enfraquecimento da expansão cíclica nos EUA e na Eurozona, particularmente na Alemanha, economia reguladora do velho continente.

Observa-se com outros dados do relatório que a granítica economia alemã é a que mais apresenta sinais prodrômicos de abruptas rachaduras e de reversão cíclica dentre todas as demais grandes economias nacionais da OCDE. Os EUA e a China também se sobressaem neste quesito.

Forma-se então um quadro geral de pesado fechamento do atual ciclo econômico global iniciado dez anos atrás. E abrem-se três cenários decisivos para os próximos trimestres e anos na economia mundial.

O primeiro cenário é o de uma pronta e vigorosa recuperação, retomada da economia global para mais uma longa fase de pelo menos seis anos de expansão. Inflação dos preços (e lucros) de produção, recuperação da taxa geral de lucro de meados do ciclo atual e de uma taxa de reprodução (acumulação) ampliada do capital. Renovada globalização produtiva e comercial. Um novo e virtuoso ciclo econômico. De acordo com as observações da Crítica da Economia, este é o cenário mais improvável.

O segundo cenário é marcado por uma súbita derrocada financeira e comercial mundial. Pode ocorrer ainda nos próximos noventa dias. O mês de outubro é historicamente o mês dos grandes crashs.

Essa crise periódica de superprodução de capital está sendo gestada fundamentalmente por clara desaceleração da produtividade, produção de valor, de mais-valia e, finalmente, da taxa geral de lucro (corporativo) nos EUA, economia reguladora dos fundamentos produtivos do mercado mundial.

Mas essa nova derrocada nos fundamentos da esfera produtiva do capital mundial se manifestaria previamente na sua esfera da circulação. Nos mercados monetários, financeiros e de capitais. Quando todos esses setores do capital mercantil ainda registram recordes históricos de valorização.

No desenrolar das etapas finais do ciclo econômico a desvalorização do capital produtivo de mais-valia determina a súbita interrupção da valorização recorde do capital fictício. E todos os mercados de papéis desabam ao mesmo tempo em todo o mundo. A falência do sistema de crédito ocorre imediatamente antes da produção.

As primeiras explosões ocorreriam nos principais mercados cambiais e bolsas de valores. As bolsas de Xangai, de Berlim e de Londres, pela ordem, são as principais candidatas para acionar o gatilho global, detonando Tóquio, Frankfurt (Eurozona) e, finalmente, Nova York. De acordo com observações disponíveis na redação este é um cenário provável.

O terceiro cenário é de reversão da atual situação de momento de enfraquecimento da expansão das principais economias (EUA, Eurozona, Japão e China) tal como se observa na tomografia computadorizada acima da OCDE.

A reversão do enfraquecimento atual ocorreria como arremetida do sistema para uma situação generalizada de crescimento estável nos próximos quatro a oito trimestres. Estável, mas sem expansão ampliada. Ao contrário, com desmantelamento progressivo da globalização produtiva dos últimos quarenta anos e rápido engessamento do comércio internacional.

Um estado estacionário à David Ricardo. Que morreu angustiado com essa tenebrosa perspectiva do regime capitalista. Um sonho malthusiano e das grandes burocracias estatais que neste século 21 volta travestido de disruptivos movimentos econômicos protecionistas e correspondentes políticas nacionalistas no centro dominante do sistema.

Um estado estacionário da valorização do capital seria um acontecimento inédito nos últimos setenta anos. A chama da taxa de lucro desapareceria, mas burocraticamente (e totalitariamente, em sua forma política) o sistema poderia manter uma taxa zero de acumulação correspondente à reprodução simples do capital.

Crescimento zero. Capital asfixiado. Aumento rápido das tensões geopolíticas. Essa possibilidade de reprodução simples do capital ocorreu historicamente nos períodos de grandes guerras mundiais. A última delas encerrou-se em 1945.

As crises econômicas nacionais foram abafadas naqueles curtos períodos de guerras mundiais. Se o regime capitalista pudesse manter as grandes guerras indefinidamente não haveria mais crises econômicas.

Neste terceiro cenário, as burguesias e demais classes parasitas trocariam simplesmente a complexa e trabalhosa contradição capitalista pela simples e previsível destruição da espécie humana.

Pelas informações econômicas e geopolíticas disponíveis em nossa redação este terceiro cenário é o mais provável.

Nota bene: A cenarização é um instrumento valioso para acompanhar com precisão e agilidade as incessantes alterações dos cenários mais prováveis e das variáveis de força que os compõem – e, assim, estabelecer com mais segurança táticas e estratégias políticas ou militares em constante adaptação àquelas mutantes situações reais.

Mas quando se trata do exercício de cenarização – seja do ciclo econômico, seja das estratégias geopolíticas, da guerra propriamente dita, etc. – é bom lembrar que quando se estabelece três principais cenários, como delineados acima, o que se quer indicar é simplesmente em torno de qual dos três se desenrolarão, com maior ou menor probabilidade, as inúmeras situações reais da economia, da geopolítica, da questão militar, etc.

Assim, o primeiro cenário apontado acima como o mais improvável é mais rígido e deve permanecer com esse elevado grau de improbabilidade de acontecer. Quer dizer, é mínima a probabilidade deste primeiro cenário se materializar em movimentos reais, ou mesmo compartilhar minoritariamente nestes movimentos reais da economia e da geopolítica global nos próximos 12 a 24 meses.

Mas será seguramente no espaço de probabilidade compreendido entre o segundo cenário (provável) e o terceiro (mais provável) que devem se desdobrar os movimentos reais da economia, da geopolítica global e das guerras imperialistas dos próximos anos.

As mesmas variáveis dos diferentes cenários participam do mesmo processo econômico e geopolítico. No caso aqui analisado, o que se diferencia no movimento e na forma do processo real é o peso e a ação de cada uma destas variáveis no segundo ou no terceiro cenário.

De qualquer maneira, essas futuras situações reais e suas formas concretas de aparecimento no chão duro da história sempre serão decididas e efetivadas unicamente, exclusivamente pela luta de classes proprietárias nacionais contra a classe proletária internacional e, simultaneamente, pelos choques diplomáticos e seus prolongamentos armados no sistema de Estados da arena geopolítica internacional.

O exercício de cenarização serve apenas para indicar o sentido preciso do processo e o terreno sobre os quais essas lutas e choques se desenrolarão.

Novos cenários para a economia mundial