Só a esquerda vencerá o bolsonarismo

imagempor Golbery Lessa – membro do Comitê Central do PCB

O bolsonarismo, expressão particular de um movimento político de extrema direita existente em vários países, é uma das correntes possíveis de representação e defesa dos interesses e do projeto do grande capital. Consiste na sua vertente neofascista, que tem o mesmo programa econômico da corrente liberal: o neoliberalismo. O liberalismo político e o bolsonarismo dividem a mesma proposta para a economia. São dois corpos disputando a mesma cabeça. Termina havendo um empate nessa área, mas com impactos diferentes para cada lado.

Na época do fascismo clássico, um fenômeno principalmente dos países de via prussiana e colonial (Alemanha, Itália, Japão, Brasil, México, Argentina etc.), os fascistas propunham uma política econômica intervencionista, diferente em termos táticos daquela proposta pelos liberais; não chamavam o Posto Ipiranga do liberalismo, tinham seus próprios ideólogos nessa área e defendiam o capitalismo por meio da ampliação do Estado. Isso fortalecia o fascismo diante dos outros representantes burgueses nos citados países, principalmente porque lhe dava mais identidade programática e capacidade de organizar e impor as condições para a acumulação de capital. Por outro lado, o regime político fascista dificultava a articulação no interior da elite dominante e tornava muito rígidas a hegemonia e a direção política da burguesia sobre as outras classes.

O neofascismo é diferente, pois tem a mesma tática econômica dos neoliberais ou a assume tão logo chega ao poder. Isso, aparentemente, o tornaria mais frágil do que o fascismo clássico, pois não possuiria diferenciação pronunciada em relação ao liberalismo e não contaria com uma maior intervenção estatal para garantir as condições de acumulação. Entretanto, isso é uma falsa aparência. O neofascismo é a expressão política mais genuína do neoliberalismo econômico e este tem sido o único caminho trilhado pelo grande capital diante da crise do capitalismo, pelo menos em países nos quais não é barrado por amplas rebeliões populares, como no Chile das últimas semanas.

Ao contrário do que aparece na superfície do fenômeno, o neofascismo tem a vantagem sobre o liberalismo e o fascismo clássico de se encontrar mais de acordo com as necessidades ideológicas e políticas do capital no momento de sua crise estrutural, ou seja, de estar em mais consonância com o propósito da burguesia contemporânea de destruir as liberdades democráticas ou quaisquer outras instituições e valores minimamente civilizatórios que sejam obstáculos à otimização das taxas de lucro. Por esse motivo, por expressar um problema estrutural do capitalismo contemporâneo, o neofascismo não se restringe aos países prussianos e coloniais, e avança mesmo no centro do sistema e em países que fizeram revoluções democráticas burguesas, como os EUA e a França.

Os liberais no Brasil ou em qualquer outro país não possuem, portanto, as condições ideológicas e políticas para vencer o neofascismo; somente a esquerda, em suas várias vertentes, pode fazer uma oposição vitoriosa e consequente ao neofascismo, o que pressupõe capacidade de dialogar com as rebeliões de massa surgidas da luta cotidiana contra o neoliberalismo e as restrições das liberdades democráticas.

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