Chile: mulheres na primeira linha de combate

imagemDizem que é a maneira para “se fazer escutar” e de “proteger aos que lutam”. São estudantes, jovens, profissionais que levam semanas manifestando-se e que comentaram a El Desconcierto suas razões para estar na “primeira linha”: que se conquistem mudanças estruturais para dar fim à desigualdade.

Foto: @nicolasromeromoreno

Por: Natalia Figueroa / Resumen Latinoamericano

A marcha convocada na segunda-feira por organizações feministas Contra a Violência contra as Mulheres foi dispersada pela polícia em vários pontos do caminho planejado. O ponto de partida foi definido na Plaza Italia, hoje chamada Plaza de La Dignidad. No entanto, grades protetoras foram instaladas antes de chegar a La Moneda, impedindo que os manifestantes passassem ao ponto do encerramento, em Los Héroes. Além disso, em frente ao Centro Cultural GAM, havia um grande contingente policial que lançava gás lacrimogêneo e de pimenta. Mas nada disso impediu o protesto de avançar. “Eles nos matam e nos estupram. Basta de impunidade!”; “Piñera, sua força policial viola, tortura e mata”; “À sua violência, respondemos com resistência”, diziam as faixas que cobriam as ruas.

Em meio a isso, entrevistamos várias mulheres que estavam na chamada “primeira linha”. Enquanto quebravam parte do cimento na calçada para depois atirar pedras, deram suas impressões diferentes do que significa para elas estarem nessa posição de autodefesa, conforme se veem em combate. Algumas se protegeram com escudos e latão para evitar serem atingidas pelos projéteis das armas de pressão. Isso porque, apesar de suspenderem o uso, ainda é permitido em casos “excepcionais” e as autoridades de saúde reconheceram casos de pessoas baleadas após essa ordem policial.

As jovens pediram a preservação total de suas identidades ao prestar os testemunhos. Uma delas, de fato, comentou que era uma assistente social, que trabalhava na Gendarmeria e que todos os dias via as condições precárias de pessoas privadas de liberdade. A razão de estar lá, disse ela, era acabar com a desigualdade diária que observava.

Todos elas estão se manifestando há semanas e disseram que na segunda-feira, em um protesto contra toda a violência, eles tomariam essa posição com maior razão. Isso foi comentado por uma estudante de odontologia da Universidade de Los Andes, 23 anos. “Estar aqui é fazer parte do povo e apoiar as pessoas, dando cobertura. Nós não somos criminosas. Sou mãe, tenho um filho de 4 anos. Mas eu venho da mesma forma, sabendo que posso voltar sem um olho. Eu continuo dando duro, porque aqui não se trata de homens mostrando o rosto por nós”, disse ela. Alguns dias atrás, uma bala atingiu sua perna e a polícia bateu nela, que a arrastaram pelo chão. Mesmo assim, picou pedras e foi se posicionar com seu escudo que dizia: “As balas que forem lançadas contra nós voltarão”.

A esquina da Alameda, na altura da Rua Ramón Corvalán, também tem sido um ponto em que as e os manifestantes estão instalados na “primeira linha”. Uma jovem com capuz de San Bernardo, 24 anos, está com o irmão, que devolve o gás lacrimogêneo que os carabineiros lançam a poucos metros de distância.

Quando perguntada por que ela estava lá, respondeu: “Eu tive meu filho aos 16 anos. Ele nunca perdeu nada. Mas neste país tudo é difícil. As pessoas alegam e asseguram que isso é crime. Mas estamos aqui para acabar com isso na raiz, para que não haja mais filhos que tenham que entrar no Sename, por um salário mais digno, para que as pessoas tenham melhores condições de criar seus filhos. No final, o crime é gerado pelos próprios governos”, diz ela.

“Aqui o trabalho é cooperativo”, dizem duas mulheres que estão levando pedras. Além disso, embora não estejam com escudos, mas com máscaras e óculos, três estudantes de El Bosque dizem que “é importante que as mulheres estejam aqui, dando a cara, para que não continuem sendo reprimidas. Menos para o gênero feminino”. Uma delas mostra a perna porque uma bala de gás lacrimogêneo a atingiu diretamente. Duas delas estudam psicologia na Universidade Autônoma.

Há mulheres que preferem não dar seu testemunho. Mas elas fazem uma descrição rápida, principalmente, enfatizando a “adrenalina” e que “é preciso estar preparada para tudo”. Uma menina de 19 anos do norte de Santiago acredita que é uma maneira de “proteger aqueles que lutam”. “O Estado é sem vergonha (…) tem sido o mesmo canalha; precisamos tomar precauções e tomar nossas posições. Se vai jogar pedras pela primeira vez, bem, aí vai aprendendo tudo, não mais”, diz ela.

E acrescenta: “Dizem que a violência não deve ser respondida com mais violência, mas, infelizmente, nessa situação, é a coisa certa a ser feita, porque é a única maneira com que eles podem nos ouvir”, enfatiza.

Durante os poucos minutos em que pudemos conversar com elas, todas afirmaram que essa é uma maneira de resistir coletivamente, de buscar mudanças profundas que acabem com a terrível desigualdade do país.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro PCB

Fonte:

Chile. Las mujeres de la primera línea de combate no dan tregua a la violencia de los carabineros

Categoria
Tag