O MST na mira de Bolsonaro

imagemAção de despejo da Comuna Marisa Letícia, acampamento do MST em São Gonçalo do Amarante (RN), ocorrida no dia 7 de agosto de 2019 / Foto: Luisa Medeiros

O aumento da violência no campo
Discurso bélico do presidente foi posto em prática: militantes executados, despejos truculentos e ruralistas empoderados

Nara Lacerda
Brasil de Fato | São Paulo (SP)

Ainda nos primeiros dias da atual gestão, em janeiro de 2019, o governo de Jair Bolsonaro já dava mostras de que levaria à prática o tom dado às questões fundiárias durante a campanha eleitoral. Com o passar dos meses, as afirmações bélicas se tornaram atos de governo. As declarações seguiram numa crescente de agressividade que, de acordo com observadores, tornaram ainda mais sensíveis as relações no campo.

No período eleitoral, Bolsonaro defendeu fechar escolas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), dar retaguarda jurídica para quem matasse ocupantes de terra e por fim à desapropriação de áreas de proprietários denunciados por trabalho escravo, além de ter comparado trabalhadores rurais a terroristas.

Em 5 de janeiro, antes mesmo de o governo completar uma semana, o primeiro ato de violência foi registrado. Seguranças privados mataram uma pessoa e feriram outras oito em uma ocupação na Fazenda Agropecuária Bauru, em Colniza (MT). Na ocasião, a fala de um dos seguranças envolvidos já mostrava que o discurso agressivo do governo influenciou o clima de permissividade aos atos violentos.

“Houve invasão dos sem-terra, que agora não é mais sem-terra. Segundo Bolsonaro, são bandidos…morreram dois bandidos e cinco baleados, estão no hospital” – afirmou o chefe dos seguranças ao site de notícias de Cuiabá VG News, em reportagem da jornalista Edina Araújo. Quatro deles foram presos em flagrante por homicídio e tentativa de homicídio. Mas a Justiça liberou os acusados dois dias depois do crime.

Ainda em janeiro, o governo determinou a interrupção de todos os processos para compra e demarcação de terras para assentamentos.

Algumas semanas depois o secretário especial de Assuntos Fundiários, Luiz Antônio Nabhan Garcia, chamou as escolas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de “fabriquinhas de ditadores” e disse que o governo trabalharia para fechar as instituições, que atendem mais de 200 mil crianças e jovens.

Alvo de secretário ruralista, escolas do MST são referência em alfabetização no campo