Um passo além da renda mínima

imagemCaio Andrade *

Nesse momento de crise aguda e pandemia, o correto é exigir mesmo a intervenção dos governos, como muitos têm feito. Cada vez mais gente entende que o Estado deve garantir as condições para que as pessoas possam ficar em isolamento social sem perder seus salários, empregos e outros meios de sobrevivência.

A ideia de que primeiro devemos proteger vidas e depois se vê como recuperar a economia foi abraçada até mesmo por políticos e setores de direita, isolando o presidente genocida. O Congresso, o STF e até a Globo pressionam Bolsonaro para que este libere imediatamente o pagamento de 600 reais mensais aos trabalhadores informais pelos próximos 3 meses.

Portanto, sem descuidar da cobrança imediata ao governo, quem sabe seja a hora de começarmos a discutir os próximos passos. Antes mesmo do coronavírus, o discurso e as políticas de “austeridade” já vinham castigando o povo brasileiro. Depois de entoarem repetidamente o mantra de que “o Estado gastou muito e agora precisamos cortar gastos”, os liberais destruíram inúmeros direitos dos trabalhadores com suas contrarreformas.

Pois é. Imaginem como ficará então o discurso da responsabilidade fiscal depois que a pandemia passar. Não é difícil de prever: mal teremos enterrado os mortos e todos os liberais, independentemente de terem ou não defendido o isolamento para amenizar o impacto do Covid-19, estarão reunidos novamente para dizer que “temos todos que apertar ainda mais os cintos” e pagar a conta deixada pelo coronavírus.

Não podemos deixar isso acontecer. Passada a pandemia, temos que continuar exigindo que a vida seja colocada antes dos lucros. E não só para combater um vírus que, apesar de ser mais perigoso para quem não tem suas necessidades básicas atendidas no dia a dia, pode afetar pessoas de todas as classes sociais. Mas também, e sobretudo, para combater os problemas que já ceifavam inúmeras vidas antes da atual crise e, sem uma mudança radical da sociedade, continuarão matando gente para preservar privilégios do 1% mais rico: a fome, o desemprego, a violência, a falta de saneamento básico etc.

Assim como não é razoável exigir que as pessoas trabalhem e se exponham ao risco de contrair o Covid-19 porque os patrões não podem abrir mão de suas fortunas, não deve continuar parecendo natural que, em um país situado entre as dez maiores economias do mundo, metade da população sobreviva com menos de 400 reais por mês e grande parte das pessoas não tenha uma casa digna para morar.

À semelhança do dilema evidenciado pela doença do momento, nós vamos ter que escolher que Brasil queremos para os nossos filhos: um país que continue sacrificando o povo para manter o luxo de um punhado de bilionários ou uma nação determinada a sacrificar um punhado de bilionários para salvar as vidas de milhões de trabalhadores castigados diariamente pelo sistema capitalista. Talvez nunca como agora tenha ficado tão escancarada qual é a opção mais racional e ética.

* Professor da rede estadual do RJ, diretor do SEPE Caxias e dirigente nacional do PCB

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