Imperialismo e guerras híbridas

imagemAs guerras híbridas como estratégia do imperialismo na geopolítica global

Italo Marcio Macêdo Sampaio – militante do PCB

No atual contexto mundial, marcado pela multipolaridade, em que Rússia e China assumem um papel crescente de contraponto à hegemonia estadunidense e em que o imperialismo, após derrotas, excessivos gastos militares ou o não alcance de seus objetivos de total dominação, adota progressivamente uma combinação de novas táticas militares que passaram a ser denominadas guerras híbridas ou de quarta geração, devido ao seu caráter não linear, a sua imprevisibilidade e a utilização de atores desvinculados do Estado, como também o fato de disporem de dois meios táticos principais: as “revoluções coloridas” e as guerras não convencionais, que serão comentadas mais adiante.

Dos métodos tradicionais à guerra indireta: um breve histórico

Historicamente, os métodos de guerra utilizados pelos EUA constituíam-se de guerras diretas ou intervenções militares, a exemplo de Vietnã ou a Coreia Popular, em que sofreram derrotas e não atingiram seus propósitos, golpes, como ocorrido em boa parte da América Latina e as guerras não convencionais propriamente ditas, que já haviam sido experimentadas durante a Guerra Fria, como por exemplo, o financiamento e apoio bélico dado aos “contras”, grupo de extrema-direita contrário à Revolução Sandinista na Nicarágua, a UNITA, em Angola, ocorrendo o mesmo em países como Etiópia e Afeganistão.

Recentemente, os episódios de desestabilização no Oriente Médio e norte da África, que ficaram conhecidos por “Primavera Árabe”, combinados com o apoio a grupos jihadistas, assim como ao chamado Exército Livre Sírio, terroristas apoiados pelos Estados Unidos, desencadearam a guerra na Síria, com um misto de guerra indireta e intervenção aberta, antecedidos por uma série de acusações infundadas ao presidente Bashar Al Assad. Fato similar ocorreu na Líbia, que resultou na derrubada e assassinato de Muammar Gaddafi e à desintegração do Estado Líbio. Na Ucrânia, a “Revolução Laranja” depôs o presidente Viktor YanuKovych, dando margem à ascensão do fascismo no país.

As etapas de uma guerra híbrida

A montagem para tal cenário se dá inicialmente no campo da informação, característica peculiar das guerras de quarta geração, em que as redes sociais, em especial o facebook, é o seu principal veículo. Um indivíduo ou um pequeno grupo são responsáveis por exercer influência no pensamento das massas nas referidas redes, traçando o perfil psicológico de determinados usuários, para dessa maneira disseminar notícias, não importando a sua veracidade, de modo que sejam capazes de produzir mudanças no sentimento político da sociedade. Com isso, além do surgimento de movimentos manipulados ou financiados por ONGs, esse grupo de atores civis, sem vínculo com o Estado, após a formação de grupos de discussão e planejamento de suas atividades nas redes, se utilizando das mesmas também para contrainformações, organizam mobilizações, aparentemente espontâneas e de maneira irregular, causando desestabilização do Estado-alvo, momento este em que as “revoluções coloridas”, um suposto movimento de massas, porém controlado, objetivando gerar uma espécie de “caos programado”, se materializa. A depender da ação do Estado para repelir o movimento e se tal ação se torna exitosa, a situação poderá evoluir para uma guerra não convencional, em que parte desses mesmos agentes civis será treinada, formando grupos armados , que através de táticas de guerrilha, tentarão a derrubada do Estado-alvo.

As guerras do futuro e seus interesses geoestratégicos

As guerras híbridas têm se tornado a ferramenta mais comum do imperialismo na atualidade, carregando consigo o intuito dos Estados Unidos de total dominação, tendo a região da Eurásia como foco principal. Baseado nas teorias militares de Halford Mackinder, o controle da região conhecida como heartland, composta pelos países da Ásia Central e parte do sul do território russo, torna-se primordial para o acesso às suas ricas fontes de energia e recursos naturais, como petróleo e gás.

Consequentemente, seus objetivos consistem também em disputa de áreas de influência russa e chinesa em outras partes do planeta por interesses geoestratégicos. Dependendo da proximidade ou não dessas áreas de países como China, Rússia e Irã, a abordagem para uma intervenção pode mudar. Quanto mais próximo destes, a revolução colorida é preferível ao confronto direto. Quanto mais distante, as táticas podem ir desde a primeira a uma intervenção tradicional. A América Latina por exemplo, tornou-se alvo de diferentes tipos, desde as “guarimbas”, grupos violentos de oposição à Revolução Bolivariana, a golpes institucionais como no Brasil ou mesmo militares, como na Bolívia, que teve como consequência a derrubada do presidente Evo Morales. E tais países têm em comum, dentre outros, a já mencionada proximidade comercial com China e Rússia e recursos naturais como petróleo, no caso da Venezuela, que enfrenta uma série de duras sanções e ameaças de intervenção, a Bolívia e suas reservas de gás natural e o Brasil, que, além de outros fatores, com a descoberta do pré-sal também tornou-se alvo no atual momento vivenciado pelo país.

Logrando êxito em alguns países e fracassando em outros, as guerras híbridas ainda constituem um fenômeno relativamente novo, complexo e que traz desafios e atenção às nações-alvo.

Referências:

Guerras Híbridas, das Revoluções Coloridas aos Golpes – Andrew Korybko

Geopolítica e Política Exterior: Estados Unidos, Brasil e América do Sul – Moniz Bandeira

A Desordem Mundial – Moniz Bandeira