Democracia para quem?

imagemCharge: Mauro Iasi

Por Samara Marino*

A crise econômica já estava instaurada e foi agravada com a pandemia global do Coronavírus. Vimos, nos últimos 4 meses, países da Ásia e da Europa declararem o fechamento total dos meios de convívio social para que a COVID-19 não exterminasse sua principal mercadoria: a força de trabalho! Porém, tais medidas também foram tomadas porque, diferentemente das outras mercadorias, a força de trabalho não tem só um código de barras, tem voz, fome, força e surpreendentemente se mobiliza para sua própria sobrevivência, como vários exemplos que não foram noticiados pela mídia formal (trabalhadores italianos em greve para sua própria segurança, trabalhadores da saúde denunciando ao sindicato suas condições de trabalho, trabalhadores uberizados fazendo manifestações na segunda dia 20/04, em São Paulo).

Se as medidas de confinamento não tivessem sido tomadas o caos social já teria sido instaurado? Então, é fácil declarar que a política neoliberal chegou ao fim, mas não é bem assim. Vários países afirmaram, ao longo das últimas semanas, que irão investir o que for preciso para salvar as economias de uma grande catástrofe. Suas medidas concentram-se nos apoios aos bancos e grandes empresas, sob o pretexto do combate ao vírus destruidor. Isso significa que a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras será sacrificada em prol de manter lucros, principal objetivo de se manter o sistema capitalista, mesmo com algumas medidas para sua sobrevivência terem sido tomadas em todos os países.

No Brasil, isso não é diferente! As ações do Governo Bolsonaro estão muito mais relacionadas ao cuidado com bancos e grandes empresas. Basta lembrar que liberou cerca de R$ 1,2 trilhão, para este setor, muito maior que os 45 bilhões destinados aos trabalhadores desempregados ou subempregados. Como vimos, o neoliberalismo não morre por decreto ou necessidade objetiva de salvar vidas!

Os números crescentes de infectados e mortos pelo Coronavírus no país também apontam que a população mais pobre é quem está sofrendo mais. Sabemos que vários hospitais públicos em todo o país já chegaram ao limite de atendimento e que, por falta de vagas e de trabalhadores, também afastados pela doença, já não se consegue atender os pacientes.

Enquanto isso, Bolsonaro troca de ministro, não porque ele não está fazendo o que deve para seu governo, mas porque aparece mais que ele mesmo. Vai à manifestação a favor da Ditadura e declara que não vai negociar e acredita na força de seu grupo de apoio. Para nos dias seguintes declarar que todos temos problemas de interpretação de discurso e que o Rei Sol, quer dizer, a Constituição é ele. E acordamos hoje com o resultado de uma grande negociação com o centrão no Congresso Nacional para garantir mais retiradas de direitos de todos os trabalhadores.

É falso acreditar que a democracia burguesa está em perigo ou que o Governo Bolsonaro está isolado. Ele é representante de um grupo da burguesia que vem implementando ações neoliberais na economia, defendendo os donos do capital e demonstrando o quanto somos todos descartáveis. A fala de Bolsonaro de que serão infectados 70% da população e não se pode ter medo da verdade e de que não é coveiro, ao ser perguntado sobre o número de mortos, confirmam que os trabalhadores e trabalhadoras, principalmente os mais pobres, não são prioridade.

Antes da pandemia, o governo Bolsonaro cortou 158 mil beneficiários do Bolsa Família, aumentando em cerca de 78% a população de extrema pobreza. No Minha Casa, Minha Vida, a entrega de imóveis para a faixa mais pobre da população caiu 57%. Os desempregados somaram 11,6 milhões de pessoas no ano de 2019. Os trabalhadores informais são 38,4 milhões de pessoas. Ataca também os servidores públicos propondo a redução de direitos e salários. E, na contramão da história, reduz o número de bolsas de pós-graduação, enfraquecendo a pesquisa e a produção de ciência e tecnologia.

Acreditar que Bolsonaro e seu governo está preocupado com esta população é acreditar que a raposa está preocupada com a saúde da galinha.

As ações e discursos de Bolsonaro são um incentivo à mortandade. A proposta de “quarentena vertical” é um meio de promover o extermínio das camadas proletárias e dos setores mais pobres. Porém, com ações e discurso diferentes das políticas realizadas pelo próprio ministério, ele é responsável pelo aumento dos índices de mortandade no país.

Nesta última semana, basta identificar que, aqui em São Paulo por exemplo, com o avanço da doença, é longe do centro que estão os maiores números de óbitos suspeitos e confirmados da COVID-19. São em bairros como Brasilândia, Sapopemba, São Matheus e Cidade Tiradentes que se encontram ¼ dos casos identificados de mortos e também a maior quantidade de casos suspeitos que esperam mais de 10 dias os resultados de testes que ainda não foram finalizados.

Sabemos que a possibilidade de fazer o isolamento social na periferia é menor devido às condições de moradia e à necessidade de sobrevivência. Entre querer cumprir o isolamento e ter a objetividade de realizá-lo, nós trabalhadores não temos escolha. Com lockdown, sem lockdown, com isolamento horizontal ou vertical, se não nos organizarmos, seremos obrigados a morrer como moscas! A democracia liberal e burguesa não existe para nós!

A VIDA ACIMA DOS LUCROS!

PELO PODER POPULAR!

* Secretária de Formação do Comitê Regional de São Paulo

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