A interiorização da pandemia e a vida do(as) trabalhadores(as)

imagemA realidade de Foz do Iguaçu

Partido Comunista Brasileiro de Foz do Iguaçu

Nas últimas semanas acompanhamos uma intensificação da proliferação do Covid-19 pelo interior do Brasil, o que não foi diferente no estado do Paraná e em específico na cidade de Foz do Iguaçu, na qual nos debruçaremos em dados estatísticos do mundo do trabalho, para apontar as contradições da crise do capital aprofundada pela crise sanitária em curso e quais são as consequências para os(as) trabalhadores(as) da fronteira. Importante destacar de antemão que, nesta segunda semana de julho de 2020, Foz do Iguaçu atingiu seus maiores índices diários de infecção pelo Covid, bem como, está com lotação máxima dos seus leitos de UTI’s. Essa mesma realidade se estende para outras cidades da região oeste do Paraná, na qual muitas delas já não têm mais capacidade no Sistema de Saúde para atender a população local.

Foz do Iguaçu vive uma situação atípica desde que iniciou a pandemia, não só pelos aspectos mais comuns das demais cidades brasileiras como a interrupção de atividades não essenciais, mas por se tratar de uma região territorial específica fazendo fronteira com o Paraguai e Argentina e por depender fortemente do turismo internacional ao abrigar as Cataratas do Iguaçu. Neste processo de rompimento com a ‘normalidade’, foi necessário o fechamento das fronteiras com os dois países, impactando assim, na circulação de pessoas, bem como, na circulação promovida pelas trocas comerciais entre os três países, o que afeta diretamente os (as) trabalhadores (as) que tanto na formalidade, quanto na informalidade, já não podem mais cruzar as fronteiras.

Os impactos desta nova realidade se mostram nos indicadores do mundo do trabalho. A Terra das Cataratas, que conta com uma população de 250 mil habitantes, perdeu 5.591vagas de emprego nos meses de março, abril e maio, conforme dados oficiais do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), órgão do governo federal vinculado ao Ministério da Economia, atualmente gerido pelo banqueiro Paulo Guedes. Durante os três meses de inicial impacto da pandemia (março a maio), ocorreram 9.273 demissões e apenas 3.682 contratações, gerando esse assustador saldo negativo na cidade de Foz do Iguaçu. No ano, o saldo negativo é de 5.157 empregos.

O caos social fica mais evidente se compararmos as dez cidades mais populosas do Paraná. Foz do Iguaçu é a mais afetada no “estoque de empregos”. Existiam 60 mil pessoas com carteira assinada no começo do ano, mas com o saldo negativo acumulado, esse número caiu para 55 mil. Caminhamos para fecharmos o ano de 2020 com apenas 50 mil pessoas com carteira assinada, ou seja, seriam dez mil pessoas desempregadas em 12 meses.

Quem perdeu o emprego tem poucas perspectivas. Uma delas é disputar espaço na informalidade. Cerca de 120 mil pessoas compõem a população economicamente ativa iguaçuense – destas, 55 mil têm carteira assinada e 65 mil pessoas estão na informalidade. Outra chance que se coloca ao trabalhador (a) desempregado(a) é se transformar em um microempreendedor individual, num universo de 10,5 mil MEIs já existentes na cidade. Em ambos os casos, são raros aqueles que conseguem uma renda suficiente para pagar as despesas básicas mensais como alimentação, moradia, educação e ainda se resguardar com um saldo equivalente ao 13º, férias e benefícios da seguridade social.

Essas estatísticas apontam as consequências de um sistema predatório que coloca os lucros acima da vida, atingindo especialmente os(as) trabalhadores(as) que produzem a riqueza do país, e escancara também o descaso dos governos federais, estaduais e municipais que não trabalham em prol da população que mais necessita, mas sim, a favor dos bancos e dos grandes capitalistas. O descaso dos governos com políticas efetivas para o combate ao coronavírus não só ceifa milhares de vida todos os dias no país, mas especialmente dificulta o possível retorno da ‘normalidade’.

Essa realidade é facilmente compreendida por nós comunistas quando nos deparamos com as consequências da crise para a maioria da população iguaçuense. Temos acompanhado as reivindicações dos (as) trabalhadores (as) dos consórcios privados que atendem o transporte público de Foz do Iguaçu que, no dia 30 de junho, paralisaram suas atividades denunciando as demissões em massa, a falta de segurança no trabalho e os atrasos salariais. Estamos atentos (as) à precarização e desumanização profunda do trabalho remoto imposto aos professores (as) da rede estadual e também da educação privada da cidade. Ao mesmo tempo, ao organizarmos a Brigada Solidária Carolina Maria de Jesus, nos deparamos com a realidade de inúmeras famílias de trabalhadores (as) que não conseguiram receber o auxílio emergencial e não tem o que pôr na mesa para os filhos e filhas.

Diante desta realidade tão dura para o conjunto da classe trabalhadora da nossa cidade, O PCB de Foz de Iguaçu, juntamente com seus coletivos CFCAM, UJC e Unidade Classista – sem nutrir ilusões com as contradições da política local que se inserem nos marcos da ordem burguesa-, tem se dedicado a construir frentes políticas pela luta antifascista e antirracista, ao mesmo tempo, compôs a Brigada Solidária Carolina Maria de Jesus com intuito de ajudar um conjunto de 130 famílias do Bairro Cidade Nova, mas acima de tudo, está comprometido com a necessária construção de uma nova sociedade, uma nova normalidade, na qual somente o Poder Popular se coloca como alternativa.

Foz do Iguaçu, 10 de julho de 2020.

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