Fortuna dos bilionários cresce na pandemia

imagemValor equivale ao total dos gastos do governo federal com o auxílio emergencial até julho

Leonardo Godim para O Poder Popular

A fortuna de 42 bilionários brasileiros aumentou US$ 34 bilhões entre 18 de março e 12 de julho deste ano. De US$ 123 bilhões, a soma das fortunas passou para US$ 157 bi desde o início do isolamento social no país. Estes são os números coletados pela revista Forbes e divulgados pela Oxfam Internacional em seu relatório “Quem paga a conta”, lançado este mês. O relatório também afirma que oito novos bilionários surgiram na América Latina, um a cada duas semanas desde o início do isolamento.

O crescimento da fortuna dos bilionários acompanha o que alguns economistas entendem como a maior crise da história do país. Segundo o IBGE, 10,3 milhões de brasileiros estão afastados do trabalho por conta do COVID-19, e 29,5 milhões de pessoas ocupadas tiveram redução nos seus rendimentos. Os graves efeitos da crise na vida dos trabalhadores brasileiros saltam aos olhos. O auxílio emergencial de R$ 600 aprovado pelo Congresso Nacional hoje é distribuído para cerca de 53,9 milhões de brasileiros. Diversos estudos, como o relatório do Ibre FGV, atribuem para o auxílio emergencial o efeito de contenção dos piores efeitos da crise.

No segundo semestre, os números relativos ao produto interno bruto surpreenderam as previsões mais pessimistas, mas ainda indicam uma queda muito grande no setor de serviços e na taxa de emprego, indicando que o fim do auxílio será um momento crítico para a economia brasileira.

É neste contexto que vem à tona o debate da reforma tributária. Qualquer trabalhador que vive a atual crise e que observa os dados acima enunciados se questionará sobre o quanto da crise tem pesado sobre seus ombros e o quanto (não) tem pesado sobre os poucos bilionários brasileiros. Mas não é essa a preocupação dos atuais redatores do projeto de reforma tributária. Liderada por Paulo Guedes e pelo deputado federal Aguinaldo Ribeiro, o projeto se limita à unificação do imposto sobre consumo e a reinauguração de uma CPMF, antiga tributação brasileira sobre transações financeiras.

Em poucas palavras, a reforma tributária proposta pelo governo e pelo Congresso Nacional se volta exclusivamente para os impostos sobre consumo e transações, que têm grande efeito sobre a classe trabalhadora. Enquanto isso, os 42 bilionários brasileiros, que aumentaram suas fortunas de US$ 123 bilhões para US$ 157 bilhões, não pagam nenhum tributo sobre suas gigantescas fortunas.

É difícil compreender a dimensão de um bilhão de dólares. Entendamos assim: em 4 meses, este punhado de homens enriqueceu o equivalente a mais do que todos os gastos do governo federal com o auxílio emergencial até agora. Até 14 de junho, o governo federal havia gasto R$ 95,52 bilhões na distribuição do auxílio emergencial. A previsão de gastos totais para três parcelas é de R$ 152,6 bilhões. Em taxa de câmbio de hoje (30/07), o valor acumulado por estes bilionários em suas fortunas é de R$175 bilhões.

Esta realidade, como indica o relatório da Oxfam Internacional, é comum à América Latina e expõe as graves desigualdades de nosso subcontinente. O Brasil concentra, neste contexto regional, a maior parte dos bilionários que lucram enormemente com a crise e está, ao mesmo tempo, entre os mais carentes de políticas fiscais que taxem as grandes fortunas para financiamento de políticas de saúde, emprego e educação.

Enquanto esta realidade persistir, os argumentos sobre a crise fiscal continuarão a ser a mais pura demagogia. Demagogia essa que une bolsonaristas e Rede Globo num objetivo comum: escamotear a existência destes bilionários e suas fortunas intocáveis e defender um ajuste fiscal – cuja maior expressão é o teto de gastos – que desmantelam as poucas políticas sociais, como saúde e educação, que o Brasil possui.
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