O paraíso dos magnatas

imagemOs cinco maiores bilionários dos EUA enriqueceram em 2020, durante a pandemia, enquanto a maioria da população empobreceu. Na foto, Jeff Bezos, Elon Musk, Bill Gates, Mark Zuckerberg e Warren Buffet. Créditos / The Times of India

José Goulão

ABRIL ABRIL

A fortuna conjunta dos 12 indivíduos mais ricos dos Estados Unidos atingiu pela primeira vez um trilhão de dólares em pleno período de pandemia. O mal de todos é o bem de uns poucos.

Meio milhar de indivíduos celebram os tempos em que vivemos, enquanto a democracia vai ficando suspensa com sintomas de irreversibilidade, as grandes massas, ansiosas, disputam o acesso a vacinas produzidas com métodos de manipulação genética jamais experimentados em seres humanos e as economias nacionais se afundam.

Para a generalidade dos habitantes do planeta, a COVID-19 é um martírio, uma barreira de medos e incertezas que bloqueia quaisquer horizontes; para os mais ricos entre os mais ricos é uma bênção, uma oportunidade para irem buscar muitos e novos milhões às fontes habituais e a algumas outras que se abrem – nos campos da ciência e da saúde.

O Institute of Policy Studies dos Estados Unidos diz-nos que as fortunas combinadas dos 647 indivíduos mais ricos do país cresceram quase um milhão de milhões de dólares (um bilhão) entre Março e Novembro deste ano, isto é, desde que se iniciaram confinamentos, lockdowns, estados de emergência, prisões domiciliárias, rastreios eletrônicos dos cidadãos, isolamentos compulsórios, medidas ditas indispensáveis – assim nos garantem sem direito a contestação – para combater o SARS-CoV-2.

Não se conhecem, pelo menos com acesso tão fácil, estatísticas sobre os reforços das fortunas das elites de outras regiões planetárias, designadamente do espaço da União Europeia, mas não será difícil supor que a situação norte-americana se repita. Porque fenômenos como estes não têm fronteiras num mundo assim «globalizado».

Um bilhão de dólares é um número cuja dimensão a generalidade das pessoas não alcança, mesmo explicando que se trata do algarismo 1 seguido por doze zeros. Talvez seja mais esclarecedor juntar-lhe a informação de que a soma de cinco anos do PIB de Portugal caiu nas mãos de apenas 647 pessoas nos primeiros oito meses de pandemia; ou que desde o início da pandemia a fortuna de cada um desses honrados cidadãos passou a crescer a uma velocidade de 280 mil dólares por hora.

Há coisas assim neste mundo. Desce sobre os quase oito bilhões de habitantes do planeta uma pandemia prevista antecipadamente em iniciativas promovidas por entidades ligadas às elites que manipulam os dirigentes mundiais e eis que, por exemplo, as fortunas dos 12 mais destacados super-ricos crescem 40% no curto espaço de tempo entre Março e Agosto deste ano.

Relação de causa e efeito? É melhor não arriscar seguir por esse caminho de investigação porque logo qualquer censor do Google ou do Facebook, qualquer amestrado fact-checker sentenciará que é «fake news» ou «teoria da conspiração». São os novos e brandos caminhos inquisitoriais. Entretanto a cimeira do neoliberalismo conhecida como Fórum Econômico Mundial prepara-se para fazer de 2021 o ano de institucionalização do «novo normal» criado pela COVID-19.

Como poderá explicar-se que chova dinheiro nas contas de uma ínfima minoria enquanto, nos Estados Unidos, as estatísticas revelam que metade dos pequenos negócios deverão fechar portas e os pedidos de assistência no desemprego já atingiram os 70 milhões? Talvez da mesma maneira que as grandes bolsas, sobretudo a de Nova York, têm registado fabulosos picos de abundância enquanto a economia em redor se desmorona. A riqueza gerada pelos mecanismos do neoliberalismo como estado supremo do capitalismo assenta cada vez mais em especulação e em capitais virtuais do que em bens físicos e palpáveis. Por isso, os frutos do trabalho representam uma parte cada vez menor da riqueza em circulação.

Bazucadas
Todos estamos familiarizados com os lancinantes pedidos de apoio dos Estados lançados pelos poderes corporativos, invocando as incidências da pandemia sobre a economia. De problema permanente e inimigo jurado, o Estado passou a ser a solução, desde que se torne vertiginosa a constante transferência de riqueza dos bolsos dos contribuintes comuns para os cofres dos grandes impérios econômicos financeiros.

Foi assim nos Estados Unidos, onde, através da Reserva Federal, Trump fez chover dinheiro para as grandes corporações, logo transformado em instrumento de especulação e em nova vertigem de acumulação de riqueza.

Percebemos assim como realmente funcionam as apregoadas e celebradas «bazucas» que dizem ser os impulsos necessários para a «estabilização» da economia e a manutenção de postos de trabalho, designadamente na União Europeia. Não passam de uma aceleração da transferência de capital do setor público para o privado e que certamente desembocará – como já o admitem as previsões – em mais austeridade, desemprego e degradação social no mundo neoliberal. Situações que, manipuladas a preceito com a conhecida maestria propagandística do sistema, serão transformadas em alavancas de medidas de cerceamento de direitos e liberdades, pilares autênticos da institucionalização do «novo normal».

Na verdade, a autêntica «bazucada» que chegou de Bruxelas por estes dias foi a que tem por objetivo abater a TAP e os seus trabalhadores, transformando a companhia de bandeira nacional num bracinho das Lufthansas deste mundo, entidades que mandam, de fato, na União Europeia. Viram por aí a soberania nacional? Será ela também um dano colateral da pandemia?

Especulação + vacina
O presente e o futuro das desigualdades geradas pela maneira como foi abordado o combate à COVID-19 em escala global podem ser observados à luz de realidades que não figuram na comunicação mainstream, designadamente o brutal enriquecimento dos mais ricos.

Nos cinco primeiros meses de pandemia, Elon Musk, o dono da Tesla e considerado um dos indivíduos mais ricos do mundo, conseguiu triplicar a sua fortuna. Os haveres de Mark Zuckerberg, do Facebook, cresceram 70%; os de Bill Gates galgaram para os 114 bilhões de dólares e deverão atingir picos ainda mais fabulosos quando se fizerem as contas ao seu envolvimento nas vacinas contra a COVID-19, especialmente as da Moderna Inc. e a da Pfizer/BioN Tech, ambas produzidas por tecnologia de «edição do genoma» nunca antes experimentada em seres humanos e cujo comportamento «continua imprevisível», segundo um trabalho científico revisto revelado em Outubro na publicação especializada Trends in Genetic. Uma chamada de atenção: o que atrás ficou escrito constitui uma ofensa à operação montada pelos serviços secretos do Reino Unido para impedir a divulgação de informações alertando para as incógnitas existentes em relação ao processo de mRNA (RNA mensageiro) utilizado nas vacinas que vão ser ministradas nos Estados Unidos e na Europa.

Entretanto, a fortuna do dono da Amazon, Jeff Bezos, cresceu 62% com a pandemia, para 186 bilhões de dólares: segundo a revista Business Inside, o bilionário do comércio electrónico enriquece a um ritmo de nove milhões de dólares por hora.

Enquanto isso, mais de 20 mil trabalhadores da Amazon, com sede em Atlanta, foram infectados com COVID-19 devido às desadequadas condições em que exercem on seu labor – e os que protestam contra tal fato são sumariamente despedidos. Ganhando cerca de 15 dólares por hora, um trabalhador da Amazon necessitaria de estar em atividade 24 horas por dia durante 68 anos para amealhar o que o seu patrão junta numa hora – que até pode ser de sono.

A fortuna conjunta dos 12 indivíduos mais ricos dos Estados Unidos atingiu pela primeira vez um bilhão de dólares em pleno período de pandemia. A situação proporciona uma versão extrema de velhos aforismos: o mal de todos é o bem de uns poucos. É o estado do mundo sob o domínio do capitalismo neoliberal de braço dado com a pandemia covidiana.

José Goulão, exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril