Que saiam os patrões e fique o trabalho!

imagemNota política do Partido Comunista Brasileiro – Bahia, sobre o fechamento da Ford

Na última segunda-feira (11) fomos surpreendidos com a notícia do encerramento das atividades da Ford em Camaçari (Região Metropolitana de Salvador). Sabemos que a política neoliberal de desmonte das indústrias em território nacional não é novidade e já está em plena marcha há pelo menos três décadas. No entanto, salta aos olhos a inépcia do poder público em estabelecer qualquer tipo de pressão ou enfrentamento ao fechamento unilateral das atividades da Ford em nosso estado.

A Ford iniciou suas atividades no polo industrial de Camaçari em 2001, após intensa “guerra fiscal” entre a Bahia – sob a direção do então senador baiano Antônio Carlos Magalhães (ACM) – e o Rio Grande do Sul, e completaria 20 anos de atividade no estado neste ano. A política fiscal em favor dos exploradores, gerou ao longo de 20 anos mais de 20 bilhões de reais em desonerações e isenções fiscais, incluindo desde impostos sobre importação, até desonerações de imposto de renda. Quantia que contrasta com o investimento feito pela Ford para se instalar na Bahia cerca de 1,2 bilhões de dólares (em torno de 2,3 bilhões de reais com a cotação da época).

A lógica da exploração capitalista já nos é conhecida, sob esta égide as empresas transformam as fronteiras em meros espaços para retirada de valor. Transformando nosso povo trabalhador em números que devem contribuir incessantemente com os dividendos do empresariado. A estimativa é que a Ford empregava diretamente 12 mil pessoas (entre funcionários da Ford e sistemistas) e mais 60 mil empregos indiretos. A saída da Ford de Camaçari, somada ainda a seu fechamento em Taubaté (SP) e Horizonte (CE) representa um duro ataque à nossa população trabalhadora, mas também à soberania nacional brasileira, que ofertou por décadas condições favoráveis à transnacional estadunidense, que ora anuncia sua saída sem quaisquer contrapartidas.

A saída da Ford do Brasil se insere na lógica neoliberal de maximização da exploração da força de trabalho, destruição de direitos trabalhistas, redução dos custos e encargos das empresas e elevação das taxas de lucro. De modo que os territórios se tornam apenas apêndices ou suportes para a realização de maiores taxas de exploração. As dificuldades políticas e jurídicas brasileiras,a falta de uma estrutura logística adequada e o “encarecimento da mão de obra” são apontados pela Ford como motivos da sua saída do país. No entanto, diferente do que foi alegado a política de contrarreformas ampliou drasticamente a desregulamentação no mundo do trabalho brasileiro, reduzindo direitos, achatando o salário mínimo. O que mostra um total descompromisso do capital internacional com nossa economia dependente.

A ausência de políticas integradas entre produção, pesquisa e desenvolvimento no Brasil reduz ainda mais a capacidade de manutenção da indústria local. A política de desoneração e destruição de direitos trabalhistas se mostra portanto completamente incapaz de atender aos interesses da classe trabalhadora brasileira e baiana. De modo que a vemos como reforço de uma base econômica financista e agroexportadora. O resultado é a destruição de postos de trabalho em um estado já conhecido pelas altas taxas de desemprego.

Que saiam os patrões e que fique o trabalho

O poder público em nosso estado se vê completamente incapaz de defender os interesses da classe trabalhadora, tendo assistido atônito ao anúncio de saída da Ford. Sua única ação foi fazer uma consulta ao consulado chinês, sobre a possibilidade de algum interesse futuro das indústrias chinesas virem se instalar em Camaçari. Tal medida não contempla de maneira alguma os interesses de nossa classe, que deve ter assegurada seus postos de trabalho, bem como todo investimento do poder público para que as instalações da Ford se mantivessem atuantes ao longo das últimas décadas. A manutenção das fábricas em atividade e de toda a rede de postos de trabalho sob auto-organização da classe deve ser nossa bandeira imediata.

A resposta da classe trabalhadora deve ser ao mesmo tempo orientar a sua organização em termos políticos, mas também em termos de sua atividade econômica. A auto-organização dos trabalhadores a partir de seus próprios instrumentos de luta deve pautar urgentemente a tomada dos pólos industriais. Empresas como a Ford usufruíram por décadas não apenas das já mencionadas isenções, mas também da exploração da força de trabalho de nossa classe, aproveitando ainda de logística e instalações cedidas e redução de encargos de água e energia elétrica. Em resumo: décadas de espólio de nosso povo e nossas riquezas.

A saída da Ford deve ter como resposta imediata uma política de ocupação consequente das fábricas. Que saiam as empresas transnacionais e que fiquem as plantas industriais. A auto-organização da classe trabalhadora baiana deve avançar no sentido de tomar o controle da produção, pautar meios de associação entre produção, pesquisa e desenvolvimento, estabelecendo uma nova lógica produtiva em associação com as instituições públicas e organizações políticas.

Nosso horizonte político imediato deve estar cada vez mais preparado para a ação política e econômica direta, com a tomada de postos de trabalho hoje em risco e criação de tantos outros. A nossa alternativa de classe constitui na retomada da produção sob base nacional e a pressão para o financiamento público ao desenvolvimento e à pesquisa tecnológica. Tais tarefas fazem parte do estabelecimento do Poder Popular e da pavimentação do caminho revolucionário.

Comitê Regional do Partido Comunista Brasileiro – Bahia

Pela ocupação imediata das Plantas Industriais pelos trabalhadores e trabalhadoras organizadas, pelo Poder Popular.