A cultura das armas e as armas da cultura

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57 % da venda de armamentos no mundo é controlada por empresas dos EUA

Autor: Fernando Buen Abad | internet@granma.cu

Um “senso comum”, produzido à ponta das baionetas, ensinou-nos a adiar (senão a renunciar) o nosso direito de saber por que é que se gasta em armas a enorme quantia que se exerce em nível planetário … sem consulta nem prestação de contas! Longa história. É uma espécie de “valor compreendido” pelo qual assumimos que é “necessário” e “bom” submeter-nos ao mercado mundial de mercadorias de guerra fabricadas pela indústria de guerra transnacional. E sem dúvida. “Gastos militares mundiais crescem 2,6%: é uma nova corrida armamentista”.

É normal ignorarmos as “hipóteses de guerra” que justificam a aquisição de ofertas de guerra. O que nos ameaça, desde quando, como e onde … quantos são “inimigos” percebidos pelo establishment, como são definidos e como são detectados? Quem define onde comprar, com que lógica de “defesa” ou “ataque” e que emboscadas táticas e estratégicas nos tornam reféns dos “produtos” de guerra do mercado? Dão-nos garantia, dão-nos descontos, têm “ofertas sazonais”, como são anunciadas?

Ou o negócio consiste em que paguemos sem pedir o plano de obsolescência que os monopólios de armas querem de acordo com suas crises de superprodução também? Não merecemos nós saber em que se gasta o dinheiro dos trabalhadores, sobretudo quando os arsenais adquiridos não estão isentos do perigo real de serem utilizados contra os povos que os pagam? “De acordo com os dados mais recentes do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (Sipri), os gastos militares mundiais aumentaram 2, 6% em relação a 2017 para chegar a 1,8 trilhão de dólares, 87 bilhões a mais que no ano anterior. Hoje, é 76% maior do que o nível mais baixo registrado após a Guerra Fria em 1998”.

É um banquete mercantil pelo qual passam imensas fortunas, dirigidas majoritariamente aos negócios de: 1. Lockheed Martin (Estados Unidos), com vendas em 2016 de 47.248 milhões de dólares; 2. Boeing (Estados Unidos), com vendas de 29,5 bilhões (Divisão de Defesa, Espaço e Segurança); 3. bae Systems (Reino Unido), com vendas de 25,6 bilhões; 4. Raytheon (Estados Unidos), com vendas de 24.069 milhões; 5. Northrop Grumman (Estados Unidos), com vendas de 24,508 milhões… eles são os líderes mundiais no negócio da morte.

Não é preciso muita imaginação para entender o tecido empresarial de uma agitação financeira, onde os proprietários compartilham negócios com o setor bancário global e monopólios da mídia transnacional. Os três maiores negócios “legais” do planeta. E não é preciso muita retórica para deixar claro que, além de “dividendos” suculentos, esses negócios promovem morte, desolação e humilhações planetárias. “Indústria Global de Armas: As empresas dos Estados Unidos dominam a lista dos 100 top”.

Sob o pretexto legalizado do “segredo de estado”, compradores e vendedores constituem uma congregação de enormes gastos e mortes às custas dos povos e contra os povos. Não poucas dessas compras e vendas são produtos de extorsões muito diversas com as quais uma cultura de guerra é inoculada, meticulosamente, a torto e a direito. Filmes, séries de televisão, livros, jogos cibernéticos para meninos e meninas, canções, mitos e fetiches em massa inundam a imaginação coletiva para reproduzir os princípios macabros de uma lógica de armamentos transformada em entretenimento; enquanto o mundo está banhado em sangue de inocentes. “57% das vendas de armas no mundo são controladas por empresas estadunidenses”.

Presos como estamos na lógica da violência colonialista, os poderes opressores nos fazem aceitar que precisamos de armas, exércitos, polícia e todo tipo de forças de espionagem e repressão. Eles nos obrigam a aceitar, mansamente, que algo ou alguém está sempre nos ameaçando e que devemos adquirir todas as novidades sazonais que os “gênios” da morte fabricam incessantemente. Vendem-nos armas e vendem-nos treino, vendem-nos “conselheiros” e vendem-nos a ideologia necessária para nos mantermos fiéis ao seu mercado. E nos vendem, mesmo a crédito, a caducidade de sua parafernália para nos afogar na lógica da “atualização”, que eles programaram, para destruir os orçamentos nacionais e os seres humanos. E também nos vendem a ideia de que pagamos em dia e somos (nós) “pacifistas”.

Do outro lado da história estão os povos que souberam submeter o uso das armas aos seus projetos emancipatórios. Todas as lutas pela independência têm referências fundamentais que conseguiram (e conseguem) levantar-se em armas para livrar-se do jugo da dominação imperial. Hoje as grandes revoluções pacíficas, encurraladas por ameaças de guerra burguesas, só encontram uma saída recorrendo às suas populares forças armadas. E esta é a chave. Não é a mesma coisa armar bandos de profissionais assalariados para disparar contra os povos e ter os povos armados para se emancipar de todos os canalhas opressores … ou seja lá como se chamem.

Em Cuba, na nossa educação e na nossa cultura, as armas também desempenham um papel crítico aos sistemas econômicos e políticos, elas estão nos hinos e estão nos heróis. Existem avenidas, ruas e bairros que homenageiam as lutas sociais armadas, temos música, pintura, escultura e poética das lutas contra os opressores. Não são poucos os monumentos e estátuas que se referem a ferramentas ou heróis com que o povo armado derrotou, militar e culturalmente, o opressor (antigo ou novo) que ergueu as suas traiçoeiras armas contra o proletariado que, aliás, os financiou. A luta entre opressores e oprimidos, a luta de classes, dá às armas um significado radicalmente oposto. É uma contradição em que a consciência da liberdade e a certeza da emancipação são necessárias para um mundo diferente, em paz, sem classes sociais, sem mestres e sem armas. Humanista.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Fonte:
http://www.granma.cu/desde-la-izquierda/2021-01-10/cultura-de-las-armas-y-armas-de-la-cultura-10-01-2021-23-01-38

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