A POLÍTICA DA ADMINISTRAÇÃO OBAMA AMEAÇA A HUMANIDADE

Os media ocidentais dedicam atenção mínima a iniciativas que se integram na expansão planetária do militarismo estadounidense. Mas esse silêncio não impede que ela seja uma realidade.

O AFRICOM

A recente visita a países africanos do general William Garnett – é um exemplo – passou praticamente despercebida. Acontece que esse chefe militar foi dinamizar o AFRICOM, sigla que designa o comando do exército permanente dos EUA a ser instalado na África. A missão do general Garnett consistiu precisamente em contactos de alto nível com o objectivo de encontrar uma sede para esse exército, cuja criação foi aprovada há anos.

Sabe-se que até à data somente dois países, a Libéria e Marrocos mostraram disponibilidade para receber o AFRICOM. O general esbarrou, entretanto, com uma recusa frontal da Comunidade de Desenvolvimento da África do Sul, SADC, organização que reúne 15 países do Sul do Continente, incluindo Angola e Moçambique.

Dois são os objectivos do AFRICOM. Segundo a Casa Branca, o principal seria o combate ao terrorismo e o fortalecimento dos «regimes democráticos» da Região. O outro seria incentivar as relações económicas dos EUA com a África.

Na realidade esse exército foi concebido como força de intervenção para apoiar governos aliados do Continente na sua luta contra movimentos progressistas. Paralelamente, a presença militar dos EUA criaria condições muito favoráveis ao controlo do petróleo e dos enormes recursos mineiros africanos.

Enquanto não se decide qual o país sede do AFRICOM, o Pentágono mantém forças nas Seychelles e em Djibuti (antiga Somália Francesa). Foi a partir daí que aviões não tripulados (os famosos drone) bombardearam a Somália. O general William Ward, do AFRICOM, afirmou recentemente que a Somália é hoje um «objectivo central do exército dos EUA no Continente».

Simultaneamente a NATO amplia a sua presença no Índico.

IEMEN

A implementação da nova estratégia dos EUA para o Índico e o Corno de África foi acompanhada no início de Janeiro de uma intensa ofensiva mediática.

O fracassado atentado terrorista de um nigeriano contra o avião da Norwest Airlines que se dirigia a Detroit funcionou como alavanca de uma campanha que através de supostas ligações desse jovem catapultou o Iémen para as manchetes da comunicação social. De um dia para o outro aquele esquecido pais do Sudeste da Península Arábica passou a ser apontado como o foco principal da Al Qaeda e uma ameaça à segurança dos EUA.

Uma massa torrencial de informações falsas foi difundida pelo planeta numa repetição do que acontecera em 2004 nas vésperas da agressão ao Iraque quando Washington forjou o mito das “armas de extinção maciça” como pretexto para a invasão.

O general Petraeus, comandante supremo dos EUA para o Médio Oriente e a Ásia Central, visitou Sana, onde foi prometer ao presidente do Iémen, Ali Abdullah Saleh, um aliado, um grande aumento da «ajuda» norte-americana que no ano passado já ascendera a 67 milhões de dólares.

O presidente Obama, em Washington, falou do «perigo iemenita» e o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, apressou-se a alinhar com a Casa Branca e a 3 de Janeiro afirmou em entrevista à BBC: «temos que fazer algo mais» no Iémen e na Somália.

Quase simultaneamente, o assessor de Obama para a segurança nacional e o antiterrorismo, John Brennan, foi mais longe: «convertemos o Iémen -informou – numa prioridade para este ano».

A agressão militar precedeu, entretanto, essas declarações oficiais.

Nem Obama, nem Petraeus, nem Brennan esclareceram que a força aérea dos EUA bombardeou intensamente o território iemenita em Dezembro com mísseis Cruzeiro e aviões não tripulados em operações coordenadas com o exército da Arábia Saudita.

Num bem documentado artigo, divulgado por Global Research, Rick Rozoff revela pormenores dessas acções militares e das iniciativas politicas que acompanham a escalada imperialista no Iémen.

O encerramento, seguido da imediata reabertura, das embaixadas dos EUA, do Reino Unido e na França, foi uma farsa montada com o objectivo de impressionar norte-americanos e europeus e neutralizar eventuais reacções de protesto contra a abertura de uma nova frente de guerra no Iémen.

Os guerrilheiros das tribos houthis, chiitas, que combatem o Governo de Saleh no Norte, são apresentadas por Washington como perigosos terroristas da Al Qaeda. O mesmo acontece com as forças do Partido Socialista do Iémen que, no Sul, lutam pela autonomia que lhes é negada.

Segundo porta vozes dos houthy, a Arábia Saudita disparou em Dezembro mais de mil mísseis contra os seus acampamentos numa guerra não declarada. O número de vítimas civis dos bombardeamentos norte-americanos na área seria muito elevado.

«A pretexto de proteger o território dos EUA desta vaga e ubíqua entidade (a Al Qaeda) – escreve Rick Rozoff – o Pentágono está envolvido em operações militares que vão do ocidente africano ao leste da Ásia contra grupos de esquerda e outros, não vinculados a Obama Ben Laden, na Colômbia, nas Filipinas, e no Iémen, milícias chiitas no Líbano e no Iémen, rebeldes étnicos no Mali e no Níger, e uma rebelião cristã extremista no Uganda.» A instalação de sete bases militares norte-americano na Colômbia insere-se nessa escalada militarista global. Também na América Latina a estratégia da actual Administração dos EUA é mais agressiva e desrespeitadora da soberania dos povos do que a dos governos anteriores (ver odiario.info, 7 de Janeiro de 2010).

A transformação de uma iniciativa de suposta «ajuda humanitária » ao Haiti, devastado por um terramoto apocalíptico, numa operação militar, através do envio de uma força de mais de 15000 soldados que ocuparam o país , impondo discricionariamente a vontade de Washington – é mais uma demonstração da perigosa estratégia imperial da Administração Obama.

O discurso farisaico do Presidente dos EUA funciona, porém, como um anestésico das consciências, dificultando muito a percepção da ameaça que representa para a humanidade a politica orientada para a dominação da humanidade pelo sistema de poder imperial.

O discurso de fachada progressista mantêm-se, mas é negado a cada semana pelos actos. As medidas anunciadas na área financeira para punir abusos dos banqueiros de Wall Street e a corrupção dos senhores da finança são, concretamente, um exemplo da hipocrisia do discurso presidencial. Desde que tomou posse, a politica financeira de Obama tem sido orientada não para a solidariedade com a vítima da crise – o povo dos EUA – mas para a salvação dos responsáveis, os banqueiros e as grandes empresas à beira da falência.

Tendo perdido a hegemonia económica exercida na segunda metade do século XX, o sistema de poder estadounidense tenta, através da escalada militarista e do saque dos recursos dos povos do antigo Terceiro Mundo, prolongar a dominação do capitalismo à escala universal, superando pela violência a crise estrutural que o afecta e o empurra para o desaparecimento.

Nesse contexto, a politica externa da Administração Obama configura para a humanidade a mais perigosa ameaça por ela enfrentada desde o III Reich alemão.

Uma derrota inevitável será o desfecho do desafio imperialista. Mas vai tardar.

Para lutar vitoriosamente contra essa ameaça é imprescindível que dezenas de milhões de mulheres e homens progressistas tomem na Terra consciência dessa realidade.

Vila Nova de Gaia, 20 de Janeiro de 2010