Pandemia e luta de classes na Educação

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A VIDA VALE MAIS QUE O LUCRO DO PATRÃO

Chico Filho*

Temos acompanhado com indignação, mas não com muita surpresa, o caos na rede privada de ensino em Teresina. Em menos de um mês 04 professores morreram de COVID-19 em nossa cidade. Mas como chegamos até aqui? No dia 22 de fevereiro de 2021, o governador Wellington Dias (PT) assinou um decreto sobre um novo lockdown, limitando assim o funcionamento presencial de atividades não essenciais. Estávamos seguindo rumo ao colapso que estamos hoje, no dia 23 de março, com casos que somam 177.307, distribuídos em todos os municípios piauienses e óbitos que chegam a 3.425, registrados em 212 municípios.

Também no dia 22 de fevereiro de 2021, pais e mães de estudantes, além dos donos de escolas, protestaram contra a suspensão das atividades da rede privada na capital. O argumento seria o de que, com os devidos protocolos, a infecção seria contornada e não haveria nenhuma justificativa que indicasse que os riscos de infecção seriam maiores que os riscos que as crianças corriam em sua formação com a perda de semanas ou meses de aula.

A pressão funcionou, e as escolas voltaram a funcionar em regime híbrido, ou seja, com algumas atividades presenciais em sala de aula. Será que não temos motivos para nos preocupar? Bom, as quatro mortes do último mês em Teresina já seriam o suficiente, mas trago mais dados. Na última reunião realizada entre o Ministério Público do Trabalho (MPT), Sindicato dos Professores das Escolas Particulares (Sinpro) e o Sindicato das Escolas Particulares do Piauí (SIMEPI), o Comitê de Operações Especiais (COE) do Estado apresentou que, em 416 escolas particulares piauienses com aulas presenciais, 263 professores e trabalhadores da educação e 96 alunos foram infectados por Covid-19, sendo que 133 docentes e discentes testaram positivo na última semana, de acordo com os dados de 18 de março. A partir disso, segundo o SINPRO, em uma semana os casos foram de 20 para 96, um aumento de 76 novos casos em professores e trabalhadores da educação.

A maioria dos pais hoje não consegue lidar com a presença dos filhos dentro de casa. Por sinal, é válido lembrar que, durante a escalada bolsonarista, uma parte significativa da classe média alta fazia apologia do chamado homeschooling, ou seja, o ensino doméstico. Isso com a justificativa de que as escolas e os professores no Brasil tinham um ensino “doutrinador” e que seus filhos mereciam o melhor como indivíduos, e essa história de cidadania, viver em sociedade seria besteira socialista. Como o mundo gira, o curioso é que hoje essa parcela da população se agita pedindo a volta das atividades presenciais, ou seja, perceberam que realmente não tiveram formação humana e não sabem lidar com os próprios filhos, portanto precisam de um “depósito” onde possam colocá-los.

E os donos das escolas? Por onde andam os gestores? Em Teresina estão nos mesmos lugares, seguindo interesses privados, pensando no lucro acima da vida. É assim que funciona a lógica capitalista. Inclusive essa busca por desempenho e lucro já proporcionava o adoecimento de estudantes teresinenses em escolas particulares muito antes da pandemia. Tudo isso em nome dos melhores espaços nos outdoors dos classificados.

Esses mesmos gestores afirmam que as instituições cumprem todos os protocolos sanitários. Inclusive em notas de solidariedade afirmam sentir muito, mas que são seus docentes que não se cuidam o suficiente em casa. Ora, por exemplo, como um professor de Filosofia que tem carga horária baixíssima poderia ser abraçado por esse protocolo? Sua baixa carga horária faz com que professores assim tenham que trabalhar em 4 ou 5 escolas para garantir o mínimo para suas famílias. Se não tomarmos outro rumo, o luto que temos visto nos últimos dias será maior, e a morte de professores será constante.

Na última terça-feira (23), o Sindicato dos Professores e Auxiliares da Educação do Piauí (Sinpro) informou que as aulas presenciais em escolas privadas do estado ficarão suspensas até o dia 4 de abril. Mas isso será o suficiente? Até lá estaremos vacinados? Estaremos amparados? Como se dará esse retorno?

Devemos, portanto, ao invés de pedir o retorno das atividades presenciais, pedir o aceleramento da campanha de vacinação para a população que no Piauí em janeiro chegou a apenas cerca de 1% da população. Devemos nos organizar para que professores e trabalhadores da educação sejam incluídos como grupo prioritário na imunização. Devemos sobretudo lutar para que o trabalhador da educação não seja visto como uma peça substituível e que os alunos não sejam apenas números. Para isso é preciso construir uma Escola Popular, no processo de construção também do Poder Popular no rumo do Socialismo!

*Professor de Filosofia
Coordenador do Coletivo Perifala
Militante do Coletivo Negro Minervino de Oliveira e do PCB do Piauí