Para salvar vidas: construir a Greve Geral!

imagemGustavo Pedro *

No passado recente, é difícil encontrar um momento tão complicado para as trabalhadoras e os trabalhadores como o qual estamos enfrentando nos últimos anos. Enquanto isso, do outro lado da trincheira na luta de classes, a burguesia segue acelerando seu projeto de explorar e massacrar o povo trabalhador do país, ou seja, aproveitam a conjuntura de crise, o desespero com o desemprego e a morte para “passar a boiada”, como podemos relembrar na fala do ministro da destruição do meio ambiente, Ricardo Salles, do governo Bolsonaro/Mourão.

Em pleno contexto de crise sanitária, econômica e social, os grandes bancos privados do país – já atendidos no primeiro mês de pandemia pelo Banco Central com a liberação de uma quantia de 1,2 trilhão de reais para garantir sua liquidez [1], mas que na verdade serviram para garantir perspectivas de lucro elevadíssimas enquanto restringiam crédito e aumentavam juros a pessoas físicas e pequenas empresas [2] – lucraram em 2020 na casa da dezena de bilhões enquanto trabalhadores eram demitidos e agências fechadas. O Itaú, por exemplo, obteve um lucro de R$ 18,5 bilhões; o Bradesco faturou R$ 16,5 bilhões; e o Santander, com R$ 13,4 bilhões [3]. Isso mesmo que você leu! Bilhões com B de Bolsonaro.

O agronegócio, por sua vez, terminou o mesmo ano de 2020, de grave crise para os trabalhadores, com lucros bilionários e variação positiva em relação ao ano anterior, graças ao fato de direcionar o grosso de sua produção para exportação em um contexto de alta do dólar. A consequência foi o desabastecimento do mercado interno, resultando em um processo crítico de subida nos preços dos alimentos para a classe trabalhadora. Isso ao passo em que o governo Bolsonaro/Mourão praticamente zerou os estoques públicos de alimentos da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), como arroz, feijão, soja, milho e café [4] [5], que permitiriam a um governo minimamente comprometido com as condições de vida da maioria da população segurar os preços dos alimentos por meio de aumento da oferta dos mesmos em território nacional.

Outros gigantes do setor industrial, como no caso ultrajante da indústria das armas para a qual são direcionadas constantes medidas provisórias que facilitam seus negócios [6], e do comércio varejista, apesar da crise e aproveitando-se diretamente dela, também acumulam benefícios do governo e demitem trabalhadores para garantir seus lucros enquanto absorvem os concorrentes menores.

Em favor desses setores o governo Bolsonaro/Mourão, com a política econômica liberal genocida aprofundada por Paulo Guedes, avança na derrubada de direitos e do poder de compra do salário dos trabalhadores [7] – fazendo avançar a miséria, a insegurança alimentar e a fome, que atingem milhões de brasileiros [8] –, bem como numa política entreguista de destruição e tentativa de privatização de estatais com o objetivo de rifar o patrimônio do povo brasileiro ao grande capital associado ao imperialismo. A recusa da compra de vacinas [9] e o boicote ao isolamento social com garantia de empregos não foram os únicos elementos de política genocida. Eles se somam ao massacre cotidiano operado diretamente ou legitimado pelas forças de segurança do Estado, há décadas denunciado pelos movimentos sociais, como o genocídio de povos originários, com o avanço do latifúndio e do agronegócio sobre suas terras, e do povo negro e pobre nas periferias e favelas do nosso país.

Uma conjuntura como essa exige da classe trabalhadora e de seus instrumentos de luta a mais rigorosa organização para conseguir contra-atacar. Somos obrigados, dia após dia, a enfrentar novas aglomerações nos ônibus, trens e metrôs do país para tentarmos garantir nosso direito a uma vida digna e ao sustento que nos é negado, enquanto os números da Covid-19 aproximam-se da marca 100 mil casos diários e o número de mortes diárias já ultrapassou a barreira dos 3 mil [10]. Nossas condições de existência estão sendo sabotadas de forma deliberada!

Existem comprovações fartas de que a política adotada por países socialistas como China, Cuba e Vietnã salvam vidas e permitem a retomada de atividades econômicas com segurança aos trabalhadores [11] [12] [13]. Falamos aqui da garantia de condições materiais para que os trabalhadores em setores não essenciais possam se manter em isolamento social, com uma renda digna garantida pelo auxílio emergencial e manutenção de seus empregos, além de uma implementação de lockdown (fechamento de serviços não-essenciais) imediato com testagem e acompanhamento massivos dos casos para frear a subida de transmissões e de mortes em decorrência da doença. Acontece que no capitalismo nossas vidas, tratadas como meras estatísticas, devem sustentar as taxas de lucro da burguesia.

O fortalecimento de nossos instrumentos de luta em um momento desses passa pela disseminação da pauta da greve geral para salvar vidas e de nossa organização como classe para garantir a sobrevivência e a segurança dos trabalhadores, enquanto os profissionais de saúde atuam para salvar as vidas daqueles que se encontram nas filas de um sistema de saúde que atinge 100% de ocupação em várias cidades do país, já estando em colapso com filas de espera de pelo menos 1.500 pessoas aguardando a disponibilização de um leito de UTI para internação em todo o Brasil [14]. Nessa semana já superamos a casa dos 12 milhões de casos confirmados e dos 300 mil mortos [15] em decorrência da pandemia que assola o nosso povo.

Não é por acaso que chegamos nesse mês ao quarto ministro da Saúde indicado pelo governo Bolsonaro/Mourão em um ano. O novo ministro da vez, Marcelo Queiroga, entra para seguir tocando a política de morte, sabotando as condições de isolamento, enquanto o governo insiste na tese infundada da existência de um “tratamento precoce” sem qualquer comprovação de eficácia de medicamentos como a hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, dentre outros embustes desse governo criminoso [16]. Já nos vemos diante da possibilidade de esgotamento, dentro de 20 dias, do estoque nacional de uma série de remédios que possibilitam a realização dos procedimentos de intubação dos pacientes mais graves da covid-19 [17]. Se isso acontecer, teríamos em escala ampliada o cenário no qual a cidade de Manaus, durante o mês de janeiro, viu seus estoques de oxigênio reduzidos a um nível crítico, levando a necessidade de transferência de pacientes para outros Estados. Essa medida, infelizmente, não foi suficiente para conter as cenas de desespero de familiares e profissionais de saúde nas portas dos hospitais abarrotados com a demanda crescente de leitos e suprimento de oxigênio [18] em decorrência do crescimento acelerado das infecções na cidade com a nova variante do vírus que agora se espalha pelo país.

Enquanto acena com o negacionismo científico de um lado, Bolsonaro coloca em um curso uma série de processos utilizando a Lei de Segurança Nacional, promulgada pela ditadura empresarial-militar, e o aparelhamento da polícia federal para tentar intimidar seus críticos [19], desde artistas que fizeram posts em redes sociais a militantes de partidos políticos que estenderam faixas chamando esse governo pelo que de fato é: genocida. Temos que dar um basta nessa situação imediatamente! Não podemos aceitar os intentos golpistas dos fascistas. É questão de vida ou morte para nossa classe!

Preparar uma greve geral massiva será a nossa melhor arma para colocar a burguesia e esse governo assassino na defensiva! Para isso deveremos apostar na construção de comitês de luta pela vacina nos territórios, pautando o fortalecimento do Plano Nacional de Imunização (PNI) com a garantia de vacinação para todos pelo SUS, e levantar a pauta da quebra de suas patentes, pois nem a classe trabalhadora brasileira nem os trabalhadores de outros países da periferia do sistema devem ficar reféns das grandes corporações que destinam suas vacinas aos países ricos enquanto os países pobres vão para o final da fila!

Devemos conectar as lutas específicas dos sindicatos, como as lutas em defesa dos empregos e da manutenção dos salários sem reduções, com as lutas pela derrubada do teto de gastos, que permitirá a expansão do orçamento destinado à saúde pública e a compra e aplicação das vacinas de forma célere, para garantir a retomada de atividades não essenciais com a maior segurança aos trabalhadores. Deveremos demonstrar que é uma necessidade própria do capital colocar os lucros acima da vida da população trabalhadora e que por isso o horizonte de nossa luta deve ser anticapitalista, visando a construção do Poder Popular no rumo do Socialismo!

Parar a produção é a melhor ferramenta de disputa dos rumos da conjuntura e da construção de vitórias concretas para a classe que tudo produz, a classe trabalhadora! Dessa forma conseguiremos assumir o comando da pressão sobre um Congresso composto em sua maioria por inimigos do povo e enfraquecer os genocidas que nos governam, visando a derrubada desse governo assassino para que seja garantido nosso direito à vida e de sobrevivência digna!

A organização de uma grande greve geral pela vida, com o fomento da organização popular e o fortalecimento de nossos instrumentos de luta será nossa maior arma para garantir a vacinação e testagem em massa, a ampliação dos investimentos públicos em um SUS 100% estatal, a manutenção e ampliação dos empregos, com a criação de frentes de trabalho urbanas e rurais, garantia da renda emergencial aos trabalhadores e nossa defesa contra a fome e a miséria.

Devemos reafirmar cada vez mais que, na luta pelo poder, não temos outra arma senão a organização! Somente a luta organizada da classe trabalhadora poderá construir um futuro pautado na esperança, no poder popular e na melhoria concreta das condições de vida da nossa classe, conquistadas a partir do fortalecimento dos nossos instrumentos de luta. Vamos criar o poder popular e construir um futuro socialista!

Fontes:

[1] https://www.gov.br/pt-br/noticias/financas-impostos-e-gestao-publica/2020/03/banco-central-anuncia-conjunto-de-medidas-que-liberam-r-1-2-trilhao-para-a-economia

[2] https://pcb.org.br/portal2/26891/o-banco-central-e-o-capital-financeiro/

[3] https://www.infomoney.com.br/mercados/lucros-dos-grandes-bancos-somam-r-616-bi-em-2020-na-maior-queda-em-21-anos-dividendos-encolhem-48/

[4] https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/09/19/estoques-publicos-conab-alimentos-reducao.htm

[5] https://pcb.org.br/portal2/26277/o-agro-e-pop-antipopular-a-alta-do-preco-do-arroz-no-pais-da-soja/

[6] https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/09/15/com-novas-regras-venda-de-armas-em-2020-ja-supera-a-de-todo-o-ano-passado.ghtml

[7] https://brasil.elpais.com/brasil/2021-01-13/toda-semana-os-produtos-ficam-mais-caros-e-corto-a-lista-viver-com-o-pior-salario-minimo-em-15-anos.html?fbclid=IwAR1C-XbkKtmFjP29uKOt9pEIDWKibW8–qMmsnzGH93Bq-kVAtZv44RlQVU

[8] https://pcb.org.br/portal2/26306/lancado-o-manifesto-popular-contra-a-fome/

[9] https://www.brasildefato.com.br/2021/03/08/oposicao-cobra-explicacoes-de-governo-sobre-recusa-de-70-milhoes-de-doses-de-vacina

[10] https://cultura.uol.com.br/noticias/17743_brasil-registra-mais-de-3-mil-mortes-por-covid-19-em-24h.html

[11] https://pcb.org.br/portal2/25257/coronavirus-socialismo-x-capitalismo/

[12] https://pcb.org.br/portal2/25472/vietna-exito-no-combate-ao-covid-19/

[13] https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/03/19/covid-19-fim-da-transmissao-local-na-chi-anima-casos-importados-preocupam.htm

[14] https://oglobo.globo.com/podcast/o-que-viver-de-perto-colapso-do-sistema-de-saude-24914132

[15] https://www.redebrasilatual.com.br/saude-e-ciencia/2021/03/pior-semana-brasil-triste-contagem-regressiva-300-mil-mortes/

[16] https://www.brasildefato.com.br/2021/03/16/na-contramao-da-ciencia-novo-ministro-aceita-tratamento-precoce-contra-covid-19

[17] https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/03/18/anvisa-debate-iminente-falta-de-medicamentos-para-intubacao.ghtml

[18] https://pcb.org.br/portal2/26727/basta-de-genocidio-oxigenio-para-manaus/

[19] https://www.dw.com/pt-br/lei-de-seguran%C3%A7a-nacional-vira-meio-para-constranger-opositores-do-governo/a-56934688

* Gustavo Pedro é cientista político e militante do PCB e da UJC no Rio de Janeiro