Resistência e luta popular na Colômbia

imagemColômbia: Cali é a cidade da resistência e luta contra a prepotência policial
A greve geral continua e o povo está nas ruas

Resumen Latinoamericano

As ruas estão ocupadas. Cali, a mítica cidade da salsa, mudou a música para os discursos e gritos que ecoam em suas ruas e avenidas. Desde quarta-feira, 28 de abril, as manifestações em diversos pontos desta cidade não cessaram de exigir ao Governo Nacional, liderado por Iván Duque, a retirada do projeto de Reforma Tributária que pretende impor.

Vive-se o genocídio contra as lideranças sociais; o ecocídio nos territórios indígenas; a emergência nacional por femicídios e abusos da força pública. Ao mesmo tempo, aumentam as desigualdades, a pobreza e a fome do povo colombiano. Contra essa reforma que agrava a crise econômica e social alimentada pela pandemia, o país saiu às ruas. E Cali assumiu a liderança.

Embora a mobilização social na Colômbia tenha sido uma constante na história recente do país, os acontecimentos do ano passado fizeram crescer significativamente a manifestação política e social do povo.

O dia da Greve Nacional foi anunciado semanas antes. Movimentos sindicais e operários, indígenas, camponeses, estudantes, mulheres, LGBTIs e a população civil em geral tiveram um compromisso em diferentes cidades e municípios do país para gritar “NÃO À REFORMA TRIBUTÁRIA”, como principal bandeira de luta.

A paralisação nacional teve início às 4h do dia 28 de abril. Os bloqueios começaram no setor Sameco. Eles seguiram por Univalle, Menga, Paso del Comercio, Juanchito, Siloé, Plaza de las Banderas e Puerto Llanera. O povo começou as manifestações, ações e marchas que seriam os protagonistas do dia. Populares cobriram as ruas com cartazes, comícios, música e arte que clamavam por não mais abusos; não mais políticas de morte, guerra e fome; não mais moradores de rua; não mais carestia, impostos e assassinatos.

A REPRESSÃO URIBISTA JÁ CAUSOU 8 MORTES

A repressão não esperou. Os primeiros confrontos começaram na Universidade del Valle às 10 da manhã. Os manifestantes se defenderam do gás lacrimogêneo, das bombas de atordoamento, balas de borracha e até pedras com as quais foram atacados pelo Esquadrão Móvel Antidistúrbios – Esmad – da Polícia Nacional. Aos poucos, toda a força policial (cerca de 2.500 homens, segundo declarações do ministro da Defesa) passou a atacar as manifestações, em sua maioria pacíficas e silenciosas. A presença de idosos e / ou crianças não importou. Os ataques, espancamentos e abusos não foram poucos.

Não era nem meio-dia e a cidade convulsionou. As chamas tomaram conta de bancos, grandes redes de lojas e dos ônibus. O prefeito da cidade, Jorge Iván Ospina, e toda a prefeitura decretaram um toque de recolher na cidade a partir de uma da tarde, tentando forçar o esvaziamento das ruas e desrespeitando o direito constitucional de protesto e manifestação. As ruas não se calaram nem se esvaziaram. Os estudantes – apesar da forte repressão, das prisões arbitrárias e dos mais de 14 feridos registrados no local – não recuaram. A greve continua independentemente da chegada dos militares e das forças policiais especiais.

Porto Rellena é Porto Resistência

Na madrugada de quinta-feira, 29, na capital do Valle, o povo teve mais raiva, indignação e coragem ao saber das quatro mortes provocadas pelas ações desmedidas da Polícia Nacional. Um grande número de pessoas reuniu-se em setores como Sameco, Siloé e Puerto Rellena. Puerto Rellena (um bairro popular no sul de Cali que se configurou como um local de organização comunitária, resistência e grande mobilização social) foi o epicentro da demonstração na quinta-feira à tarde, 29 de abril. A comunidade já estava nas ruas e por volta do meio-dia caminhoneiros e transportadores aderiram ao protesto pacífico, porém, havia pouca tranquilidade. Por volta das 13h30, os agentes da Esmad invadiram a mobilização. Eles rasgaram e queimaram uma faixa gigante que tinha sido pintada com as palavras: “Por nossos mortos, porra.” Eles intimidaram tanto as pessoas que os manifestantes levantaram as mãos em símbolo de paz e para pedir o fim dos atos violentos.
As intimidações e o assédio da Polícia não impediram as manifestações. A Esmad e o tanque que estavam no local recuaram e isso conseguiu acalmar o local por alguns minutos. No entanto, minutos depois, o Esmad investiu novamente contra o povo. Mas desta vez houve uma resposta. Um confronto de quase uma hora começou em Puerto Rellena e voltou a transformar o bairro em um campo de batalha. Encurralado e já sem munições, o Esmad retirou-se e o povo festejou pensando que havia conquistado uma vitória contra a brutalidade do esquadrão da morte, como tem sido chamado.

Dez minutos depois, militares uniformizados da Polícia Nacional abriram fogo contra a população. Sem medir qualquer tipo de consequência, eles atiraram descontroladamente. As pessoas correram para se proteger em meio às balas. Um oficial do Gabinete do Prefeito de Cali, um defensor dos direitos humanos, começou a gravar com seu telefone os rostos e números de identificação dos homens uniformizados que apontavam e ameaçavam com armas de fogo. Os policiais ficaram alarmados com a gravação e acertaram o funcionário a porretadas.

Houve um tiroteio. Pessoas caíram no chão. A força pública capturou os jovens que estavam no local. Eles foram espancados no chão. Os Grupos Especiais de Segurança Operacional – GOES – e o Exército Nacional chegaram ao local como se fosse um campo de guerra.

Hoje Puerto Rellena é conhecido como Puerto Resistencia. Cali entendeu tudo. Suas ruas estão cheias de dignidade e, sem medo, são a primeira linha nessa luta contra a Reforma Tributária, contra a fumigação de glifosato, contra a militarização, contra o narco-estado, contra a violência, contra a morte. Exigem o respeito pela vida que suas comunidades e seu povo merecem. Como toda a Colômbia merece.

A greve continua. Foi informado que pelo menos 40 pessoas foram presas e levadas ao Coliseu Las Américas, como uma imagem aterrorizante dos ditadores de meados do século XX no Cone Sul. O ministro da Defesa, Diego Molano, anunciou o envio de mais de 1.800 policiais, 700 militares do Exército e 500 uniformizados da Esmad para “garantir” a mobilidade na cidade. Mas Cali segue sem medo. E, com raiva nos olhos, seus habitantes mandam uma mensagem ao país: devemos parar e lutar até que a vida seja digna.

Pelo menos 8 mortos e dezenas de feridos em Cali, pela repressão policial aos protestos

Organizações de Direitos Humanos colombianos denunciaram que pelo menos oito pessoas faleceram como resultado da repressão policial na cidade de Cali, durante o terceiro dia de protestos contra a reforma tributária impulsionada pelo presidente Ivan Duque. Segundo a Rede de Direitos Humanos Francisco Isaias Cifuentes, além das oito pessoas mortas, a ação policial deixou um saldo de 84 detidos, 28 feridos e três manifestantes desaparecidos.

Também se informou que, entre os feridos, há três pessoas com perda de olhos e um caso de abuso sexual por parte de agentes da polícia.

Apesar do balanço de mortes apresentado pelo organismo de Direitos Humanos, as comunidades reportaram ao menos 14 mortes pela repressão em vários bairros da cidade colombiana.

A Rede de Direitos Humanos Francisco Isaias Cifuentes assinalou que das oito mortes confirmadas, as primeiras vítimas foram dois menores de idade registradas no dia 28 de abril.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Fonte: https://www.resumenlatinoamericano.org/2021/04/30/colombia-cali-es-ciudad-de-resistencia-y-lucha-contra-la-prepotencia-policial-el-paro-continua-y-el-pueblo-esta-en-las-calles/