A trajetória de lutas do camarada Neres

imagemPublicada a 2ª edição do livro “NERES! DA LUTA CONTRA A DITADURA À RECONSTRUÇÃO DO PCB”

Acaba de ser publicada a segunda edição do livro Neres: da luta contra a ditadura à reconstrução do PCB, organizado pela historiadora Paloma Silva e pelo historiador Pablo Lima, pesquisadores do Instituto Caio Prado Jr. em Minas Gerais, em parceria com a editora Raízes da América, de São Paulo.

O livro é resultado de dez anos de pesquisas sobre a história de vida do comunista José Francisco Neres, 86 anos, militante da célula da Velha Guarda do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em Belo Horizonte. Filho da classe trabalhadora e da população negra, em sua juventude e início da vida adulta Neres foi jogador de futebol, tecelão e liderança sindical. Filiou-se ao PCB em 1961 e foi eleito vereador em Sabará em 1962, onde exerceu seu mandato em defesa dos interesses da classe trabalhadora.

Aí veio o Golpe Militar de 1964. Neres teve seu mandato cassado, perdeu o emprego e foi preso por 11 dias. Continuou a militância no contexto tenebroso da Ditadura Militar, Terrorista e Assassina (1964-1989) que se abateu sobre o país. Em 1976, no auge da repressão, Neres foi sequestrado e preso novamente, desta vez por 2 anos, 10 meses e 8 dias, sendo submetido a diversos tipos de tortura. Foi alvo da Operação Bandeirantes, um mecanismo de repressão ilegal, porém institucionalizado, dentro do Estado brasileiro. Na prisão, Neres e outros militantes também organizaram a resistência, realizando greves de fome e conseguindo passar, para os veículos de comunicação mais progressistas, as condições desumanas às quais estavam submetidos. Em 1979, Neres foi o último preso político libertado em Minas Gerais no contexto da Anistia.

Na década de 1980, Neres retomou a militância, organizando o jornal União Sindical e reconstruindo o PCB. Após a crise no sistema socialista soviético (1989-1991) e o racha no Partidão (1992), Neres manteve-se firme no PCB, que conquistou seu registro eleitoral definitivo em 1996. Desde este período, Neres tem uma intensa militância no movimento de ex-perseguidos e anistiados políticos do movimento sindical em Minas Gerais.

A primeira edição do livro saiu em novembro de 2019, com apenas 100 exemplares. Todos foram vendidos e muito bem recebidos pelo público. Em 2020, José Francisco Neres financiou, com seus próprios recursos, uma segunda edição de 400 exemplares, revista e ampliada, que acaba de ser publicada em abril de 2021. O livro conta com dois capítulos autobiográficos escritos por Neres, um prefácio de Ivan Pinheiro, e outros capítulos de Fábio Bezerra, Fernando Gautereto Lamas, Igor Dias Domingues de Souza, Milene Lopes Costa, Pablo Lima, Paloma Silva e Túlio César Dias Lopes, cobrindo a história de Neres como jogador de futebol, sindicalista e militante comunista nas últimas seis décadas de história do Brasil. A diagramação é assinada pelo artista gráfico e designer Julião Villas, com revisão de língua portuguesa pela professora Andrea Lima. A produção editorial foi feita por Gabriel Landi, em São Paulo. O PCB agradece a todas e todos que construíram esta obra e convida o público a conhecer a história do movimento sindical e comunista em Minas Gerais por meio da trajetória e militância política de José Francisco Neres.

O livro está à venda por R$ 36,00. Interessados devem enviar mensagem de whatsapp ou sms para (31)99298-2916 para combinar a forma de pagamento e informar o endereço para postagem ou outra forma de entrega.

Leia alguns trechos da obra:

Neres foi de quase tudo um pouco: jogador de futebol, operário, parlamentar, músico, eletricista, jornalista de fato. Mas, antes de tudo, sempre um comunista. Habilidoso, gentil e carismático nas relações pessoais, o camarada atuava entre o proletariado e no ambiente sindical como um peixe dentro d’água. Preso político durante três anos, foi o último mineiro a sair dos cárceres da ditadura, em março de 1979, reintegrando-se imediatamente à militância. (Ivan Pinheiro)

As trajetórias da militância são fundamentais não apenas para se conhecer o movimento da atuação concreta na realidade, mas também para se construir as mudanças do estado de coisas na sociedade brasileira. Nesse sentido, o exemplo de vida e militância de José Francisco Neres leva à reflexão sobre os percalços e avanços das lutas sindicais e populares em Minas Gerais e no Brasil. (Pablo Lima e Paloma Silva)

No capítulo Porque sou Comunista, José Francisco Neres registra sua trajetória de vida pessoal e os movimentos que o levaram à consciência de sua condição de filho da classe trabalhadora, como jogador de futebol, militante sindical e sua entrada para o PCB em agosto de 1961. (…) Em O Golpe de 1964 e Luta Contra a Ditadura Militar, o próprio Neres relata o cotidiano de perseguição e repressão (…). Em Fatos e situações: a perseguição do SNI contra Neres durante a Ditadura Militar, Terrorista e Assassina (1964-1989), Pablo Lima analisa a Certidão 6280 fornecida pela Agência Brasileira de Inteligência a Neres em 2003, que contém os registros sobre ele nos arquivos deste órgão fundado na Ditadura como Serviço Nacional de Informações (SNI). Uma leitura crítica do documento permite constatar a permanência do aparato de repressão, monitoramento e perseguição de comunistas após a Anistia, em 1979, durante a década de 80 e mesmo após a Constituição de 1988, evidência da continuidade das estruturas fascistas e ditatoriais no Estado brasileiro. (…) Em Memórias de um sindicalista, Milene Lopes Costa narra a trajetória político-ideológica de José Francisco Neres, sindicalista e preso político durante a ditadura militar-civil brasileira. (…) Em A relação entre futebol e sindicalismo em Minas Gerais nas décadas de 1950 e 1960, Fernando Gaudereto Lamas foca especificamente o início da trajetória sindical de Neres. Analisa a íntima relação que havia entre lazer e sindicalismo, abordando nomeadamente a relação entre a prática do futebol e o sindicalismo (…). Em Neres e o VI Congresso do PCB: organizar as massas contra a ditadura pela base, Igor Dias Domingues de Souza, examina a atuação do PCB nas Organizações de Base durante os anos de 1964 a 1968 (…). Em Neres e os valores e convicções da moral comunista, Fábio Bezerra narra episódios vividos com José Francisco Neres que marcaram sua militância e também são significativos para o PCB nesses últimos anos. O último capítulo, de Túlio Lopes, intitulado Neres: persistente e sempre presente na luta!, é dedicado à militância de Neres durante as últimas décadas no campo dos direitos humanos e da luta pela verdade e justiça em relação aos crimes cometidos pela Ditadura Militar e pelo Estado brasileiro contra cidadãos, por motivos políticos. (Pablo Lima e Paloma Silva)