Educação, pandemia e mundo do trabalho

imagemOs profissionais da educação, a era digital, a pandemia e o mundo do trabalho

Por Daiana Aguiar, professora, militante do PCB e do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro

O que vimos com a pandemia foi o arrocho da exploração da classe trabalhadora. Com ela, tivemos que nos adaptar de maneira a tornar o uso das mídias digitais mais diversos e abrangentes. Mas este uso excessivo fez com que o trabalho fosse tão presente e constante em nossas vidas, que um dos grandes desafios para este trabalhador conectado 24 horas fosse justamente o oposto: se desconectar e ter tempo para desenvolver suas tarefas de cunho pessoal e ter tempo para o ócio criativo. E com a classe dos professores isso não podia ser diferente.

Quando falamos de trabalho, não podemos esquecer o quanto o mesmo está relacionado ao sistema socioeconômico vigente, no caso atual: o capitalismo. Para que uma sociedade de classes funcione, é necessário que esta exploração aconteça e em demandas e níveis elevados. Para isso contamos, também, com aparelhos ideológicos burgueses e o Estado garantindo que o sistema se reproduza, mesmo que seja necessário precarizar profundamente o trabalho e esgotar com vidas humanas através de um genocídio.

Desde o início da pandemia, professores e professoras estão a cada dia aprendendo e se adaptando ao uso dessas novas mídias digitais para remodelar suas metodologias educacionais, a fim de manter o aluno, mesmo que a distância, próximo da vontade de aprender e produzir conhecimento. Vale ressaltar que diversas vezes estes profissionais utilizam do seu próprio salário para comprar equipamentos eletrônicos que os ajudem a melhorar suas aulas. De maneira geral, toda a responsabilidade de fazer o trabalho educacional acontecer está na mão do professor, numa cartada final para que seja realizada a uberização do ensino ou a precarização do trabalho docente.

Precisamos fazer aqui um recorte de gênero, falando das professoras, mulheres, mães, filhas, avós. Elas representam 80% dos profissionais da educação básica do país, uma profissão que culturalmente é entendida como algo relacionado ao cuidado que nossa sociedade não afirma, mas para o capitalismo não passa de trabalho não remunerado.

Se, de um lado, a tecnologia entrou em várias esferas das nossas vidas, é vendida como um produto que tem como objetivo facilitar e otimizar o nosso tempo, do outro ainda existe algo que explora as mulheres em níveis altos e faz com que elas realizem o trabalho que mantém a capacidade de os demais trabalhadores reproduzirem o capital e, mesmo com a era digital, não as tem deixado: o trabalho doméstico. Não deixando de lembrar que isto as acompanha desde a divisão sexual do trabalho, antes mesmo do surgimento da sociedade capitalista.

As professoras tiveram a carga horária triplicada durante esse período que estamos vivenciando: trabalhar, cuidar da casa, da prole, de idosos, pessoas doentes, gerenciar o lar e a vida dos que vivem com ela. Escutei vários relatos de colegas professoras contando sobre se sentirem ansiosas e cansadas com a quantidade de tarefas que tinham para fazer durante o dia, tendo que conviver com a escola dentro de suas casas, sem horário para início ou fim da atividade do trabalho remunerado. Vi colegas assistindo às reuniões de planejamento com os seus bebês no colo, com seus filhos brincando próximos a elas, sendo por elas alimentados, dobrando roupas, lavando louças… era algo comum de se ver. Isso, somando-se ao sentimento de luto constante, contribuiu para um adoecimento mental desses profissionais, em larga escala.

Os professores e as professoras se mantêm trabalhando firmemente durante a pandemia, mesmo com seus direitos atacados no acirramento do capital — algo vivenciado por toda a classe trabalhadora, como a reforma da previdência e outros desmontes que a sociedade vem enfrentando.

Não podemos permitir que vidas sejam colocadas abaixo do lucro, uma vida humana não pode ser menos importante que o desenvolvimento tecnológico. Precisamos fazer o levante popular e reivindicar o direito ao pão, saúde, educação, sonhos … o direito à vida digna! Como disse Karl Marx no Manifesto do Partido Comunista: “Os trabalhadores não têm nada a perder em uma revolução comunista, a não ser suas correntes”.

Lutar, criar, poder popular!

Feminismo classista, futuro socialista!

Ver no Medium.com