OPINIÃO: O fôlego ameaçado!

imagemImagem: PCB – RS

H. Suricato

Camaradas e companheiros de luta.

Este 7 de setembro de 2021 não será mais um ato simples de rua, não será mais um ato similar aos que vêm sendo tocados pela campanha Fora Bolsonaro desde 29 de Maio e não será mais apenas uma bravata bolsonarista de flerte aberto com uma iniciativa golpista.

Nesta manifestação de 7/9 estará em jogo o futuro das vanguardas da classe trabalhadora. Estará em jogo qual movimento político organizado terá mais força e ousadia para impor as suas reivindicações. E é por isso, e somente por isso que a ação enérgica, convicta e disciplinada de nossas organizações mais do que nunca se faz necessário. Para isso, desde de imediato devemos convocar os populares que se opõem ao presidente a estar nas ruas, não se limitando apenas à mera agitação das redes sociais, mas com ações diárias e intensas de ruas, panfletagens, intervenções urbanas típicas de marketing de guerrilha e um intenso trabalho de convencimento dos apoiadores passivos de nossa luta a estarem nas ruas no Dia da Independência. Neste maior momento, o apoio passivo dos antibolsonaristas, presos em suas casas é pior para nós que o apoio passivo de bolsonaristas ou da massa “apolítica” ao presidente, seja o que vier a acontecer. A inércia favorece o nosso inimigo e isso precisa estar bem claro na cabeça de cada militante e de cada lutador que esteja empregando suas forças para a construção destes atos.

Bolsonaro retorna sua ofensiva com maior acúmulo de forças. Conseguiu uma importante vitória política ao vencer a narrativa do voto impresso, apesar de sua derrota no Congresso, tendo já assegurado para ele uma carta final caso chegue em 2022 como presidente e em caso de derrota, ter a retórica da fraude das eleições para usar em sua mobilização golpista. Mas conseguiu, nesse mesmo dia, passar inúmeros ataques contra a classe trabalhadora, com projetos que acentuam ainda mais a miséria geral de nossa classe, sob a caprichosa ação de sua base parlamentar aliada ao ministro da economia, o declarado inimigo dos trabalhadores Paulo Guedes.

Contribuem para ele retomar a coesão de sua base, mesmo dos mais passivos, a ofensiva do STF contra seus aliados e as investigações sobre a corrupção de seus filhos e a estrutura de mobilização de sua base, que emprega os mais baixos métodos de conspirações sem lastro nenhum na realidade e com mentiras das mais grosseiras e estúpidas, mas o suficiente para manter fiel sua base e conseguir o engajamento de personalidades em seu entorno, com capacidade de atrair para a ação ativa forças que até então estavam inertes em sua defesa.

Soma-se a isso a errônea decisão de boa parte das forças a compor a campanha “Fora Bolsonaro!” de atribuir ao calendário dos atos e à repressão pontual em algumas cidades o motivo da perda de seu fôlego, e não na forma de como trazer a energia destes atos para as ações cotidianas de trabalho de base e organização dos opositores em tornar o Impeachment uma grande pauta e atrair cada vez mais populares às ruas contra o governo. Como já nos provaram as lutas nas quais saímos vitoriosos desde 2013, é a capacidade da reivindicação ser levada como justa aos trabalhadores e conquistar deles o apoio e de suas vanguardas para lutar por elas que garante a vitória, seja quais forem os métodos táticos a serem empregados. Tal brecha no calendário permitiu a Bolsonaro recompor forças, contra atacar e rearticular sua base mais fiel, trazendo com ela outras frações de bolsonaristas que até então estavam intimidados com o nosso movimento e coagidos a ficarem retidos diante da força de nossas mobilizações.

Camaradas, é com o otimismo da vontade que invoco o pessimismo da razão. Invertendo aqui a famosa citação de Antônio Gramsci, um verdadeiro mestre da classe trabalhadora. O nosso fôlego adquirido durante estas últimas manifestações está ameaçado.

Que os camaradas me perdoem o tom alarmista de meu escrito comparado aos demais escritos passados. Sei que o cotidiano é demasiado penoso para muitos de nós que precisam sobreviver a uma conjuntura de carestia geral, desemprego, inflação, pandemia, ofensiva golpista e vacilação de toda a ordem possível daqueles que deveriam representar a nossa classe. Mas se a situação não se apresentasse grave, o alarmismo seria deixado de lado. Há de ceder parte de nossas vidas particulares neste momento para que o esmagamento de nosso movimento não triunfe. É compreensível que tenhamos pouco tempo em nosso cotidiano para nos dedicarmos à militância e à mobilização, mas dentro desta restrição, que seja o tempo mais produtivo, o mais bem aproveitado, aquele que permita avançar na consciência e na organização e mobilização coletiva de nossa classe. Esse senso de urgência precisa estar combinado a um senso de responsabilidade para que os camaradas e companheiros compreendam as suas tarefas diante da luta como um todo e que tenham um planejamento científico de sua distribuição e execução para além de ações que geram prestigio imediato. Repito, que não seja confundido com o martírio, mas não dá para ficar alienado diante de fatos tão gritantes a cada vez mais apertar o cerco sobre nós.

Compreender nosso papel e entender que não dá para se escorar em armas alheias. Essa ilusão com as centrais sindicais e partidos da natureza do PDT, PSB e mesmo o PT de colocar o grosso de sua capacidade para arrastar gente (sobretudo a do PT) nas ruas em cidades onde haverá os atos mais fortes de apoio ao presidente – Brasília e São Paulo – essa eu não alimento. Estamos já testemunhando isso nas nossas até aqui frustradas iniciativas de erguer uma greve geral. Não por julgar necessária a sua somatória nas lutas, por mais divergências que tenhamos com eles, mas justamente por estas divergências estarem respaldadas em sua prática cotidiana de subestimar o inimigo e apostar tudo numa mera acumulação de forças para o pleito eleitoral, fingindo não entender a gravidade da situação. As bases populares que ainda alimentam ilusões com tais forças precisam se desvincular delas, romper com elas sob a força do exemplo das forças classistas, para que realmente se empregue a organização coletiva e permanente de nossa classe a partir das bases e delas se organizar em todos os aspectos da vida social sob a direção de um partido revolucionário. Só os comunistas podem oferecer essa vanguarda consequente, sem vanguardismos e sem princípios autoproclamatórios.

Não há margem para erro, não é hora de ficar se lamentando se poderíamos estar em condições melhores de combate do que gostaríamos de estar, com entidades estudantis, sindicatos, movimentos sociais e partidos classistas mais fortalecidos. Mas é preciso empregar com toda a eficácia possível as forças acumuladas até aqui, nas condições em que de fato estamos. Estamos sendo lançados ao combate com as armas que temos hoje. Trata-se de saber empregá-las com as táticas mais acertadas, com as execuções operacionais mais precisas e com rigor tanto nas pequenas como nas grandes coisas, sem perder a ternura e a camaradagem necessária para tornar nosso partido a rocha necessária em sua unidade de ação.

Essa batalha será decisiva, pois o vencedor dela terá mais margem de manobra para impor sua estratégia daí em diante, e o derrotado terá sua estratégia abalada e estará mais sujeito a mais derrotas que na atualidade. É nisso que consiste o nosso perigo.

Camaradas, eis as nossas tarefas:

1. Colocar nos espaços de atuação em conjunto com as demais forças envolvidas na campanha “Fora Bolsonaro!” o senso de urgência e de responsabilidade necessários para as colocar em um movimento enérgico de sua construção e delas extrair toda a força disponível na convocação e nas ruas. Com um conteúdo que não apenas capacite os simpatizantes ativos, mas sobretudo tire os passivos de sua inércia e os coloque nas ruas também com igual força de ação.

2. Para todos os locais onde estes atos sejam realizados, mas sobretudo no Distrito Federal e na Grande SP, que façam o máximo de esforços não somente para colocar toda a militância disponível, mas para arrastar consigo os recrutados, os simpatizantes e os amigos de simpatizantes. Que em nossos círculos de convivência em seus locais de estudo, de moradia e nos locais de trabalho, realizemos a propaganda necessária para trazer os opositores, seja qual for a orientação política que venham a ter, mas desde que sejam contra Bolsonaro. Em cada espaço haverá uma forma diferente de atuar diante dessa massa, mas é de massa na rua que precisamos neste exato momento. Estes atos precisam ser, aos olhos de toda a população, até diante do mais fanático e religioso bolsonarista, maior que as suas mobilizações.

3. Que os atos demonstrem força, que haja palavras de ordem que realmente mobilizem e engajem as massas colocadas em movimento em nossa incursão. E que não sejam fechados para si mesmos. O maior risco interno é achar (literalmente achar, como os vacilantes gostam de demonstrar) que basta a vanguarda estar nas ruas que estará tudo resolvido. Errado! Mil vezes errado! Precisamos que nossos blocos sejam “abertos” no sentido em que sejam convidativos aos opositores do governo sem recuar em nenhum de nossos principios, que eles sintam a nossa convicção e vejam que os princípios de nossas reivindicações estão muito mais lastreados na realidade que das suas anteriores e atuais posições políticas. O material a ser distribuído antes, durante e depois desta mobilização deve estar em complemento a tal cooptação, e não voltados apenas a si mesmos, isso vale para toda a agitação.

4. E o mais importante das tarefas. Se as demais orientações servem para solidificar a rocha necessária que as forças colocadas em macha precisam demonstrar sem um pingo de vacilo, o PCB conquistou nestes últimos atos um prestigio maior perante as demais forças ao apresentar sua unidade de ação mesmo nas situações mais adversas. Contudo, é preciso dentro da defesa de nossa posição, um pouco mais de ousadia frente aos ataques. A probabilidade de repressão é muito grande e terá altas probabilidades de não ser aquela repressão clássica de manifestações corriqueiras a lá 2013, mas de pontuais, cirúrgicas, com claro propósito de abalar a nossa moral, de dividir nossas forças e gerar medo e dispersão em nossas fileiras.

A mente vai precisar estar fria e plena, disciplinada e convicta, por mais quente que nossos corações estejam com toda essa cadeia de eventos a nos empurrar para um inevitável combate. Não é hora de ter medo das mais covardes e ridículas provocações bolsonaristas. Precisam temer muito mais a própria inércia diante da conjuntura e o seu impacto em todo o movimento dos trabalhadores.

Conseguimos defender relativamente bem as nossas posições, camaradas, diante da sua implacável ofensiva. Para compreender um pouco melhor a situação, guardadas as devidas proporções, irei empregar aqui uma analogia da frente leste da Segunda Guerra Mundial: Bolsonaro avançava implacavelmente sobre as instituições, por mais que a “oposição“ burguesa tenha dito que as instituições funcionavam como contrapesos à sua ofensiva golpista (o Reino Unido e suas tímidas incursões aéreas e terrestres na frente oeste e sul). Contudo, sua ofensiva contra os trabalhadores avançou com muito mais força até bater as portas de Moscou. Essas “portas de Moscou” foram defendidas nos atos de ruas puxados em maio que corretamente deram vazão a toda a revolta geral da grande maioria da população brasileira com a atual conjuntura e o governo. Mas bastou uma leve diminuição do ritmo dos grandes atos que ele voltou à ofensiva e, agora, ao colher vitórias políticas que serviram como acúmulo de força, avança sobre Stalingrado para sufocar e obter uma vitória de importância estratégica.

No combate ao governo Bolsonaro/Mourão, camaradas e companheiros, chegamos em nossa Stalingrado. Onde queremos estar e em que posição estaremos depois que este dia passar?

Não falhemos com a nossa classe, camaradas.

São Leopoldo, 28 de Agosto de 2021.

H. Suricatto – Militante do PCB-RS

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